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Dos Arranjos familiares e o papel da mulher

Por:   •  5/11/2018  •  2.003 Palavras (9 Páginas)  •  350 Visualizações

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acumular capital estrutural e capital humano.

Podemos analisar que a intensa estratificação da sociedade mineratória do Sec. XVIII ecoava diretamente na cultura escrita e posterior leitura. Poucos eram, portanto, letrados. Os negros, com rara exceção, eram alfabetizados, pois, definitivamente, poderiam usar desta disposição para gerar lucros ao seu senhor. Fugia-se deste determinismo casos como o de Cosme Teixeira Pinto de Lacerda, escravo que usou desta notória habilidade para pedir intervenção as negociações escravagistas. Contudo, brancos e livres eram majoritariamente detentores da capacidade de ler, escrever e adquirir livros.

Tais sujeitos brancos e livres usavam a cultura literária de forma majoritária para o uso prático de sua profissão. Usavam-na para a construção de seus documentos notariais, como inventários e afins. Depositavam seus livros em recintos pessoais, classificados como parte das bibliotecas da capitania. Sobrava-se espaço, além disso, para a religião ou para as florescentes Ciências Naturais. Contudo, grande parte do que chegava à capitania sofria por enorme censura, a fim de evitar inconvenientes ao establishment advindos de teorias de cunho iluminista, que, sem dúvida, eram profanas, ou, de certa forma, ilícitas ao cidadão de bem. Existia, além das bibliotecas pessoais, espaços nas instituições de ensino.

Para toda regra, como a censura aos ideais iluministas, há uma exceção. Tais como os poetas inconfidentes das Minas Gerais: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Inácio José de Alvarenga Peixoto. Convivendo juntos, os três poetas inspirados pelos novos ares, na transição do Barroco para o Arcadismonota, usavam da arte poética para transmitir sua revolta ao Estado português.  

As festividades cotidianas e as Ordens Terceiras como um marco da religiosidade, da sociabilidade e do estabelecimento social

Das festas eclesiásticas ou da passagem da vida para a morte, o Homem das Minas Gerais no séc. XVII estava sob as profundas raízes do Barroco. Como analisa a professora Laura de Mello e Souza, as celebrações eram profundamente ideológicas e visavam, em suma, manifestar os traços culturais e, até mesmo, impor certos mecanismos de controle social. Elas também mostravam a ligação com a metrópole portuguesa, uma vez que diversos valores e métodos de realização eram compartilhados com a colônia, com respectivas adaptações.

Quanto as festas, pode-se subdividi-las em duas: Eclesiásticas e Monárquicas. os festejos eram realizados sob a perspectiva de adoração e profundo culto ao divino. Nas monárquicas se celebrava, em resumo, o post mortem e, com isso, a presença implícita de um regente, o que demonstra um certo tom de controle tácito à colônia. Celebrava-se, além disso, os diversos marcos de um ciclo da vida comum, como aniversários, etc.

Tais celebrações se iniciam nas atividades realizadas nas Irmandades, em que, como característica fundamental, os sujeitos tinham seu espaço, evidentemente delimitado de acordo com sua ordem. Posteriormente, com auxílio da Monarquia, ampla parte das festas transferiram-se para as Igrejas, essas que carregavam consigo, de forma intensa, uma demonstração de poder e subsequentemente ainda maior estratificação social.

Compreender religiosidade nas minas é partir os estudos por meio das Irmandades. Para isso, partindo do axioma da História Social e Religiosa, Boschi aborda questões que ecoam nas diversas interações e associações humanas. Para tal, inicia-se sua análise nas emergentes e dinâmicas irmandades das Minas Setecentistas.

Dado início a exploração das terras na região de Minas, nos fins do século XVII, no que posteriormente se tornaria a capitania de Minas Gerais, gerou, nessas nascentes comunidades, o anseio por segurança e estabilidade. Como de praxe no comportamento humano, os Homens se socorreram na fé.

Assim como o Estado, a Igreja Católica foi passiva às novas dinâmicas sociais. Ademais, a Coroa limitou a ação da Igreja na Capitania, porém, como já podia ser esperada a fé presente na mentalidade da população, se fez presente a fé e os seus meios de concretude, e foi por essa necessidade que vários grupos de fiéis leigos no assunto - pois não possuíam um conhecimento profundo da teologia – fundaram irmandades com o intuito de ensinar “O modo de vida cristão”. Isto é, coube aos leigos cuidar da implementação pragmática e cotidiana da religiosidade.

Em sua obra, o autor afirma categoricamente que, nas Minas Gerais do século XVIII, religiosidade e sociabilidade se tangenciam constantemente. Não obstante, Boschi demonstrou que as cerimonias foram - e ainda são-, meios para a convivência, i.e., com as limitações impostas pela Coroa à Igreja, foi-se necessária a edificação de novos locais sociais e simbólicos. O autor ressalta que, desde o início, as irmandades logo tornaram-se força complementar e sucedânea da Igreja Católica. Trouxeram para si uma carga imensa da religiosidade comunitária. Em suma, religiosidade e sociabilidade exercidas nesses grêmios de associação não devem ser compreendidas como transferências institucionais, da Igreja às irmandades, mas como parte singular dessa cultura, com finalidades e métodos definidos. As irmandades detinham a função nuclear de promoção das sociabilidades coloniais mineiras.

O autor relata que as invocações e os cultos surgiram com a associação e Interesses de caráter temporal, intimista e, principalmente, de relações étnicas e raciais. Em suma, tornasse imprescindível a compreensão de que as irmandades eram um espaço de coesão grupal. De forma nítida, podemos assistir as irmandades negras, cuja população escrava era maioria nas Minas.

Deve-se, além disso, compreender o papel da Inquisição. De antemão, precisa-se notar a fundação do Santo Ofício; tal empreendimento, cuja raiz foi plantada após o encontro de Verona, em 1184, e, de fato, implantada a partir do Século XIII, visava combater, julgando e punindo, todo tipo de heresia e transgressão ao catolicismo.

Na colônia, em suma, não houve implantação dos tribunais de ofício. Ainda que extenso o território brasileiro explorado em época, a Inquisição se fazia presente, de fato, através das visitas de comissários do santo oficio, a partir das requisições feitas por denúncias que eram enviadas à Metrópole, para o auto-de-fé em Lisboa.

Quanto às denúncias e como eram realizadas, existiam na sociedade mineira os chamados “familiares”, que nada mais eram do que espiões que relatavam tudo o que observavam de

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