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A Mulher em Atenas

Por:   •  26/3/2018  •  Artigo  •  1.524 Palavras (7 Páginas)  •  294 Visualizações

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A mulher em Atenas: elemento de manutenção e continuidade da pólis

Lisístrata, de Aristófanes

Aristófanes, dramaturgo grego e principal representante da comédia antiga, nasceu em

Atenas por volta de 447 a. C. Apesar das poucas informações, em função da escassez de

documentos, referentes à sua vida, é possível imaginar, a partir de suas obras, que Aristófanes,

muito provavelmente, tenha nascido numa família aristocrática e tido acesso a uma educação

de excelência. Viveu grande parte da sua vida no período conhecido como “Século de

Péricles”, quando Atenas vivenciou um enorme crescimento nas esferas econômicas, políticas

e culturais. No entanto, também pôde presenciar o início do fim de Atenas, com os

acontecimentos iniciais da Guerra do Peloponeso – que acabou arruinando a pólis -, bem

como com o papel nocivo dos demagogos na condução da cidade-estado até a sua destruição,

fato que acabou sendo refletido em suas obras, sobretudo na obra aqui estudada, Greve do

Sexo ou Lisístrata. Aristófanes faleceu em Atenas por volta do ano de 380 a.C.

Em Lisístrata, comédia encenada por volta de 411 a.C., as mulheres, lideradas pela

ateniense Lisístrata, se reúnem a fim de discutir métodos para pôr fim à guerra fratricida

(Guerra do Peloponeso) entre os gregos, que separa os homens de suas famílias, em função

das constantes obrigações militares. Visando alcançar a paz, seu objetivo final, Lisístrata

propõe duas ações para a sequência de seu plano, sendo elas: a tomada da Acrópole, a fim de

privar os homens dos recursos financeiros que pudessem dar sequência à guerra, e a

realização de uma greve de sexo, não só por parte das atenienses, mas também das demais

mulheres gregas. Num jogo constante entre o poder político, exercido agora pelas mulheres

com a tomada da Acrópole, assim como o elemento sexual, a partir da greve de sexo, o enredo

é conduzido até o desfecho final e desejado: a paz – que adquire mais de um significado no

decorrer da trama.

A escolha de Aristófanes pelas mulheres como protagonistas do enredo central da

comédia, bem como do elemento de abstinência sexual para fins pacíficos e políticos,

encontra legitimidade não só na vertente literária que o autor se propõe a escrever, mas

também no contexto social em que viveu, bem como as suas respectivas tradições. Como já

foi comentado no início deste texto, é sabido que Aristófanes viveu durante o “Século de

Péricles”, período de consolidação da democracia ateniense, que acabou sendo acompanhada

pela institucionalização do teatro, sendo que este último resultava na constante reafirmação da

hegemonia política de Atenas e dizia respeito a questões pertinentes aos assuntos internos da

pólis. Assim, Aristófanes encontrou nas festividades em homenagem ao deus Dionísio e nos

grandes teatros um terreno fértil para a produção e reprodução de suas comédias, sempre

visando uma demonstração, ainda que velada, dos distúrbios da sociedade de seu tempo. Isso

fica perceptível na comédia Lisístrata, quando o autor, numa clara crítica à guerra, usa em sua

trama mulheres que, independente da região, fossem de Esparta ou de Atenas, da Beócia ou

de Corinto, aliam-se em prol de um objetivo maior, deixando de lado as intrigas entre suas

respectivas cidades-estados, fazendo assim um apelo à união de todos os gregos e da sua

consequente paz como ferramenta essencial na constante luta contra os bárbaros – luta essa

que seria um fator significativo para a união (e preocupação) dos povos helênicos.

No entanto, a comédia aristofânica nos revela ainda um outro fator importante para a

escolha das mulheres como protagonistas de sua trama. Por se tratar de uma comédia, a obra

de Aristófanes não poderia deixar de lado a subversão cômica, característica marcante desse

estilo literário. E é justo nesse contexto cômico e absurdo que o autor insere as mulheres no

enredo de sua peça. Ao contrário do padrão definido pela sociedade ateniense, em Lisístrata,

são as mulheres que assumem os papeis de liderança e figuram em um nível de superioridade

em relação aos homens, o que, para a sociedade ateniense, é algo que foge totalmente do

imaginário, algo inconcebível. Assim, o protagonismo feminino na peça de Aristófanes fora

utilizado de forma debochada, apenas com o intuito de garantir o riso - já que as supostas

causadoras de problemas, agora, propunham a paz 1 - e não para servir como demonstração ou

apelo à emancipação das mulheres, já que o autor compartilhava da mesma concepção de seus

contemporâneos sobre o papel feminino na sociedade. Portanto, a Lisístrata, além do apelo

1 ALVES, Nathaly Felipe Ferreira. Comédia Grega em foco. 2009. Acessado em: 25/10/2017. Disponível em:

https://movimentoculturalgaia.wordpress.com/2009/08/26/lisistrata-ou- a-greve- do-sexo/

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