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A ARTE NA RÚSSIA DE 1920 A 1930

Por:   •  20/12/2018  •  2.079 Palavras (9 Páginas)  •  370 Visualizações

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Com intuito de resolver os problemas dos SVOMAS, eles foram unificados pelo NARKOMPROS e criou-se o Ateliê Superior Técnico-Artístico Estatal, o Vkhutemas, em novembro de 1920. O Vkhutemas centralizava administrativamente o ensino das artes e era um polo de experimentação das diversas vanguardas. A maioria dos seus professores eram os artistas das vanguardas russas e em conjunto com outros conservadores se tornou um polo de embate entre as diferentes correntes artísticas: o simbolismo, as vanguardas (construtivismo, suprematismo, cubo-futurismo) e o pensamento figurativo realista e neoclássico. Tinha o objetivo de transformar a sociedade. Ele unia as faculdades de pintura e escultura com as faculdades de produção (arquitetura, artes gráficas, tipografia, trabalho de metal e madeira, têxtil e cerâmica). Qualquer um podia assistir as conferências e seminários. Em 1924, possuíam 1445 alunos matriculados – a Bauhaus, no mesmo ano, tinha 8 vezes menos. Para os jovens que não tiveram acesso ao ensino tradicional na Rússia e queriam entrar no Vkhutemas, foi criada a Faculdade Artística Operária, RABFAK, voltada para um ensino de caráter técnico-artístico e servia como um curso preparatório.

No Vkhutemas os alunos entravam em um curso básico de duração de 2 anos, onde recebiam formação artística e profissional – base do conhecimento artístico, técnico e social para a prática da arte. O curso consistia nos seguintes temas:

- a influência máxima da cor;

- a forma através da cor;

- a cor no espaço;

- a cor no plano;

- construção;

- simultaneidade da forma e da cor;

- volume no espaço;

- história da arte ocidental; e

- tutoria.

O restante do curso era composto por matérias científicas e profissionalizantes (química, física, matemática, tecnologia dos materiais, processos de produção), história da arte, ciência social e matérias artísticas (teoria da forma, cor, espaço, composição, organização). Haviam as matérias práticas obrigatórias realizadas nos ateliês específicos de cada área: pintura, escultura, tipografia, madeira, metal, têxtil – que tinham a finalidade de formar uma nova classe artística de alto padrão e comprometida com a revolução e a sociedade. Essas especializações eram separadas por faculdades. Havia uma valorização do conhecimento do material e estímulo ao processo de experimentação.

Uma de suas características foi o desenvolvimento teórico das linhas de pesquisas de seus artistas. Tanto o Construtivismo quanto o Produtivismo tiveram seu pleno desenvolvimento a partir dos debates dentro do Vkhutemas. No período de sua existência, foram lançadas algumas revistas onde eram publicados os textos dos artistas: a Lef, editada por Vladimir Maiakovski, de 1923 a 1925; a Novi Lef, editada por Rodtchenko, de 1927 a 1929; e a Makoviets, editada pelo grupo da Faculdade Poligráfica.

Com a morte de Lenin e o ingresso tardio da União Soviética no processo industrial, começaram algumas mudanças na concepção estética e de comunicação do governo, que refletiram em mudanças no ensino da arte. Com a ascensão de Josef Stalin ao poder, há uma reorientação para a modernização e industrialização intensiva centralizada pelo Estado, que não mais deixava espaço para as experimentações e ensaios do Vkhutemas, não havendo mais razão de existir no formato em que foi estruturado. Stalin foi proibindo todas as manifestações artísticas e os artistas, com receio de perder suas conquistas, passam a se adaptar às novas determinações. Em 1927, o Vkhutemas passa a se chamar Vkhutein e se transforma numa instituição mais rígida e formal, tornando-se basicamente uma escola de design. Em 1930, as atividades do Vkhutein são encerradas e, em 1932, a União Soviética adota o Realismo Socialista como política de estado.

Durante muitos anos, a precedência das vanguardas russas sobre outros movimentos modernos foi praticamente ignorada pelos historiadores. Enquanto a influência da Bauhaus foi conservada e publicada, durante anos a existência do Vkhutemas foi esquecida. Apenas nos anos 1960, com a publicação dos livros The Russian Experiment in art 1863-1922, de Camilla Gray, e URSS Architettura 1917-1936, de Vittorio de Feo, sua importância histórica passa a ser pesquisada.

Dentre as razões deste ‘esquecimento’, o Professor Luiz Antônio Pitanga do Amparo cita:

[...] foi um boicote premeditado. Tanto a Bauhaus quanto o Vkhutemas foram fechados por dois ditadores fascistas. Pelos mesmos motivos, perseguiram e calaram os artistas de vanguarda impondo um retorno aos modelos neoclássicos greco-romanos. Como se explicaria, então, o fato de a Bauhaus continuar sendo discutida e publicada ininterruptamente?

[...] o Vkhutemas era uma espécie de comunismo possível... A esquerda controlava algumas revistas e jornais e alguns editores eram comunistas ou pelo menos simpatizantes. Acharam que falando mal de Stalin poderiam prejudicar a causa.

[...] foi na Rússia, com Malevich, em 1913, a primeira manifestação de arte abstrata, com o quadrado negro sobre fundo branco. Ele lançou o manifesto do suprematismo em colaboração com Maiakovski e publicou no Die Gegenstandlose Welt na Alemanha, em 1927, preocupando-se em fundamentar suas ideias apesar das dificuldades de sua má formação. Ela não tinha, digamos, a cultura e o refinamento intelectual de Kandinsky, mas seus pensamentos, frutos de sua poderosa inteligência e inesgotável criatividade, estão todos lá. Stalin abandonou Malevich e mais de cem artistas e arquitetos geniais à própria sorte, alguns morrendo de fome por não poderem mais trabalhar, e quem o incomodasse, ele mandava fuzilar. O pavor provocado nos artistas e intelectuais, e que a esquerda no Ocidente abafou irresponsavelmente, foi tão grande que, apesar do silêncio imposto até os anos 1960, sabia-se mais sobre o construtivismo no Ocidente do que na própria Rússia. Em minha primeira viagem à Rússia, obtive um valioso depoimento de uma professora da faculdade de Moscou, que na sua formação de arquitetura teve aulas com vários expoentes do construtivismo, que nunca falaram uma única palavra sobre o construtivismo. Os alunos só podiam consultar a biblioteca no último ano de graduação. (PITANGA DO AMPARO, 2005, entrevista para a revista online aU).

Em 10 anos de existência, o VKHUTEMAS deixou um legado fundamental

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