VERNANT, Jean – Pierre. As Origens do Pensamento Grego, Capítulo IV – O universo espiritual da polis
Por: Lidieisa • 28/3/2018 • 1.013 Palavras (5 Páginas) • 465 Visualizações
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Por seu turno, à margem da cidade e do culto público, há a criação de associações fundadas secretamente as quais estavam organizadas sobre o modelo de sociedades de iniciação, a todos quantos desejem conhecer a iniciação, o mistério lhes oferece sem restrição de nascimento a promessa de uma imortalidade bem-aventurada divulga os segredos religiosos. As investigações dos primeiros Sábios iam continuar as preocupações das seitas até o ponto de confundir-se com elas.
Logo a filosofia ao nascer na polis terá uma posição repleta de ambiguidade. Ora estará no debate contraditório na vida pública, revelando-se como preparação para o exercício do poder na cidade; estará disponível a cada cidadão, com aulas pagas. Ora se organizará secretamente como as seitas em confrarias fechadas, retirar-se-á do mundo, desejando instaurar uma nova cidade, privando a sabedoria e buscando a salvação na contemplação.
Por fim, cria, na polis, determinada união da visão que por mais diferentes que sejam os indivíduos que a compõem há entre eles uma certa semelhança. Essa visão fomenta a necessidade da isonomia: igual participação de todos no exercício do poder. Resultará no valor plenamente democrático, oposto ao poder absoluto de um só, a arché reservada a um pequeno grupo. A própria função militar deixa de ter e ser privilégio. O valor do soldado é o mesmo do cidadão, tem ele lugar formação militar e na organização política da cidade.
Concebe-se aos cidadãos no plano político como unidades intercambiáveis dentro de um sistema cujo equilíbrio é a lei e cuja norma é a igualdade. Esta imagem do mundo humano encontrará no século VI sua expressão rigorosa em um conceito: a isonomía (igual participação de todos os cidadãos no exercício do poder).
As transformações sociais e políticas que determinam em Esparta as novas técnicas de guerra traduzem no plano das instituições aquela mesma exigência de um mundo equilibrado, ordenado pela lei, que os Sábios, para a mesma época, formularão no plano propriamente conceptual quando as cidades passem por sedições e conflitos internos.
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