Economia da Cultura Comum
Por: kamys17 • 28/1/2018 • 3.839 Palavras (16 Páginas) • 354 Visualizações
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Neste sentido, vale ressaltar uma ação que vem acontecendo no extremo da zona sul da cidade São Paulo, na região de Campo Limpo, onde pulsa uma iniciativa juvenil de fomento à cultura de extrema importância para se entender novas possibilidades de desenvolvimento local atreladas à economia da cultura. Esta iniciativa é a implantação de uma agência de fomento à cultura popular, a Agência Popular Solano Trindade.
No entanto, para entender como a cultura passou a mobilizar uma ação tão expressiva na região é necessário buscar as suas origens nas ações dos movimentos sociais, sobretudo os liderados por mulheres, que começaram a se organizar na década de 60 para lutar pelo direito à cidade nas periferias, como acesso a água, energia elétrica, saneamento básico, equipamentos públicos, transporte, educação, saúde e moradia na região. Com o envolvimento das mulheres nas lutas políticas, sociais e comunitárias, em 1987, foi fundada a União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências (UPM), no bairro Maria Sampaio lutar pela emancipação da mulher e pela igualdade nas relações
c ” (Site da UPM). A associação se organizou para possibilitar um espaço de articulação e
desenvolvimento comunitário para a região, desempenhando o papel de pressão política como sociedade civil para melhorias locais, passando a vocalizar um importante papel no processo de representação de movimentos organizados e não legalizados, e na mobilização e fomento à
4 O conceito de periferia neste artigo, se referencia pelos conceitos da urbanista Raquel Rolnik O conceito de periferia foi forjado de uma leitura da cidade surgida de um desenvolvimento urbano que se deu a partir dos anos 1980. Esse modelo de desenvolvimento privou as faixas de menor renda de condicõ urbanidade e de inserc . E í
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.M precariedade e pela falta de assistencia e de recursos do que pela localizac . H
í
A x
x viviam em condicõ
”. E
í Eduardo Marques , ocupadas desde os anos 1970 por populacõ
os tipos de risco. Em termos recentes, as periferias tem se tornado mais heterogeneas socialmente, assim como te í
, embora grandes diferencas de qualidade dos servicos ainda perdurem. Apesar de ainda ser espacos de pobreza e privac , elas se transformaram muito. Por isso, faz mais sentido falar de periferias (no plural) nos
”.
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organização popular para a luta e conquista da plenitude de seus direitos sociais, econômicos, políticos, ambientais e culturais. Suas frentes de atuação são diversificadas e trabalham questões relacionadas ao combate à violência doméstica, grupo de mães, feiras socioculturais, idosos, acolhimento de jovens em LA (liberdade assistida) e PSC (prestação de serviço a comunidade), atendimento jurídico e psicológico, biblioteca, alfabetização de adultos (MOVA) e acompanhamento escolar e loja social.
No entanto, os focos de atuação mais impactantes da associação em termos de desenvolvimento local e afirmação identitária vieram da articulação entre economia e cultura. Em 2005, a associação remeteu projeto para o edital de Ponto de Cultura do Programa Cultura Viva e foi contemplada. Inicialmente, o ponto realizava atividades culturais no formato de oficinas para terceira idade com foco no artesanato. Entretanto, as ações desenvolvidas pelo ponto acabaram por fomentar diálogos intergeracionais que resultaram em atividades pautadas pela profissionalização dos produtores de cultura e voltadas para a geração de renda da população local, envolvendo idosos, adultos, jovens e crianças. Rafael Mesquita, coordenador cultural da associação, relatou que com o ponto de cultura foi possível agregar outras pessoas que foram muito importantes para o fortalecimento de uma rede sociocultural, que passou a envolver coletivos artísticos e culturais responsáveis pela produção cultural da região.
Em 2009, por meio de uma parceria entre Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENES-MTE), Instituto Palmas (ligado ao banco Palmas, primeiro banco comunitário com moeda social no Brasil), Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da USP (ITCP- USP), foram fomentados 05 bancos comunitários, a partir do projeto Economia Solidária para as Regiões Periféricas de São Paulo. A princípio, os bancos seriam atrelados aos movimentos de moradia na construção de habitações por sistema de mutirão. No entanto, somente quatro movimentos de moradia assumiram os bancos comunitários em lugares distintos da cidade. A convite da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP-USP), a União de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências surgiu como uma possibilidade para a formação de um banco comunitário, por ter uma ação comunitária consolidada há quase três décadas com uma atuação local importante, sobretudo no que diz respeito aos direitos das mulheres e as feiras socioculturais de economia solidária que a entidade promovia. Por fim, reunia requisitos fundamentais para a constituição de um banco comunitário (BERGAMIN, 2011, p.3).
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Neste contexto, surgiu o Banco União Sampaio, que contou com recursos para estruturação do espaço físico do banco (uma sala já existente, que teve uma laje construída), equipamentos (computadores), formação da equipe para administrar as operações do banco (a equipe do Banco Palmas foi responsável pela formação), fabricação da moeda (em papel moeda), dois mil reais para o criação do lastro da moeda e pagamento de salário para a equipe por aproximadamente seis meses. É importante ressaltar o processo participativo de construção da identidade do banco e da moeda social. Rafael Mesquita relata que:
... eleição popular. Sobre o nome do banco levantamos várias sugestões com os frequentadores da associação e das pessoas envolvidas no processo de criação. Divulgamos na comunidade e depois realizamos um encontro em que escolhemos o nome Banco União Sampaio que veio das junções: União, pelo seu significado simbólico e por também estar em nosso nome União Popular de Mulheres e Sampaio porque é o nome do Bairro. Com a moeda foi o mesmo processo, mas o legal da moeda
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