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Eva Perón e o discurso para as mulheres trabalhadoras na construção do peronismo na Argentina

Por:   •  21/12/2018  •  2.601 Palavras (11 Páginas)  •  455 Visualizações

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Um novo golpe militar depõe o Presidente Ramon Castillo em 1943. A partir desse ano, a figura de Juan Perón surgia com força na política da Argentina, e desde então já se destacava como Ministro do Trabalho e da Previdência Social, atraindo apoio de sindicatos. Ele teve grande importância na intervenção das relações trabalhistas no período em que ocupou o cargo e como consequência trouxe os trabalhadores para o lado do Governo Militar[11].

A política econômica peronista era intervencionista, de promoção da industrialização, nacionalização de diversos setores da economia, com um foco claro na realização de políticas sociais que melhoraram substancialmente a condição de vida dos trabalhadores locais. No seu primeiro mandato, entre 1946 e 1949, firma acordos coletivos com os sindicatos assegurados por lei, como aumento de salários e ampliação de benefícios (férias remuneradas, licença por doença, sistema social de saúde e turismo)[12].

Todas essas negociações e concessões por parte de Perón tinham um custo, que era sua postura autoritária diante dos trabalhadores em troca desses benefícios sociais. Além disso, ainda se utilizava da perseguição política a opositores, assim como do discurso da ameaça comunista para a manutenção dessa ordem autoritária dentro da política nacional.

Ainda como ministro fez inimigos dentro do regime, e em 9 de outubro de 1945 é deposto de seu cargo no governo. No entanto volta dias depois, no 17 de outubro, depois de uma grande mobilização popular levada por líderes sindicais pedindo sua candidatura à presidência. Cada vez mais a classe operária reforçava e dava legitimidade a seu compromisso com Perón[13].

Para os sindicalistas o caminho de retrocesso na política trabalhista não era aceitável. Nesse momento há o reconhecimento dos benefícios sociais promovidos por Perón na Secretaria do Trabalho e os representantes dos trabalhadores mostravam-se dispostos a aceitar a assistência do Estado, não importando sua origem, para conseguir resultados positivos das suas reivindicações[14].

Além disso, a volta triunfante de Perón no 17 de outrubro, com fala na Plaza de Mayo para uma massa de trabalhadores, basicamente confirmou sua ida à presidência da Argentina e seu apoio de massas pelos trabalhadores do país. Esse dia é um marco no peronismo, pois junto a um crescimento do sentimento de identificação nacional entre os trabalhadores e da sua confiança no dirigente, há também a confirmação de um inegável poder que Perón passou a ter também, a partir de então, sobre os militares[15].

Evita e o Peronismo

María Eva Duarte, posteriormente conhecida como Eva Perón, ou Evita, iniciou bem jovem sua trajetória no campo da assistência social, quando em 1944 participa do festival de solidariedade aos afetados pelo terremoto de San Juan, em Buenos Aires. Aí conhece o Coronel Juan Perón, que no momento está à frente da Secretaria do Trabalho e Previdência Social.

Após a eleição de Perón à Presidência, Evita oferece seu apoio e colaboração com o Governo e a partir daí passa a cumprir importantes funções na gestão da Presidência do marido. Tem apenas 27 anos e Perón delega a ela o contato direto com os trabalhadores. Assim, consegue a legitimidade necessária para cumprir suas atividades[16].

Seu contato estreito com a CGT – La Confederación General del Trabajo, central sindical histórica da Argentina, com os operários, sua extrema preocupação e dedicação às necessidades dessas pessoas mostram um talento no trato com a classe trabalhadora e popular. Além dessa aproximação com a classe trabalhadora, Eva Perón também cumpre tarefas de representação do Governo em viagens internacionais, junto da colaboração ativa na política social do governo, através da Fundação Eva Perón, a partir da qual realiza trabalhos essencialmente assistencialistas, como construção de hospitais, hotéis, colônias de férias, bairros operários, lares para idosos e “hogares de tránsito”, para pessoas que necessitam resolver coisas em Buenos Aires, mas não têm onde ficar[17], entre outras coisas.

Evita ficou conhecida como uma grande oradora e comunicadora. Seus discursos ficaram famosos e reverberaram nos mais diversos âmbitos da sociedade argentina. Não à toa, portanto, passou a realizar essas tarefas públicas, já que entre um discurso aqui e um projeto social ali, ela consolidava e disseminava, também, todas as ideias e concepções do Peronismo por onde passava.

Sem dúvidas seu potencial articulador foi essencial para mobilizar uma classe massificada em torno da ideologia peronista e manter essa população próxima e apoiando o governo, mesmo Perón sendo muitas vezes autoritário e controverso. Dessa forma, não podia deixar de ser diferente a relação de Eva como figura feminina representativa, principalmente no início do primeiro mandato de Perón, quando efervescia o debate sobre o Sufrágio Feminino na sociedade argentina.

Evita e seus discursos para as mulheres – o Partido Peronista Feminino

O interesse do governo peronista na ampliação dos direitos da população, incluindo o sufrágio feminino, era enorme, já que a incorporação das mulheres na vida política do país fazia parte de uma estratégia de ampliação das bases de sustentação desse governo, com a intenção de incluir setores marginalizados historicamente. A posição de Eva Perón como liderança feminina foi consolidada a partir da campanha a favor do voto das mulheres, no entanto durante sua campanha, ela exclui o histórico de lutas de grupos feministas e sufragistas anteriores a ela.

É necessário ter em mente que essa luta histórica sempre foi muito importante para manter a pressão no Estado para que o assunto nunca saísse de pauta no espaço público. Infelizmente, continua no imaginário popular, tanto entre peronistas como anti-peronistas, a ideia de que Eva foi a grande impulsionadora dessa conquista[18].

Ao longo do primeiro mandato de Juan Perón surge o Partido Peronista Feminino, em 1949, como uma colateral do movimento de mulheres do partido Judicialista, e do qual Eva Perón passa a ser líder. Esse movimento de mulheres faz parte dos projetos de caráter assistencialistas e de inclusão de minorias, dos quais o público feminino e de trabalhadores estarão como foco principais[19].

Uma característica importante do discurso desenvolvido por Evita é a exaltação de um imaginário ideal da função da mulher nas esferas público e privadas, e que será chamada de “obrigações sagradas”[20].

Cada

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