A Compatibilidade entre o tráfico de escravos e o comércio do dendê no Daomé
Por: Anna Clara Fonseca • 6/4/2018 • Resenha • 672 Palavras (3 Páginas) • 393 Visualizações
História da África[pic 1]
Professora: Ynaê Lopes dos Santos
Aluna: Anna Clara de S. C. Fonseca
Texto: SOUMONNI, Elisée. A compatibilidade entre o tráfico de escravos e o comércio do dendê no Daomé, 1818-1858. In: Daomé e o mundo atlântico. Rio de Janeiro: UCAM/SEPHIS, 2001, pp. 61-79.
Elisée Soumonni é um historiador e arqueólogo beninense que escreve a obra Daomé e o mundo atlântico com o objetivo de estabelecer relações entre o grande exportador de escravos que era o Reino do Daomé com os continentes conectados pelo atlântico (África, América e Europa).
O texto em questão fala especificamente a respeito de como ocorreu a transferência do comércio de escravos para o comércio de produtos originários do azeite-de-dendê, considerado um comércio “legítimo”, no Reino do Daomé – situado onde hoje é Benim; e como o rei Gezo, que governou Daomé de 1818 a 1858, foi fundamental nesse processo.
Em um período onde o tráfico de escravos não competia com nenhum outro tipo de comércio no Reino de Daomé, governava o rei Adandonzan (que permaneceu no poder de 1787 a 1818), que era tido por muitos como um “Nero africano” – um rei que implantou um período de terror em todo o Daomé. Até que Gezo, apoiado por países estrangeiros e principalmente pelo traficante brasileiro de escravos Francisco Félix de Souza e pelos franceses, executa um golpe de Estado e ascende ao poder de forma irregular.
Dessa forma, os países estrangeiros – com exceção da Grã-Bretanha, que era contra ao comércio de escravos e fazia forte pressão a todo o reino de Daomé para o fim do tráfico – viram em Gezo uma segurança de que esse comércio continuaria acontecendo conforme seus interesses.
Todavia, o comércio do dendê ocorreu, conforme estudiosos como David Northrup e Patrick Manning, simultaneamente com o comércio de escravos nesse período; isto é, eles coexistiram. Até a década de 1830, ambos se expandiram da mesma maneira. É somente a partir de 1860 que os produtos que vinham do dendê começaram a ser predominantes e que a substituição começa a ocorrer.
O que determinou essa substituição foi, principalmente, a forte campanha dos britânicos que eram contra o tráfico de escravos (através de missões enviadas ao Daomé com o objetivo de convencer o rei Gezo, do bloqueio dos portos daomeanos para impedir esse comércio, etc.), que gerou uma queda na demanda de escravos, o investimento e o incentivo do rei Guezo aos produtos “legítimos” (transformando o dendezeiro em uma árvore sagrada e impedindo a derrubada e o kouzou, imposto monárquico sobre os produtos agrícolas, em uma dívida que poderia ser paga com azeite-de-dendê pelos cultivadores do mesmo, etc.) e o aumento da demanda de produtos do dendezeiro.
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