A Breve abordagem da representação da mulher em produções cinematográficas e de propaganda
Por: Hugo.bassi • 24/12/2018 • 1.796 Palavras (8 Páginas) • 481 Visualizações
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A representação da mulher em pinturas, filmes e na televisão foi, e é, voltada para o belo e com isso era/é cobrada a perfeição das modelos e atrizes. A representação feita pela indústria cinematográfica por exemplo, na perspectiva de Mônica Kornis, tem um grande valor ao historiador interessado em compreender as representações por esse meio de comunicação já que “o valor do filme para o historiador reside na sua capacidade de retratar uma cultura e dirigir-se a uma grande audiência na condição de meio de controle social e de transmissor da ideologia dominante da sociedade” (Kornis,1992 p.247). O cinema, antes um meio de difusão de ideias que atingia em sua maior parte pessoas de alta classe social, hoje consegue abranger um maior número de pessoas vindas de classes sociais distintas e sua relevância para a formação de opiniões e comportamentos deve ser considerada ao falarmos das representações que esse meio nos traz. A autora traz alguns questionamentos sobre o cinema que o historiador ao trabalhar com essa fonte deve fazer como: “[...]o que a imagem reflete? ela é a expressão da realidade ou é uma representação? qual o grau possível de manipulação da imagem?” (Kornis, 1992. p.237)
O homem continua sendo a figura principal no cinema. E não apenas na frente das câmeras, mas atrás delas também. Mulheres ainda são minoria nos bastidores das produções cinematográficas. Poucos são os filmes que trazem histórias protagonizadas por mulheres, estes ainda são uma pequena porcentagem de todos os filmes produzidos pela indústria. As mulheres são mal representadas na maior parte dos filmes, mostradas por meio de diversos tipos de estereótipos e padrões sociais que as oprimem.
Assim que o cinema começou a ser aceito como meio de comunicação em massa pela classe média americana, o modelo de mulher que agradou ao público dessa época era “tipificado por mulheres pequenas, femininas e quase infantis, mas com um espírito enérgico e ativo. ” (Gubernikoff, 2015 p.111). Giselle Gubernikoff em seu livro intitulado Cinema, Identidade e Feminismo (2016) traz um cineasta que moldou a aceitação dessa representação feminina no cinema no início do século XX, David W. Griffith e que para ele “as estrelas deveriam ser capazes de concentrar idealmente os desejos de ambos os sexos ou, em último caso, não provocar o desgosto ou hostilidade de algum deles. ” (Ibid. p.111). A mulher para Griffith, deveria ser então “sensível, sugestionável e obediente” (Ibid. p. 111).
Com o passar dos anos o que era consumido pelas classes média alta e burguesia foi sendo alterado. O cinema adquiriu diferentes formas de representar a mulher, de angelical e personalidade forte à mulher perigosa e sedutora, os romances trouxeram as mocinhas salvas pelo seu herói aventureiro e corajoso, as mocinhas viraram as heroínas que agem com valentia para superar os obstáculos cotidianos, isso nas primeiras décadas do século XX. Hoje a forma como a mulher é representada nas grandes telas também vem sendo alterado, mas ainda sim com grandes obstáculos visto que as atrizes com papeis principais ainda são pagas com uma mínima porcentagem dos salários dos homens que exercem o mesmo grau de protagonismo na obra. Gubernikoff nos traz que algumas teorias feministas ligadas ao cinema partem de Levi-Strauss
“Sobre a mulher como objeto de troca, “mercadoria” fundamental para a estabilidade social, na qual deve permanecer como “infraestrutura” irreconhecível, tanto social como culturalmente. Isto estaria ligado diretamente ao status da mulher na sociedade capitalista. O que está propõe é a eliminação da subjetividade feminina em detrimento de sua comercialização. ” (Gubernikoff, 2015 p.117)
Se antes o corpo da mulher era algo a ser escondido e ser mantido fora do público, com o cinema o corpo passou a ser produto, é comercializado e mostrado de diversas formas e transformado em fetiche. Gubernikoff afirma que foi com essa fetichização da mulher no cinema que alguns tabus foram sendo rompidos, como o uso de vestimentas masculinas como calças compridas e gravatas, mas ao mesmo tempo estimulou o narcisismo feminino após por serem objetos de voyeurismo masculino (Ibid. p 119).
O uso da representação da mulher em campanhas publicitarias, assim como no cinema, reforçou por muito tempo a definição de mulher que deveria ser seguida para que fossem consumidos os produtos de linhas de cosméticos, cortes de cabelo, de vestimentas e utensílios domésticos, de gêneros cinematográficos aos quais a mulher deveria assistir, a definição do que é coisa de mulher e coisa de homem ainda rege nossa sociedade e ainda estamos distantes de abolir essas definições, mas o caminho já está sendo seguido por muitos profissionais dessas áreas que já não concordam com a forma que propagandas, filmes e seriados são produzidos. Nos resta lutar para que possamos deixar uma sociedade mais justa para todas as mulheres.
Referências bibliográficas:
PERROT, Michele. Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto, 2007
SANT’ANNA, Denize B. Políticas do Corpo. São Paulo: Estação Liberdade, 1995
KORNIS, Mônica Almeida. História e Cinema: um debate metodológico. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.5, n.10, 1992, p.237-250
GUBERNIKOFF, Giselle. Cinema, identidade e feminismo. São Paulo: Pontocom, 2016.
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