Homens do mar, peixes da terra
Por: Rodrigo.Claudino • 3/10/2018 • 2.636 Palavras (11 Páginas) • 304 Visualizações
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2.2. O Preconceito em relação a pratica da mulher em alto mar
Ao questionar a participação da mulher na pesca ele declarou o seguinte:
”mulher na canoa em alto mar nem pensar, elas não sabem e não possuem a manha de manejar o equipamento além de ser nervosas, por qualquer tombo no casco elas gritam logo.....”(Eliseu). Outro pescador ouvido preferiu adentrar pelo lado do preconceito e dos mitos existentes quando uma mulher entrar na canoa ou tenta manusear o(s) equipamento(s). “Na minha “São João Eudes” muié não entra nem quando ela tá afundiada no raso...” Em todos os grupos pesquisados o preconceitos e os mitos com relação ao contato de mulheres com as canoas e os equipamentos é o mesmo. Por as mãos nas redes, nas fieiras de anzóis, nos arpões etc., pode trazer sérios prejuízos financeiros para as atividades de pesca realizadas pelos homens em alto mar, é assim que eles pensam.
As mulheres, apesar do preconceito mostrado no paragrafo anterior, possuem sim uma grande importância na vida dos grupos de pescadores artesanais em que tivemos oportunidade de pesquisar. As atividades das mulheres na atividade de pesca estendem-se desde a fabricação de artesanatos para aumentar a renda familiar, passando pela pesca de mar raso ou de terra, indo, em alguns grupos, até a participação no tratamento do pescado e/ou comercialização da produção, seja em cooperativas ou para turistas na praia mesmo depois da chegada das canoas do alto mar.
Essas mulheres “pescadoras” mesmo com todo o suporte para a manutenção e participação da renda familiar ainda passam por preconceitos, às vezes dos próprios companheiros, e muitas são ridicularizadas quando se autodenominam: Pescadoras. Mas, é assim mesmo que elas se classificam e são vistas pelo Ministério da Agricultura, ao qual é vinculado o trabalho de pescador em algumas regiões do Brasil. Muitas dessas mulheres pescadoras são cadastradas nas colônias e recebem o seguro defeso, beneficio pago aos trabalhadores da pesca em época de proibição da atividade de pesca.
De acordo com pesquisas que fizemos as mulheres participam da atividade de pesca em alto mar, mas nesses casos, elas trabalham em empresas pesqueiras e em grandes embarcações, uma atividade de pesca industrial que não foi alvo de nossas pesquisas, por isso mesmo, colocamos aqui apenas como uma informação a mais e sem maiores detalhes.
2.4 – As Tripulações das Canoas
Na atividade de pesca artesanal, praticada nas localidades pesquisadas, bem como em boa parte do litoral do Nordeste, a composição da tripulação das canoas são permeada pela participação efetiva de parentes dos grupos de pescadores. O principio do parentesco é uma das principais formas de montagem das tripulações das canoas, por isso mesmo, a atividade da pesca artesanal é uma profissão que passa por várias gerações e, dificilmente, um parente dos patriarcas das famílias desses grupos foge à regra e procura outro meio de trabalho e de vida.
Vale ressaltar, entretanto, que sempre existi exceção à regra, como por exemplo, o caso do filho mais jovem do Sr. Américo, pescador veterano que trabalha no Cajueiro da Praia e, que abriu esse nosso trabalho com seu depoimento, que desde muito jovem sempre se mostrou arredio quanto a seguir a profissão do pai e que hoje reside e estuda na cidade costeira do Estado do Ceará, Camocim. O importante que devemos ressaltar nessa relação afetiva é que, em nenhum momento, ele foi coagido a ficar na comunidade e seguir à vida de pescador. “Ele nunca gostou de pescar... às vezes quando ele vem aqui traz com ele uma vara dessas que a gente ver na televisão e inventa de pescar com os amigos, mas ele nunca pega nada e chega sempre melado.”
Outro fator importante quanto à montagem das tripulações das canoas é que, mesmo o parentesco sendo fundamental nos grupos, ele modifica-se por vários outros fatores além do citado no paragrafo acima e que, dependendo das condições do mar, essa tripulação pode mudar, trocando-se pescadores inexperientes por pescadores mais rodados na vida do alto mar. Essa prática nos foi relatada em praticamente todos os grupos estudados, sem falar também das mudanças frequentes, principalmente nas segundas-feiras, onde muitos pescadores que beberam muito no domingo aparecem sem condições para a difícil tarefa de passar horas dentro de uma canoa em alto mar. “Mamados não entram na minha canoa”, nos relatou Sr. Rodrigo, um pescador da localidade da Pedra do Sal.
2.5 – A Divisão do Pescado
Uma pescaria é composta de muitas etapas que devem ser seguidas rigorosamente dentro dos padrões para que nenhuma das partes envolvidas saia prejudicada financeiramente. Uma etapa muito importante e que gera muitas discórdias é a divisão do pescado ou do montante financeiro gerado pela venda dos mesmos.
A principio não nos foi possível definir uma regra padronizada que seja adotada em todas as comunidades que visitamos, muito menos em grupos dentro de uma mesma comunidade, porém podemos enumerar três formas bem peculiar e que encontramos em todas as comunidades: a divisão igualitária, a divisão que iremos chamar de, “o que eu pesco é meu” e finalmente a divisão do mestre, onde o proprietário da canoa retira um percentual para ele e o que sobra é dividida igualitariamente entre o restante da tripulação. Os percentuais dessa terceira divisão variam muito de um local para outro, mas giram entre 25% ou 30%.
Ainda com relação à divisão do pescado é importante salientarmos a exploração que alguns grupos sofrem dos “patrões”, e que os pescadores chamam de “tubarões” que, usando de seu poder econômico, financiam as embarcações e os equipamentos, mas que cobram caro por isso. Nesses casos os percentuais estipulados acima podem aumentar vertiginosamente chegando aos 50%, ficando ainda quase toda a produção nas mãos dos “tubarões”, que geralmente, revendem essa produção para os atravessadores.
3 – O Trabalho no Mar
3.1 – Uma Profissão Arriscada
Se existi uma regra geral na profissão de pescador, seja ele artesanal ou industrial, é que essa é uma das profissões mais perigosa e desgastante, física e mentalmente. Vale frisar que os perigos a que estão sujeito o pescador, vai muito além dos perigos de acidentes e riscos de morte que ele passa ao longo de sua vida.
Os casos de acidentes com os grupos por nós pesquisados, felizmente não foram muitos. O caso que nos
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