História do Uso do Cinema
Por: Lidieisa • 23/1/2018 • 9.645 Palavras (39 Páginas) • 460 Visualizações
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No quinto capitulo, que se chama ‘Propaganda politica pró aliados durante a II Guerra Mundial’, buscarei, de forma similar ao capitulo dedicado a Alemanha nazista, dissertar sobre as produções cinematográficas contemporâneas a II Guerra que cotinham algum tipo de propaganda aliada. Trataremos do aspecto geral do cinema de propaganda nesse contexto social, e utilizaremos como exemplos alguns dos mais notáveis filmes do período, como ‘The Great Dictator’, longa-metragem em preto e branco lançado em 1940 e dirigido por Charlie Chaplin. Neste capitulo, procuraremos também contrapor as similaridades e diferenças gerais entres as produções cinematográficas d epropaganda realizadas nos países aliados, com aquelas produzidas na Alemanha nazista e já tratadas no quarto capitulo deste trabalho monográfico.
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2- Sobre o filme enquanto documento histórico
Por que devemos examinar filmes enquanto fontes históricas? Devemos seguir uma metodologia específica ao analisar filmes enquanto historiadores? O filme pode ser seriamente tratado como uma fonte de História? Ao iniciarmos a confecção de um trabalho relacionado a História e Cinema, podemos quase que instantaneamente sermos levados a nos questionar por uma série de perguntas relacionadas a como um produção cinematográfica pode ser usada como documento histórico, sendo que uma série de respostas igualmente complexas podem responder a tais questionamentos.
A priori, verificando as publicações acadêmicas de História, podemos perceber que o filme ainda é relativamente muito pouco utilizado por estudiosos da área, há razões para que tal fato mude, ainda mais se levarmos em consideração que o filme foi uma das expressões de comunicação mais populares ao longo do século XX. Sobre essa marginalização do filme na pesquisa histórica, Marc Ferro escreveu: “O Filme será um documento indesejável para o historiador? Em breve centenário, porém ignorado, não é sequer classificado entre as fontes recusadas apesar de lembradas. Não faz parte do universo mental do historiador” (FERRO, 2015). Ademais, este mesmo autor utiliza um interessante argumento para explicar parcialmente o relativo desinteresse pelo filme dentro da ciência histórica: “O cinema não tinha nascido quando a história adquiriu seus hábitos, aperfeiçoou seu método, cessou de narrar para explicar” (FERRO, 2015). Ainda é importante ressaltarmos que no período temporal analisado neste trabalho (1937-1945), as produções cinematográficas ainda correspondiam a uma forma de comunicação relativamente recente, sendo que o surgimento do primeiro equipamento de imagens animadas se deu em 1895[1], no entanto as primeiras produções cinematográficas não eram sonoras, de modo que o primeiro filme caracterizado por emitir sons é ‘The Jazz Singer’, datado de 1927 (WEBCINE, 2015).
Devemos analisar o filme enquanto expressão social da sociedade que o realizou, sobre isso, Ana Maria Mauad diz que “(...) há que se pensar o cinema enquanto produto cultural, resultado de práticas sociais de representação” (MAUAD, 2009). A autora também assevera: “Trata-se assim de investigar as formas visuais do cinema, os regimes de realização e autoria, os públicos e a recepção do cinema, as instituições promotoras da produção (...), as representações sociais e a repercussão política e ideológica das imagens em movimento (...)” (MAUAD, 2009).
Ao nos debruçarmos na internet sobre o tema da propaganda política – seja ela nazista ou pró aliados – durante a II Guerra Mundial, podemos conhecer vasta bibliografia dedicada ao o tema, disponível no meio virtual.
No livro “Ministry of Illusion: Nazi Cinema and Its Afterlife”, escrito pelo professor da Universidade de Havard Eric Rentschler, o autor dedica cada capitulo para transcorrer sobre um importante filme calcado na ideologia nazista, Rentschler fala, por exemplo sobre dois proeminentes exemplares do cinema de propaganda nazista, intitulados “Olimpíadas e Mocidade Olímpica - Parte 1 Festa das Nações” e “Olimpíadas e Mocidade Olímpica - Parte 2: Festa da Beleza” , ambos lançados em 1938. São dois documentários escritos, dirigidos e produzidos por Leni Riefenstahl, documentando os Jogos Olímpicos de Verão de 1936, realizados em Berlim, na Alemanha. Do ponto de vista técnico, esses filmes são vistos por especialistas como notáveis no que diz respeito ao uso de técnicas que mais tarde se tornaram padrões da indústria cinematográfica, mas que foram pioneiras na época. Riefenstahl filmou um documentário que celebra o corpo humano, combinando imagens de corpos em movimento com closes de atletas durante as provas da competição (RENTSCHLER, 2015). O autor também fala sobre produções cinematográficas como “A Luz Azul”, “Mocidade Heróica” e “O Filho Pródigo”.[2]
O livro de Eric Rentschler trata-se de uma massiva documentação sobre o cinema de propaganda produzido na Alemanha nazista. Além disso, o autor também apresenta uma lista contendo um resumo de todos os filmes produzidos pelo III Reich, que alcançaram a marca de 1.084 - mil e oitenta e quatro filmes - lançados no cinema no período da II Guera Mundial. No entanto a lista apresentada por Rentschler no anexo A do livro indica apenas algumas das produções mais importantes, juntamente com os respectivos diretores, estúdios e datas de lançamento.
No decorrer do livro de Rentschler podemos notar o papel de destaque que a figura de Joseph Goebbels, o Ministro da propaganda do Terceiro Reich, possui na obra. Rentschler chega inclusive a citar de modo amplo, um discurso proferido por Goebbels em 1933.
Ademais, apesar de sua natureza ficcional – excetuando-se em parte os documentários – que poderia servir como um argumento não favorável do uso de filmes enquanto documentos históricos, acreditamos que os filmes podem servir como uma estrada para o contexto real no qual foi produzido, de modo que os idealizadores e realizadores destas narrativas ficcionais são, como se diz na expressão popular, filhos de seu tempo. Sendo então influenciados pela realidade espaço-temporal em que estão inseridos. Porém, na confecção deste trabalho não ignoramos que o filme usa funções e eventos fictícios para compor sua narrativa, além de pontos de vista pessoais – ou mesmo politicamente ideológicos, como no caso específico das produções que trataremos mais adiante neste trabalho.
Penso que podemos basicamente entrar em contato direto com aquilo que não é o passado propriamente dito, mas sim com o que ainda é palpável - as
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