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O PAPEL DA MULHER NAS PROPAGANDAS AUTOMOBILÍSTICAS ENTRE OS ANOS 2012 E 2016

Por:   •  1/12/2018  •  2.610 Palavras (11 Páginas)  •  287 Visualizações

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2 Pressupostos teóricos

As relações de gênero são construídas historicamente, sendo fundamental analisar como estão estruturadas as relações sociais, considerando o processo dinâmico dos indivíduos se relacionarem entre si. (SANTOS, 2005). A mulher, na maior parte das culturas é colocada como o ser inferior, como o outro, mantendo-se em segundo plano em relação ao homem. Um pensamento que aborda e discute sobre esse tema é o Feminismo. Segundo Simone de Beauvoir, no livro O Segundo Sexo, “A humanidade é masculina, e o homem define a mulher não em si, mas relativamente a ele; ela não é considerada um ser autônomo.”.

A partir desse entendimento, é de grande importância verificar e discutir como a representação da mulher dentro das campanhas publicitárias automobilísticas faz se valer pelo processo histórico de estereotipificação do gênero feminino. A mulher quase sempre é retratada na mídia como o sexo frágil, submisso, irracional, emotivo, onde são vistas, em grande maioria, como objetos sexuais, dependentes de um homem, e outras características que as colocam em segundo plano ou de modo pejorativo. Em contrapartida o sexo masculino é comumente retratado com características positivas, como sendo quem sustenta a família, o corajoso, o superior, o racional, o forte, enfim, apresentando sempre características que o colocam em primeiro plano ou papel principal.

Segundo Jablonksi (2010), estereótipos remetem à generalização. Trata-se de crenças amplamente compartilhadas sobre uma pessoa ou um grupo de pessoas, que se referem não uma visão sobre elas em particular, mas ao que é julgado mais similar ou repetido no grupo ao qual elas pertencem (LOURENÇO A.C. S; ARTEMENKO S.P; Bragaglia A.P. A “objetificação” feminina na publicidade: uma discussão sob a ótica dos estereótipos. Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, pg. 4).

A figura do homem na publicidade não é o centro das atenções daqueles que buscam analisar estereótipos. Afinal, geralmente, só são divulgados adjetivos bons para o gênero masculino, ao contrário da figura feminina, que é amplamente analisada e divulgada, afim de que a sociedade reaja contra a estereotipização deste público (LOURENÇO A.C. S; ARTEMENKO S.P; Bragaglia A.P. A “objetificação” feminina na publicidade: uma discussão sob a ótica dos estereótipos. Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ pg. 10). Por esse motivo a pesquisa realizada pelo grupo teve como enfoque a mulher, com o objetivo de mostrar de forma mais concisa o papel imposto para elas nas campanhas publicitárias automobilísticas.

No entanto, não é apenas no meio publicitário que ocorrem tais preconceitos relacionados ao gênero feminino, ocorrendo o mesmo dentro do mercado de trabalho. Além da existência de profissões julgadas como masculinas, também existe uma enorme desigualdade salarial entre homens e mulheres. Em 2009, em uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comparando a média anual dos rendimentos dos homens e das mulheres, verificou-se que, em média, as mulheres ganham em torno de 72,3% do rendimento recebido pelos homens. Mesmo considerando um grupo mais homogêneo, com a mesma escolaridade e do mesmo grupamento de atividade, a diferença entre os rendimentos persiste (LOURENÇO A.C. S; ARTEMENKO S.P; Bragaglia A.P. A “objetificação” feminina na publicidade: uma discussão sob a ótica dos estereótipos. Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ pg. 2).

Outra consequência nociva causada pelo estabelecimento de estereótipos é a violência física e psicológica contra o grupo que é descriminado, e que, portanto se torna minoria. Foi divulgada uma reportagem da emissora Globo afirmando que o número de estupros em terras brasileiras ultrapassou o de homicídios dolosos – com intenção de matar – no ano de 2012. O aumento de casos, quando comparado com o ano 2011, foi de 18,7%. Foram 50.617 casos de mulheres que sofreram física e mentalmente com o desrespeito propagado pelos estereótipos que afirmam ter um gênero superior ao outro. (LOURENÇO A.C. S; ARTEMENKO S.P; Bragaglia A.P. A “objetificação” feminina na publicidade: uma discussão sob a ótica dos estereótipos. Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, pg. 3).

É possível afirmar que a publicidade tem um papel importante no processo de naturalização das relações de poder e dominação que envolve as questões de gênero através do uso de representações que cristalizam os papéis sociais de homens e mulheres. (Cruz M.F.O. Representações do feminino na publicidade: estereótipos, rupturas e deslizes. Universidade Federal de Santa Maria, RS, pg.1). Através da propagação de discursos dominantes e marginalizantes de uma parcela da sociedade, seja ela econômica cultural ou de gênero, a mídia reforça relações que se baseiam em uma hierarquia social, que transcende o mundo digital, o que legitima todo o preconceito propagado pela população. Devido a esse fato, é de suma importância que o tema deste trabalho seja discutido e debatido academicamente, a fim de aumentar a representação do grupo feminino na publicidade automobilística.

Além de todos os malefícios já levantados pelo texto, a banalização de um gênero, pode inferir na queda de autoestima de muitas mulheres. Isso ocorre por conta da grande veiculação por parte dos meios de comunicação de um padrão estético europeu, que em nada corresponde ao modelo majoritário feminino encontrado no Brasil. Prova disso é que, de acordo com a

pesquisa nacional sobre as “Representações das mulheres na propaganda na TV” (PATRÍCIA GALVÃO, 2013), 56% dos entrevistados não acredita que os comerciais mostram a mulher da vida real (Cruz M.F.O. Representações do feminino na publicidade: estereótipos, rupturas e deslizes. Universidade Federal de Santa Maria, RS, pg.4). Esse estabelecimento de padrões faz com que não apenas as mulheres não se sintam confortáveis com elas mesmas por não se encontrarem adequadas à estética transmitida nacionalmente, o que gera uma barreira no emponderamento feminino, reafirmando as desigualdades de gênero e submissão da mulher que é colocada em um papel objetificado. Além disso, faz com que as próprias empresas que veiculam tal modelo estético/ de gênero, percam uma grande quantidade de público consumidor, já que o mesmo não se encontra nas propagandas, o que faz com que o potencial comprador não se sinta sensibilizado pela campanha publicitária, diminuindo assim suas chances de consumir tal produto. O mesmo ocorre nas campanhas automobilísticas, as quais partem do pressuposto de que carro é algo de interesse apenas do sexo masculino, deixando em segundo

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