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Mangás: do Japão ao mundo

Por:   •  8/3/2018  •  5.081 Palavras (21 Páginas)  •  275 Visualizações

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Os jornalistas europeus eram quem escreviam, e além disso, desenhava as charges políticas que representavam a situação atual do arquipélago. Essas charges são o grande impulso para o desenvolvimento dos quadrinhos. George Bigot e Charles Wirgman eram jornalistas e chargistas que foram enviados ao Japão como correspondentes, sendo os criadores dos primeiros cartuns que chegaram no país.

Décadas depois, no século XX, Rakuten Kitazawa foi o primeiro ilustrador japonês a usar personagens regulares em seus quadrinhos, que já chamava de mangá. Foi bastante influenciado por Wirgman e foi o mais famoso chargista do Japão, chegando a atingir fama internacional. Sua primeira série, Togosaku e Morubê passeando em Tokyo, era publicada no “Jiji Mangá”, um suplemento dominical.

O mangá, até então, era de cunho político e voltado para os adultos, já que retratava as transformações políticas e econômicas do Japão. No fim da Era Taisho, foram publicadas as primeiras histórias infantis, tais como Shochan no Boken, Manga Taro e Norakuro. Mesmo sendo influenciados por outros artistas, mais tarde foram desenvolvendo seus próprios estilos de narrativa e traço.

Cada vez mais os japoneses focavam nas histórias infantis, fazendo com que o número de publicações nacionais crescesse e, consequentemente, fechasse as portas do mercado estrangeiro. Essa tendência ainda pode ser vista nos dias de hoje, já que há muita dificuldade em encontrar comics americanas ou europeias nas lojas de mangá. Alguns personagens mais populares, como Batman, Superman e Spiderman acabam sendo conhecidos pelos artistas, que os transforavam em referências.

Com a quebra da bolsa americana em 1929, os mangás passaram pelo que se acredita ser a primeira crise enfrentada por essa indústria. As histórias retravam o fortalecimento militar. Para o público infantil, predominavam as histórias que tentavam consolar as crianças, inventando uma realidade alternativa para onde poderiam escapar, seja para a selva, com o mangá Bonen Dankichi, o Aventureiro; para o espaço, em Kasei Tanken – Expedição a Marte; ou para o passado, em Norakuro.

Foi esse período que aconteceu a distinção entre os mangás para adultos e crianças, meninos e meninas, sendo essa uma forte característica do mercado do mangá até os dias de hoje.

Durante a Segunda Guerra Mundial, outra crise. A produção do mangá é praticamente extinta, uma vez que os recursos direcionados a esse fim passaram para outras áreas mais importantes da economia japonesa. A leitura de mangá era proibida até mesmo para as crianças. Os únicos mangás permitidos eram os de cunho militar, devido a censura e represália do governo. Até mesmo os autores, caso não concordassem com os critérios impostos, eram banidos de sua profissão. Com a derrota do Eixo, do qual o Japão era parte, o espírito japonês estava acabado.

Tal acontecimento somente fortaleceu a estruturação do mangá como o conhecemos, pois deu origem aos akai hon. Os akai hon eram livrinhos de capa vermelha, grosseiros e baratos, mas que permitia aos desenhistas a liberdade de expressão, algo que lhes fora tomado durante a guerra. Não eram bem pagos, mas poderiam desenhar o que quisessem, desde que não atacassem o povo americano.

Foi nessa época que surgiu a grande figura Osamu Tezuka, conhecido como Manga no Kami, o Deus do Mangá. Influenciado por desenhistas ocidentais como Walt Disney, Osamu trabalhou em akai hon e, praticamente sozinho, reconstituiu a linguagem do mangá, dando início a sua era moderna. Alguns de seus títulos, conhecidos inclusive aqui no Brasil, mostravam valores e carinho, tais como Astro Boy, Kimba, O Leão Branco e A Princesa e o Cavaleiro. Osamu, em 40 anos de profissão, produziu em torno de 150 mil folhas. Em 1987, concluiu os 400 volumes de suas obras, que foram todas produzidas com suas mãos, já que não existia o computador. Tezuka veio a falecer em 9 de fevereiro de 1989, aos 60 anos de idade, deixando para trás uma obra de valor inestimável, além do legado do mangá como é conhecido.

1. 2 BRASIL

O mangá se manifestou claramente em terras brasileiras a partir da década de 1990, porém já tinha meios de ganhar fama no início do século XX, quando os imigrantes japoneses chegaram ao Brasil. As famílias não imigraram devido a uma crise no Japão – na verdade, naquela época, o país estava se desenvolvendo economicamente. Sua intenção era tentar a sorte e acumular capital, para poder voltar ao Japão enriquecidos. Foram estabelecidas colônias entre o Paraná e o sul de São Paulo, onde o clima era mais parecido ao de sua terra de origem. Contudo, aos poucos, os imigrantes resolveram ficar em solo brasileiro e fixar residência.

A população nipo-brasileira, atualmente, ultrapassa um milhão de pessoas, que se concentram nos grandes centros urbanos, como Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, fato que lhes permite causar bastante influência sobre a formação da cultura brasileira.

A permanência no Brasil gerou um medo muito grande nos imigrantes – não somente os japoneses: o aculturamento de suas futuras gerações e a consequente perda de suas raízes. Isso levou alguns a colocarem seus filhos em escolas que eram construídas pelos próprios imigrantes, onde as crianças receberiam a educação japonesa tradicional.

Além da preocupação com o envio dos filhos a escolas brasileiras, criou-se a iniciativa da criação de escolas japonesas, com o objetivo principal de ensinar a língua. O japonês era falado em casa, e grande parte das crianças chegava à escola sem nunca ter ouvido a língua portuguesa. As crianças também dispunham de outros elementos para manter contato com a língua, como livros e revistas de histórias em quadrinhos, especialmente as de conteúdo didático. Para algumas crianças, o aprendizado de japonês era encarado como algo imposto pelos pais, então os mangás ajudavam a corrigir as possíveis falhas na língua.

Dessa forma, juntamente com os imigrantes, o mangá chegava ao Brasil de maneira sorrateira, como forma de preservar a cultura do japonês e de ajuda-lo a manter contato com sua sociedade. Ao passar do tempo, foram surgindo em São Paulo, dezenas de sebos, mais precisamente localizados no bairro da Liberdade, onde várias publicações japonesas eram vendidas, desde revistas e jornais, até mangás.

Todo esse contato entre o mangá e o Brasil, possibilitou o surgimento de artistas nipo-brasileiros que desenhavam quadrinhos com a linguagem do mangá. Paulo Fukue, Claudio Seto e Julio Shimamoto começaram a partir da década de 1960. Nos anos 1990, Érica Awano e Fábio Yabu

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