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O Cinema Independente e o Fenômeno "Pulp Fiction"

Por:   •  26/10/2017  •  3.491 Palavras (14 Páginas)  •  512 Visualizações

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O elenco convocado para o filme não era o “time dos sonhos” que a Miramax imaginava. O cast contava com John Travolta, Samuel L. Jackson, Uma Thurman, Bruce Willis, Tim Roth, Harvey Keitel, Cristopher Walken entre outros. John Travolta estava em uma fase decadente depois do fiasco do filme “Olha Quem Está Falando”, e aceitou fazer o papel de Vincent Vega em “Pulp Fiction” por um pouco mais de 100 mil dólares. Os atores Samuel L. Jackson e Bruce Willis também não viviam a melhor fase de suas carreiras. Uma Thurman era praticamente uma desconhecida na época. Através do filme, esses atores foram consagrados entre o grande público de uma maneira orgânica, quase como se já estivessem lá.

O filme abriu diversas portas para produções inovadoras. Muitos críticos acreditam que é possível dividir o cinema independente em antes e depois de “Pulp Fiction”. Não existe mais o mocinho e o vilão, todos os personagens, com exceção de Butch, têm seus momentos bons e ruins na trama. Cada personagem é aprofundado em diferentes nuances do filme, onde o protagonista e os coadjuvantes variam de acordo com a história que está sendo contata. Assim, Tarantino conseguiu transformar as atuações em memoráveis cenas que se transformaram em ícones da cultura pop.

Segundo um artigo divulgado pelo Jornal New York Times em 1997, escrita por Janet Maslin, após o lançamento de “Pulp Fiction”, começaram a existir dois caminhos diferentes para o sucesso: pelo cinema alternativo ou pelo mainstream. Assim como para diretores, atores e atrizes também começaram a enxergar nos filmes independentes saídas para alavancar suas carreiras. Segundo Maslin, Hollywood gasta muito do seu talento fazendo pilotos de filmes sem conteúdo, onde nos primeiros cinco minutos é possível entender tudo o que será visto daí pra frente. Para ela, existe um sentimento de “deja vu” entre o que é oferecido ao público e a forma como as histórias são contadas ou expostas.

É nesse ambiente que o cinema independente começou a crescer. Podendo correr mais riscos, diretores como Quentin Tarantino ganharam espaço com produções de baixo custo mas com um nível alto de experimentação e criatividade. O modo como “Pulp Fiction” chocou os críticos foi avassalador porque ninguém esperava uma produção daquela magnitude, não em termos de orçamento, mas sim em relação ao grau de experimentação técnica e artística que o filme se propunha a trazer. Em seu artigo, Janet Maslin comenta que o panorama que se sucedeu foi uma abertura no ambiente cinematográfico, onde a possibilidade de sucesso era vista em qualquer lugar.

A autora acredita que filmes como “The Full Monty”, lançado em 1997, foram um sucesso do cinema independente porque haviam conseguido trazer algo novo com apenas talento e experimentação, contando histórias engraçadas da vida humana com um toque de amor e comédia. Porém, para ela são as produções híbridas que têm mais chances de ganhar uma fatia do bolo e fazer parte do mainstream. Filmes como “Jerry Maguire” e “The People Vs Larry Flynt”, ambos de 1996, são produções que estão no meio termo e alcançaram sucesso de bilheteria.

Nada disso seria possível sem o gancho deixado pela produção de Tarantino. Segundo o jornalista Lynn Hirschberg, em um entrevista feita com o diretor publicada no mesmo caderno do New York Times, em 1997, a película foi um marco no sentido comercial e crítico, e estabeleceu a Miramax como um estúdio independente de credibilidade. Na entrevista, Quentin Tarantino comenta que “Pulp Fiction” foi como um divisor de águas, onde ele conseguiu provar o seu ponto de vista mostrando que não é necessário convocar estrelas como Tom Cruise ou Tom Hanks para conseguir que seu filme sejam um hit de sucesso.

Com sua experiência vivida em “Reservoir Dogs”, sua primeira produção e considerada uma das entradas mais icônicas de um diretor no mundo do cinema, Tarantino já era conhecido em diferentes mercados cinematográficos. Seu primeiro filme também continha todos os elementos experimentais de “Pulp Fiction”: roteiro não-linear, trilha sonora bem encaixada e fortes referências a cultura pop. O filme foi um sucesso de bilheteria e considerado pela Revista Empire como “Melhor Filme Independente já feito”. Com o sucesso de “Pulp Fiction”, o filme ganhou mais notoriedade e é visto por muitos críticos como uma pérola do cinema cult.

Através desse background, o público já tinha grandes expectativas sobre como seriam as próximas produções de Tarantino. Na entrevista feita pelo jornalista Hirschberg para o New York Times, o diretor comenta que por causa de “Reservoir Dogs” as pessoas já sabiam quem ele era e como trabalhava. Em um momento chamado pelo diretor de “noite da liberdade”, “Pulp Fiction” foi exibido em Tokyo e aclamado em uma noite que mais se parecia com um show de rock do que uma exibição de um filme. Apesar disso, Tarantino acredita que isso não influenciou de modo significativo a aceitação do filme ou o seu sucesso, apenas o deixou mais famoso.

“Pulp Fiction” foi escrito originalmente para ser produzido pela Tri-Star, da Columbia Pictures, porém, devido ao medo de que a produção fosse um fiasco – seja por causa do elenco (considerado decadente na época) ou pelo grau de experimentação – não aceitaram o projeto como ele foi concebido. Na entrevista, Tarantino conta para Hirschberg que Harvey Weinstein, da Miramax, leu a história e captou o “feeling” na mesma hora. Segundo o cineasta, existia a chance dos estúdios não quererem produzir o filme, mas se isso acontecesse, seria a Tri-Star que abraçaria a ideia. Além do estúdio já ter pago pagado pelo script, o custo era muito baixo.

Após o sucesso do filme, Tarantino acredita que a Miramax chegou ao topo da hierarquia do mundo do cinema. Na época, muito se falava sobre qual a intenção do estúdio produzindo um filme que podia ser classificado como um “filme de arte”. “Pulp Fiction” e “The Specialist” dividiam as salas de cinema durante o ano de 1994, o primeiro estava em 1,100 cinemas e o outro em 2,300 cinemas. Na primeira semana, “Pulp Fiction” liderou em números significativos a bilheteria, porém, foi na segunda semana que a diferença ficou evidente. Para Tarantino, os grandes estúdios não aceitaram muito bem o efeito que o filme teve no mainstream, um intruso nunca havia chegado tão longe até então.

Em um artigo publicado pelo New York Times em 1995, Geoffrey O’Brien discute sobre a nova relação que se estabeleceu entre os produtores de filmes e a audiência. Depois de tantos óbvios temas explorados incansavelmente, diretores começaram a entender e acreditar

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