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A DISCURSO DA SERVIDÃO VOLUNTÁRIA

Por:   •  15/11/2018  •  2.648 Palavras (11 Páginas)  •  313 Visualizações

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Portanto, essa é a força do tirano, o poder dele emana dos homens da nação que, voluntariamente, o sustentam. O autor fala então sobre deixar de manter, servir, entretanto, não através de violência, mas através de desobediência; se dependem do homen, então que deixe de mantê-lo. Então, para o autor, para a cabar com qualquer tirania, não é necessário lutar diretamente, basta não obedecer às ordens e parar de servi-lo. Sendo natural o amor à liberdade, o povo se submete voluntariamente a um tirando, perdendo a condição de se libertar, e essa é a reflexão de La Boetie.

Boetie afirma “Antes demais, eu creio firmemente que, se nós vivêssemos de acordo com a natureza e com os seus ensinamentos, seríamos naturalmente obedientes ao país, submissos à razão e de ninguém escravos.” e “Uma coisa é claríssima na natureza, tão clara que a ninguém é permitido ser cego a tal respeito, e é o fato de a natureza, ministra de Deus e governanta dos homens, nos ter feito todos iguais, com igual forma, aparentemente num mesmo molde, de forma a que todos nos reconhecêssemos como companheiros ou mesmo irmãos.” Essa noção de igualdade discutida pelo autor é importante porque, mais à frente, as condições de força de alguns e as qualidades distintas entre os homens são discutidas, que não há uma necessidade de que alguns se imponham a outros, podendo se viver e trabalhar fraternamente em comunidade, de tal maneira que essa igualdade é própria da natureza humana e da liberdade também.

Pode-se afirmar, portanto, que o tema centrar no discurso é a divisão entre governantes e governados. O autor mostra os tipos de obtenção do governo por parte dos tirantes e como todos os casos se desdobram no mesmo, não importando a maneira pela qual chegaram ao poder e também mostra que uma pessoa que nasceu em uma tirania ainda está propensa à liberdade e, entre escolher uma tirania ou liberdade, a pessoa escolheria a liberdade.

Em uma tirania, com o passar do tempo, os homens acostumam a desejar e manter sua própria opressão, portanto, podemos concluir que isso acontece não por natureza, mas por costume. Dessa forma, também podemos concluir que a liberdade é uma “semente” natural no homem que poderia ser desenvolvida sob certas condições, mas que pode ser perdida no esquecimento.

O autor diz: “Diga-se, pois, que acaba por ser natural tudo o que o homem obtém pela educação e pelo costume; mas da essência da sua natureza é o que lhe vem da mesma natureza pura e não alterada;” Isso permite perceber que essa “semente” permanece natural nos homens, razão pela qual tantos, mesmo tendo nascido na escravidão ou servidão, sentem a mesma vontade pela liberdade. Portanto, pode-se concluir que existem homens que saboream a liberdade mesmo que não a tenham conhecido, e são estes a prova de que não somente não é natural a tirania, e que a “semente” da liberdade está sempre aqui. O tirano que sabe a fraqueza da sua capacidade para se manter no governo utiliza do seu povo o alimentando com jogos e coisas banais, deixando-o covarde e submisso.

Uma outra causa da servidão voluntária, portanto, é um povo que se deixe levar pela covardia, bem como a dominação desse povo pelo misterioso e pelo religioso. Sendo assim, o tirano, ao conhecer os comportamentos dos homens da sua nação os domina através da trapaça, utilizando uma infinidade de truques. Dessa forma: “Mas voltando ao assunto de que sem querer me afastei, quem mais do que os tiranos tem conseguido para sua segurança, habituar o povo não só à obediência e à servidão, mas até à devoção? Tudo, pois, o que até aqui disse sobre o hábito de as pessoas serem voluntariamente escravas aplica-se apenas às relações entre os tiranos e a arraia miúda e embrutecida.”

Também é importante descatar a análise feita pelo autor, que tem a ver com a natureza do Estado e do governo. Quem mantem e defende o tirando são um grupo muito pequeno que tem benefícios com ele, e por isso o acessoram e colaboram com seus maus-tratos, de maneira que parte da perversidade do tirano é suas também. Entretanto, esse pequeno grupo tem por debaixo um grupo maior e assim por diante até os milhares. Chamaremos esse grupo de funcionários para diferenciá-los dos súbitos normais; são essas pessoas que trabalham diretamente para a tirania e que não apenas responsáveis por mantê-lo, mas também são responsáveis diretos das atrocidades cometidas pelo tirano. O Estado tem uma teia de cúmplices diretos e que são loucos para lucrar com os saques da população. Essa é a configuração de um governo cúmplice das atrocidade do tirano e tão tirano como ele; com isso, o autor completa o quadro da tirania, não deixando a responsabilidade somente no coração, mas também em todo o corpo do aparato da opressão. Configura-se, portanto, como uma rede de servidão, entretanto, também de pequenos tiranos. La Boetie fala sobre a diferença entre o “funcionário” e o habitante oprimido, que vivem sob condições diferentes de servidão, visto que, como o primeiro grupo também é opressor, é muito menos livre, já que está obrigado a entregar todo seu espírito ao tirano até o ponto de perder toda sua subjetividade, como visto em: “Não basta que lhe obedeçam, têm de lhe fazer todas as vontades, têm de se matar de trabalhar nos negócios dele, de ter os gostos que ele tem, de renunciar à sua própria pessoa e de se despojar do que a natureza lhes deu. Têm de se acautelar com o que dizem, com as mínimas palavras, os mínimos gestos, com o modo como olham; não têm olhos, nem pés, nem mãos, têm de consagrar tudo ao trabalho de espiar a vontade e descobrir os pensamentos do tirano. Será isto viver feliz? Será isto vida? Haverá no mundo coisa mais insuportável do que isto? Não me refiro sequer a homens bem nascidos, mas sim a quem tenha o sentido do bem comum ou, para mais não dizer, cara de homem. Haverá condição mais miserável do que viver assim, sem ter nada de seu, sujeitando a outrem a liberdade, o corpo, a vida? Fazem tudo o que fazem para ganharem fortuna...” Essa análise do que trabalha diretamente para uma tirania é de grande relevância e marca um tipo de compreensão que pode ser aplicada nos dias atuais. Por fim, ainda adverte que não se pode confiar nessas pessoas, uma vez que que são as primeiras a correrem com o dano causado ao povo.

- Conclusão

Pode-se concluir que o Discurso sobre a Servidão Voluntária pode ter muito a refletir e ensinar para as pessoas nos dias atuais, mesmo se trando de um texto do século XVI. Ao escrever a obra, o Étienne de La Boétie, reúne ideias a respeito das relações entre o tirano e os súditos. Consegue analisar

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