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BLACK MIRROR – UMA ANÁLISE SOBRE TÉCNICA E SOCIEDADE

Por:   •  23/4/2018  •  2.556 Palavras (11 Páginas)  •  441 Visualizações

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(GALIMBERTI, 2003, p. 16)

Galimberti, na citação a cima, faz uma alusão ao mito de Prometeu, onde ao ser humano foi concebido o poder de raciocinar, ter ofícios e aptidões, e colocando em pensamento a ideia de seu domínio sobre a natureza, busca justificar a necessidade humana por modificações e evoluções.

No episódio, é retratado como a técnica vem interferindo nas relações interpessoais. Cada vez mais, a técnica deixa de ser mero instrumento para facilitar tais relações, e passa a ser parte crucial das mesmas. Muitas vezes, estamos próximos fisicamente e ainda assim nos comunicamos por meio de nossos aparelhos; essa ideia pode ser tanto um problema, quanto uma facilidade, mas devemos nos atentar se essas facilidades passam a se tornar mero comodismo e se possam se tornar vícios irremediáveis ao nosso dia-a-dia. Por exemplo, se no meio de uma aula você necessita se comunicar com um colega, é mais pratico enviar uma mensagem de texto do que interromper a aula, levantar-se da cadeira, se dirigir ao colega, para então poder dar o recado; mas se, o acesso físico for fácil e nada atrapalhe tal comunicação, e ainda assim mandar uma mensagem seja a escolha, talvez seja a hora de rever os conceitos de como a técnica está influenciando a vida. “Os meios de comunicação. Para a homologação social, contribuem de modo cada vez mais intenso os meios de comunicação, que a técnica potencializou modificando o nosso modo de fazer experiência” (GALIMBERTI,

2003, p. 21) Os meios de comunicação são uma das formas mais simples de podermos identificar a influência direta da técnica no nosso convívio social, pois, são eles, o que mais utilizamos a todo tempo e para variados objetivos.

já não se trata de um contato com o mundo, mas com a representação midiática do mundo, que aproxima o que está longe, torna presente o ausente, e disponível aqui que estava indisponível. Libertando-nos da experiência direta e colocando-nos em contato não com os acontecimentos, e sim com a sua representação, os meios de comunicação não precisam falsificar ou obscurecer a realidade, porque exatamente o que informa codifica, e o efeito do código se torna não só critério interpretativo da realidade, mas também modelo indutor dos nossos juízos, que, por sua vez, geram comportamentos no mundo real de acordo com o que se percebeu do modelo indutor. Nesta comunicação tautológica, na qual quem escuta ouve as mesmas coisas que ele mesmo poderia tranqüilamente dizer, e quem fala as mesmas coisas que ele poderia ouvir de qualquer um, neste monólogo coletivo, a experiência da comunicação acaba pois fica abolida a diferença específica entre as experiências pessoais do mundo que estão na raiz de toda necessidade de comunicação. (GALIMBERTI, 2003, p. 21)

Em “Be right back”, é retratado o que nossa sociedade vivência nos dias de hoje; Em uma das cenas, vemos a personagem Martha conversando com o software de seu celular (que faz o papel de representar o personagem Ash) enquanto faz uma caminhada; Em outro momento, ela, durante seu exame de ultrassom para acompanhar sua gravidez, filma todo o procedimento para envia-lo ao sistema, fazendo com que se preocupe mais com o registro do que realmente aproveitar um momento emocionante como este. Situações como esta são cada vez mais presentes em nosso cotidiano, e ilustram a influência destes aparatos técnicos na nossa vivencia; situações como esta muitas vezes são naturalizadas, pois, são tão frequentes que já passamos a lidar com as mesmas sem espanto. Galimberti salienta que “Quanto mais se complexifica o aparato técnico, quanto mais denso se torna o tecido dos sub-aparatos, quanto mais se agigantam seus efeitos, tanto mais se reduz nossa capacidade de percepção dos processos, dos resultados, dos êxitos, para não citar os objetivos de que somos parte e condição.” (GALIMBERTI, 2003, p.24)

Lidar com a técnica de forma natural, é concordar com que ela evolua sem pensar no que ela possa prejudicar, é lidar apenas com os pontos positivos e julgar que os ganhos sejam compensatórios em relação as perdas. “Se não formos capazes de elevar-nos à altura do fazer técnico generalizado no plano universal e sem lacunas, cada um de nós ficará imobilizado naquela irresponsabilidade individual que consentirá ao totalitarismo da técnica de proceder

sem qualquer empecilho, sem nem sequer precisar de apoio em ideologias superadas.” (GALIMBERTI, 2003, p.24)

Segundo Galimberti, permitir uma totalidade técnica é anular a importância do ser humano e de sua naturalidade, é mudar totalmente uma perspectiva de vida e de sociedade com a qual lidamos hoje. Então, devemos salientar mais uma vez que, são grandes os benefícios oferecidos pela técnica, mas, a técnica se tornar totalidade no cotidiano em sociedade é arriscado.

Nascida sob o signo da antecipação, de que Prometeu, “aquele que pensa por antecipação”, é o símbolo, a técnica acaba tirando do homem qualquer possibilidade antecipadora, e com ela, elimina a responsabilidade e o senhorio que derivam da capacidade de prever. É nesta incapacidade, que já se tornou inadequação psíquica, que se esconde para o homem o perigo máximo, assim como se encontra na ampliação da sua capacidade de compreensão a sua frágil esperança. Esta ampliação psíquica, a cuja promoção este livro confia o seu sentido, se por um lado não basta para dominar a técnica, pelo menos impede para o homem que a técnica aconteça sem que ele o saiba, e impede que, de condição essencial para a existência humana, se converta em causa de insignificância do seu próprio existir. (GALIMBERTI, 2003, p.25)

Outra obra que ajuda no nosso entendimento sobre técnica e suas relações com a sociedade é O Homem Pós-orgânico: Corpo, subjetividade e tecnologias digitais de Paula Sibilia. No texto, Sibilia apresenta de forma detalhada mas fácil de ser compreendida, como o homem da sociedade atual se comporta e se relaciona com técnica e tecnologia, e como essa relação influência a sociedade em um contexto geral.

“Uma das características que melhor definem o homem é, precisamente, sua indefinição: a proverbial plasticidade do ser humano.” (SIBILIA, 2002, p. 10) Em Black Mirror é retratada a ideia de “reviver” por meio da técnica, por enquanto, podemos entender a ideia de forma metafórica, já que ainda não é realmente possível fazê-lo, mas o que já é possível são diversas modificações do nosso corpo pela mesma. Próteses são implantadas, por necessidade de saúde ou puramente estéticas, há a ideia e o ideal de “robotização” do corpo humano.

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