A CONJUNTURA BRASILEIRA DE 2013-2016: uma análise sociológica sobre a crise social, política e econômica com ênfase na observação dos processos de interação social
Por: kamys17 • 17/3/2018 • 2.071 Palavras (9 Páginas) • 463 Visualizações
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Entretanto, ao contrário do que é amplamente divulgado na mídia, como no trecho citado do infográfico da revista Veja, o problema da corrupção não é único e exclusivo do governo petista e de sua base aliada, visto que conta com envolvimento de personalidades de partidos que fazem oposição ao governo como o PSDB. Dados sobre os totais de doações recebidas diretamente pelos candidatos ou pelos partidos, nas eleições 2014, de empresas relacionadas na Operação Lava Jato obtidos no Tribunal Superior Eleitoral mostram que o PT lidera lista dos financiados, seguido do PSDB, sua principal frente oposicionista (MEU CONGRESSO NACIONAL, s.d.).
No entanto, a Operação Lava Jato, que é tida como a maior arma de combate à corrupção nos tempos atuais, recebe críticas quanto atuação dos agentes da Justiça Federal, Polícia Federal e Ministério Público Federal por parte promotores, magistrados dos tribunais superiores, advogados renomados, juristas e cientistas políticos (CAVALCANTI, 2016). Para eles, práticas como a quebra do direito ao contraditório pelos réus, o cerceamento do direito de defesa, prisões preventivas visando delações premiadas e o vazamento de informações, revelam um certo grau de seletividade e uma relação simbiótica com a imprensa que objetiva produzir um julgamento público ainda no decorrer das investigações.
Observa-se no ambiente midiático a manipulação de declarações, suposições e evidências colhidas seletivamente das investigações da Lava Jato como fatores instigantes para um cenário de crise no campo político, reforçando a ideia de que a operação tem um fim de caráter mais político do que jurídico; ao menos é o papel que acaba desempenhando.
Quanto a questão econômica, o governo se via obrigado a realizar um ajuste fiscal, seja com cortes no investimento público ou com o aumento da receita, numa tentativa de retomada do crescimento econômico. Contudo, o impacto social na vida cotidiana causado por esse ajuste fiscal foi grande:
“A liberação dos preços administrados - como energia, água e combustível - aumentou o custo de vida. Apenas este ano, a conta de luz ficou quase 50% mais cara na média das principais regiões do País. O aumento de IOF encareceu o crédito ao consumidor, que já está sendo pressionado pela alta da taxa básica de juros. [...] E o acesso a benefícios sociais, como seguro-desemprego e abono salarial, ficou mais restrito” (LIMA; CONGO, 2015).
Em meio ao contexto de crise econômica e escândalos de corrupção, em diversos setores da sociedade se nutria uma mistura dos sentimentos de indignação, descontentamento e falta de confiança em relação ao atual governo. A base do governo já fragilizada lutava pela aprovação de um ajuste fiscal cada vez menor, que somado à perspectiva de pessimismo, tanto da população como dos setores de comércio, indústria e construção, tornavam mais difícil a retomada do crescimento econômico (PASSARELLI, 2015).
Análise do processo da interação social na crise
O clima de conflagração predominante no último período eleitoral, onde Dilma Rousseff derrotou o candidato Aécio Neves, do PSDB, nas eleições presidenciais por uma margem muito estreita, se intensificou. O surgimento do Movimento Brasil Livre e Vem Pra Rua faziam uma convocatória para a retomada das ruas pela população que se sentia indignada quando a atual conjuntura e desta vez a pauta era clara: o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Apesar dessa integração de movimentos e setores conservadores da direita e liberais, pode-se observar que a motivação da população presente nas ruas não era de teor ideológico muito forte e diziam mais respeito à situação econômica e suas implicações sociais.
Revoltados com o caso no cenário político-econômico-social, os manifestantes atribuíam responsabilidade dos problemas sociais e econômicos à presidente Dilma Rousseff, como se via nas expressões como “tudo culpa da Dilma” e “fora Dilma” em cartazes. Essa desgastante pressão e cobrança em cima da presidente, ainda que muitas das possíveis soluções para os problemas apontados não dependam direta ou exclusivamente dela, se deve ao fato de no nosso modelo político depositarmos as maiores expectativas na figura do chefe do executivo federal (BRITO, 2013).
Em resposta, aqueles que defendiam o governo da presidente saíram nas ruas contestando a base legal do impeachment e que a admissibilidade do processo no Congresso Nacional tinha motivação política, de setores da direita que queriam chegar ao poder.
Via-se uma carga emocional muito forte nos discursos e uma impossibilidade de diálogo entre os lados, ilustrando um verdadeiro “fla-flu político”. Caracteriza-se aqui um processo social dissociativo classificado como conflito, isto é, um “processo de interação social altamente energético que se desenrola de maneira consciente, intermitente, pessoal e de modo emocional entre indivíduos, entre grupos e/ou indivíduos e grupos que têm ou acreditam ter metas incompatíveis” como define Reinaldo Dias (2006) em Fundamentos de Sociologia Geral.
Essa interação social se dá de forma intermitente, visto que não é algo contínuo; cessa e recomeça diante da divergência de interesses, ou seja, na ausência de conflito os grupos tendem a se desfazer. Tem caráter consciente e pessoal em razão de que se sabe quem é o seu opositor e o conflito é dirigido diretamente a pessoa ou grupo envolvido. Neste se busca sobrepor os interesses do grupo que se pertence sobre os interesses do grupo antagonista.
Considerações finais
A experimentação das ruas pelo brasileiro é algo novo, assim como seu recente despertar político, o que é algo extremamente importante. Contudo, as reivindicações são feitas de forma muito geral e não direcionadas às suas respectivas autoridades responsáveis. Como já explicado no caso da presidente Dilma, onde o status e o papel de líder do poder executivo atribuídos a ela, lhe resultavam numa exaltante cobrança.
Quanto a situação econômica e seu impacto social, da mesma forma que os efeitos positivos no momento de crescimento econômico são refletidos em todos os setores da sociedade, um momento de recessão também demonstra fortemente seus efeitos negativos que são sentidos na pele por maior parte da população.
Em meio a esse cenário de desemprego crescente, precarização dos serviços públicos e enfraquecimento das políticas sociais, movimentos sociais, estudantis e sindicatos trabalhistas vêm se organizando em defesa de seus direitos. Através
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