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Trabalho Teorias Modernas em Antropologia

Por:   •  23/1/2018  •  5.571 Palavras (23 Páginas)  •  526 Visualizações

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Mas não são essas coisas, as técnicas e os processos determinados, que definem o empreendimento. O que o define é o tipo de esforço intelectual que ele representa: um risco elaborado para uma “descrição densa”, tomando emprestada uma noção de Gilbert Ryle (GEERTZ, 1978, p. 15).

Geertz então apresenta, a partir de Ryle, esta descrição densa, ou seja, a busca microscópica pelos significados, de acordo a códigos “culturais” estabelecidos, mas que precisam ser investigados pelo antropólogo: “uma hierarquia estratificada de estruturas significantes” (GEERTZ, 1978).

A partir da exposição da história de Cohen[1], são levantadas questões de caráter comercial, religioso, cultural, linguístico e político. A relação e a imbricação de diferentes teias de significados implicam num choque de padrões e normas sociais, demonstrando o quão “densa” pode ser um descrição etnográfica e como se dá sua construção:

O que chamamos de nossos dados são realmente nossa própria construção das construções de outras pessoas, do que elas e seus compatriotas se propõem – está obscurecido, pois a maior parte do que precisamos para compreender um acontecimento particular, um ritual, um costume, uma ideia, ou o que quer que seja está insinuado como informação de fundo antes da coisa em si mesma ser examinada diretamente (GEERTZ, 1978, p.19).

Sendo assim, o trabalho do antropólogo se confunde com a de um decifrador de códigos, mas é mais parecido ainda com a de um crítico literário, através da percepção e interpretação dos dados. Portanto, a análise antropológica é, para Geertz, “escolher entre estruturas de significação e determinar sua base social e sua importância” (GEERTZ, 1978, p. 19).

Contextualizando o cenário antropológico da época em que foi escrito, A Interpretação das Culturas levanta questões sobre a subjetividade e a objetividade da cultura. A cultura está mais relacionada à razão ou à emoção humanas? A conduta humana é padronizada ou é apenas um estado mental? Geertz começa a esboçar uma resposta a estas questões: “Embora uma ideação, não existe na cabeça de alguém; embora não física, não é uma identidade oculta” (GEERTZ, 1978, p. 20). E continua:

O que devemos indagar é qual é a sua importância: o que está sendo transmitido com a sua ocorrência e através da sua agência, seja ela um ridículo ou um desafio, uma ironia ou uma zanga, um deboche ou um orgulho (GEERTZ, 1978, p. 20-21)

A antropologia interpretativa de Geertz vai buscar, neste ponto, um aprofundamento do significado da prática e do discurso humanos. A análise do particular auxilia a situar, de certa maneira, uma generalização de determinada sociedade. Interessante notar como esta análise entre o subjetivo e o objetivo pode ser levada adiante:

Desta forma, um subjetivismo extremo é casado a um formalismo extremo, com o resultado já esperado: uma explosão de debates sobre se as análises particulares (que surgem sob a forma de taxonomias, paradigmas, tabelas, genealogias e outras inventivas) refletem o que os nativos pensam “realmente” ou se são apenas simulações inteligentes, equivalentes lógicos, mas substantivamente diferentes do que eles pensam (GEERTZ, 1978, p. 21).

Ao proceder a um recorte metodológico em sua pesquisa, o antropólogo parece então, a partir de sua cultura, singularizar a que ele está estudando. Situar-se, portanto, dentro dos limites teóricos e metodológicos da disciplina é uma tarefa complexa. Talvez o crucial neste processo seja o que um ser humano representa para o outro, ou seja, a produção da alteridade. Situar-nos culturalmente, ou no caso do antropólogo, situar-se metodologicamente além de culturalmente, é relacionar significados:

Situar-nos, um negócio enervante que só é bem-sucedido parcialmente, eis no que consiste a pesquisa etnográfica como experiência pessoal. Tentar formular a base na qual se imagina, sempre excessivamente, estar-se situado, eis no que consiste o texto antropológico como empreendimento científico. Não estamos procurando, pelo menos eu não estou, tornar-nos nativos (em qualquer caso, eis uma palavra comprometida) ou copiá-los (GEERTZ, 1978, p. 23).

Situar-se e fazer a pesquisa etnográfica, além de ser um processo complexo, é um processo interpretativo. Através das criações, descrições, e por que não dizer, invenções dos povos estudados, é que o antropólogo pode desenvolver sua análise científica. Geertz atenta para o fato de que estas descrições são antropológicas porque são professadas pelos próprios antropólogos (GEERTZ, 1978). Em suma, os textos antropológicos são interpretações. Interpretações, nas palavras de Geertz, de segunda e de terceira mão.

Sob o ponto de vista metodológico, para Geertz, o “nativo” também faz uma interpretação. Mais precisamente, esta interpretação seria a de primeira mão, pois se trata de sua própria cultura. Vale lembrar que este parece ser um processo de mão única, já que o “nativo” não faz papel de antropólogo. Quem vai além da primeira interpretação é o antropólogo. Parece residir aí um problema: a cultura não seria um dado, mas um processo de “construção” e de “interpretação”. O que fica claro, então, é que a “cultura” está mais próxima, ou é mais “real” para o nativo do que para o antropólogo.

Contudo, o antropólogo para Geertz, “superaria” os esforços de interpretação do nativo. Pois além de antropólogo, ele seria também nativo. Já o nativo seria apenas um intérprete de sua cultura, limitando-se somente a isto. O antropólogo, então, teria a “capacidade” de interpretar duas vezes: a sua cultura e a do nativo.

Estes tipos de construções e de interpretações seriam, portanto, na afirmação de Geertz algo criado, inventado:

Trata-se, portanto, de ficções, ficções no sentido de que são “algo construído”, “algo modelado” – o sentido original de fictio – não que sejam falsas, não fatuais ou apenas experimentos de pensamento (GEERTZ. 1978 p. 26).

O relato antropológico não seria a “realidade social”, mas um artifício erudito, trazendo a análise do discurso social para o texto, demonstrando, desta forma, que dado acontecimento se “fixa”. Ao descrever, construir e interpretar o fato, o antropólogo transforma o acontecimento passado num relato, ou melhor, numa fonte de estudo. Neste ponto, há de se perceber como a antropologia mantém uma relação estreita com outras áreas da ciência, entre elas, a história.

Há de se perceber a preocupação

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