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JUVENTUDE E EDUCAÇÃO SUPERIOR

Por:   •  26/9/2017  •  3.880 Palavras (16 Páginas)  •  429 Visualizações

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No entanto, como afirma diversos autores dentre eles, Levi e Schmitt (1996) e Canevacci (2005), a análise sobre juventude não pode ser pautada em questões etária, fisiológica ou demográfica já que o fenômeno das juventudes foge as estatísticas. Nem, tão pouco delimitada por tipificações jurídicas legais, como os estatutos. Há um debate que extrapola essas concepções estáticas e definidas sobre juventude, pautando-se em diversos argumentos, como serão expostos brevemente a seguir.

Segundo Cardoso e Sampaio (1995) juventude é uma categoria de analise antiga nas ciências sociais e antropologia. As autoras apontam que por alguns anos o debate a cerca dessa categoria apresentou duas tendências se opõem: uma é a ideia mais geral de juventude e a outra que valoriza a especificidade das experiências juvenis.

Segundo as autoras, uma das noções fortemente trabalhadas nessa época é a discussão de juventude a partir da perspectiva geracional-biológica. Essa perspectiva buscava uma unidade geracional e o potencial de mudança dessa juventude, embora reconhecesse que existiam algumas diferenciações dentro dela. Outros estudiosos criticavam essa visão, ao defenderem o caráter diversificado e fragmentado dessa juventude. Assim, as autoras afirmam que

[...] esses estudos têm como pressuposto a ideia de que a experiência juvenil não é um fenômeno meramente geracional, mas que implica fazer parte de grupos sociais e culturais específicos. Ou seja, juventude só pode ser entendida em sua especificidade, em termos de segmentos de grupos sociais mais amplos. Os jovens passam, assim, a ser vinculados às suas experiências concretas de vida e adjetivados de acordo com o lugar que ocupa na sociedade [...] (CARDOSO; SAMPAIO, 1995, p. 18)

Na década de 1960 e 1970 a industrial cultural contribuiu para uma retomada da perspectiva genérica de juventude, com a difusão da imagem através dos meios de comunicação de massa, do jovem hippe, junto com a tríade sexo, drogas e rock and roll. Esse comportamento de alguns grupos de jovens era visto como um movimento de contestação, de comportamento alternativo ao que se esperava na época.

Segundo Levi e Schmitt (1996), juventude é uma categoria que também aparece com frequência nos estudos da demografia, da psicologia, entre outras. No entanto, os estudiosos encontraram uma dificuldade: definir o que é juventude. Sem querer apresentar uma definição geral e fechada do tema, eles entendem juventude como uma construção social e cultural. Pois, a juventude não poderia ser definida baseada apenas em fatores biológicos e jurídicos, são necessários outros elementos simbólicos, sociais e de valores.

Eles atribuem também o caráter de limite presente na juventude, ou seja, jovem é aquele que está entre a infância e entre a vida adulta. É essa liminaridade é o que caracteriza a condição de jovem, determinando suas atitudes sociais, seu modo de ver o outro e a si mesmo. Assim,

[...] ela se situa no interior das margens móveis entre a independência infantil e autonomia da idade adulta, naquele período de pura mudança de inquietude em que se realizam as promessas da adolescência, entre a imaturidade sexual e a maturidade, entre a formação e o pleno florescimento das faculdades mentais, entre a falta e aquisição de autoridade e poder. (LEVI; SCHMITT, 1996, p. 8),

Para os autores, a idade ou qualquer outro fator biológico não é capaz de delimitar a análise de qualquer fase da vida, pois estas são analisadas a partir da determinação que as sociedades lhe atribuem culturalmente. A juventude é construída socialmente pelas sociedades de uma forma mais complexa, repleta de instabilidade e irredutível à rigidez, assim, sua análise não pode ser feita de imediato. Para Bourdieu (1983) a divisão por idade impõe limites, ela delimita lugares e produz a manutenção de uma ordem, onde cada um deve se manter em seu lugar.

De acordo com Levi e Schmitt (1996), outra característica da juventude é sua condição transitória, pois pertencer qualquer faixa etária é uma condição provisória, “[...] os indivíduos não pertencem a grupos etários, eles os atravessa.” (LEVI; SCHMITT, 1996, p. 9). Dessa forma, Morin (1997) afirma que o tema da juventude deve ser tradado por aqueles que envelhecem e não apenas pelos jovens, pois esses não estão preparados para o envelhecimento e buscam sempre a juventude.

O termo juventudes, no plural, começa a fazer parte da produção teórica de Canevacci (2005) devido a sua insatisfação com as pesquisas em geral que apontam uma concepção generalista do que ele chama de culturas juvenis. Essas pesquisas são rígidas e não dão a fluidez e a flexibilidade necessária para analisar a questão. Para ele, as culturas juvenis, ou os fragmentos e fraturas cheias de significados líquidos, são representações múltiplas, fluidas e mutáveis.

[...] ao longo dos fluxos móveis das culturas juvenis contemporâneas –plurais, fragmentárias, disjuntivas - as identidades não são mais unitárias, igualitárias, compactas, ligadas ao sistema produtivo de tipo industrial, a um sistema produtivo de tipo familiar, a um sistema sexual de tipo manossexista, a um sistema racial de tipo purista, é um sistema operacional de tipo biologista. (CANEVACCI, 2005, p.18),

De acordo com Perondi, Scherer e Silva (2014, p. 20) o conceito de “juventudes” é usado, pois há uma realidade plural e multifacetada ao se abordar sobre jovens, “[...] visto que carregam consigo infinitas “faces” como grupos étnicos distintos, cor da pele, classe social, cotidianos, projetos de vida e futuro, culturas, costumes, que os definem como diversos(as) e diferentes.”

Segundo o autor, dois fatores especiais contribuíram para essa mudança mais ampla na análise das juventudes. O primeiro fator foi uma mudança no panorama no qual se passam as culturas juvenis, um novo sujeito – a metrópole – que agora não é mais como o modelo do século XIX que não dá conta do contexto atual. Ela muda de figura e passa a ser uma metrópole comunicacional imaterial, indo além das barreiras físicas. Canevacci (2005, p. 7) afirma que nela, com sua característica fluida, “[...] difunde-se o consumo, a comunicação, a cultura; os estilos, o híbrido, a montagem; patchwork girl e mosaic man.”.

O segundo fator diz respeito à mudança do contexto metodológico. O método, segundo o autor, é um instrumento que aprisiona e reduz os sujeitos a uma definição e não dá conta das mudanças da metrópole comunicacional imaterial. Ele busca uma espontaneidade metodológica que seja capaz de acompanhar a fluidez, o hibridismo, o pluralismo

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