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JUVENTUDE E RELAÇÕES RACIAIS EM NOVA MUTUM - MT

Por:   •  19/9/2018  •  2.761 Palavras (12 Páginas)  •  274 Visualizações

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de valorização dos negros e negras na comunidade, formação voluntária de professores mediante oficinas culturais e, posteriormente, fazendo parte da execução do eixo Comunicação para Igualdade Racial, que rendeu à Nova Mutum o Selo Unicef Município Aprovado 2012.

Por meio destas experiências, pude vivenciar situações nas quais jovens participantes de grupos que desenvolviam práticas culturais afro-brasileiras demonstravam maior facilidade em lidar com questões raciais vendo-se como jovens negros e negras de forma positiva. Por outro lado, aguçava-me a curiosidade de entender esta dinâmica dentro da escola, considerando a relação entre brancos e negros na atual conjuntura pós Lei federal nº 10.639/03, que este ano completa onze anos.

Organismos internacionais, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU), estabeleceram a população jovem dentro da faixa etária de 15 e 24 anos. No entanto, para alguns estudiosos, esta definição não significaria o jovem. Seria necessário considera-los na sociedade em que vivem, as vivências diferentes, visto que a atuação destes dependem das oportunidades oferecidas socialmente, especialmente no Brasil. Neste sentido, devemos considerar a multiplicidade do perfil da juventude brasileira “assim como as variedades de práticas e opiniões, a partir do que se estabelece a importância de falar em juventudes, no plural, e não no singular” (ABRAMO; BRANCO, 2005,p. 16).

Desta forma, o estudo sobre tais particularidades, no que tange aos jovens e às relações raciais, visa preencher lacunas, pois nos apresentará limites e possibilidades de uma produção teórica que, até o momento, apresenta pouca penetração no campo das Ciências Sociais e na Educação (SPOSITO, 1997). Acrescenta-se a isto a visível superficialidade no tratamento sobre aformulação e implementação de políticas públicas para as juventudes. Ao tratar dos desafios desta juventude negra viver múltiplas identidades, Gomes (2004, p. 1) reflete sobre a preocupação dos formuladores de políticas governamentais com as juventudes serem recentes conforme apontada por Almeida (2000, p. 48) e a visão e circulação de ideias de uma juventude em crise ser preponderante e uma visão estereotipada que formula ações para atendimento por programas voltados para atender somente um dos horizontes do seu cotidiano, principalmente quando se considera os jovens que se encontram em “situação de risco” ou em “desvantagem social”, individual ou coletivamente.

Abordar as juventudes na normalidade do cotidiano é importante caso a intenção seja compreender a situação real. As questões raciais permeiam, fazem parte da vida da juventude, é preciso preocupar-se com a formação da criança neste aspecto, bem como com a situação real em que convivem os jovens negros e brancos deste país no contexto escolar e como se constituem as relações mediante o acesso mais amplo das informações, a partir do qual, a escola deveria ter mudado após 2003.

A juventude mutuense

O crescimento demográfico de Mato Grosso se destaca como um dos maiores no país. O surgimento de novos municípios exige de um lado infraestrutura básica para dar suporte a tal desenvolvimento e de outro evidencia a necessidade de qualificação profissional para responder qualitativa e quantitativamente as exigências dos projetos de desenvolvimento desses municípios. Deste modo, a juventude é foco das políticas públicas, principalmente, quando se trata de qualificações técnicas que atendam ao mercado de trabalho. Nesta perspectiva, debruçar-se sobre as constantes manifestações populares sobre as diferenças sociais gritantes existentes nos municípios e sua diversidade, características e implicações não fazem parte do planejamento para a garantia dos direitos à juventude.

É neste contexto que se insere o Município de Nova Mutum-MT, surgido a partir de março de 1978, em função de um projeto de colonização conduzido pela Colonizadora Agropecuária Mutum S/A. Com o desenrolar dos anos, o município consolida-se como forte produtor agrícola, uma das principais fontes da economia, com enfoque para produção de soja, milho e algodão, além de frigoríficos. Segundo dados do IBGE/2010 a população é de 31.649 habitantes, apresentando 7.065 pessoas com idade entre 15 e 24 anos e destes, dentre as quais 3.002 frequentam a escola.

Mesmo que a cortina cultural pareça sulista, os moradores mutuenses têm cada vez mais sotaque mato-grossense, nordestino e nortista. O norte de Mato grosso com um processo de ocupação marcado pela migração a fim de ocupar espaços fora dos altos escalões empregatícios, de acordo com Joanoni Neto (2011), esses trabalhadores, desconsiderados socialmente, ficam à mercê da superexploração das “pessoas de bem” e submetidos aos caprichos do empreiteiro.

E neste interior do país, há manifestações estagnadas no estereótipo do jovem aluno ou comunidade negra estudantil como a adesão ao discurso do medo, da violência, até mesmo as ações políticas estão, em sua maioria, voltadas para resolver problemas. A execução de projetos socioculturais, por exemplo, não é justificada como a oportunidade necessária ao vigor e ousadia da juventude, a criação do trabalho por direito e capacidade desta juventude desenvolver, é uma fala quase sempre negativa sobre o que já produzem ou do que são. É necessário reconhecer que existem problemas de cunho racial em nossa sociedade, não seria diferente em Nova Mutum. Tais problemas se desdobram, acabam por repercutir no âmbito das relações raciais entre os sujeitos inseridos no contexto escolar.

Nesta perspectiva, me proponho a investigar a identidade do jovem negro, tomando como referencial as leituras raciais que fazem os estudantes negros e brancos no espaço escolar neste município.

Identificando o campo e objeto

Os objetivos a que se propõe este estudo são norteados pela pesquisa social, pela análise das relações raciais estabelecidas entre os sujeitos pesquisados, tendo como foco uma perspectiva qualitativa.

Como a problemática trata das relações raciais a partir das identidades no contexto escolar desses jovens, é evidente que esta pesquisa parte do entendimento de que há grupos raciais diferentes no ambiente. A proposição deste projeto de pesquisa tem como objetivos específicos: observar o ambiente escolar e as narrativas dos jovens investigados e professores, questionários e entrevistas individuais e coletivas a fim de traçar o percurso da constituição de suas identidades. Analisar como estes jovens fazem sua autodeclaração racial. Traçar o perfil social e

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