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A EVOLUÇÃO DAS ARTES GRÁFICAS NO BRASIL ENTRE AS DÉCADAS DE 1960 E 1970

Por:   •  6/11/2017  •  2.697 Palavras (11 Páginas)  •  478 Visualizações

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Portanto, é importante compreender a relação entre o contexto político-social e no que isto influenciou na abordagem criativa de seus cartazes durante a década de 60. O destaque desta fase foi a combinação da cultura e da política e também da arte, que foi amplamente utilizada como um mecanismo de militância social. Tudo isso em um momento em que as torturas, as prisões e os desaparecimentos de pessoas passaram a fazer parte do cotidiano nacional. Em oposição à estes atos, surgiram inúmeras mobilizações populares, como as Ligas Camponesas[1] e as organizações estudantis, que foram brutalmente sufocadas pelos militares.

Estas organizações, lideradas em sua maioria por jovens universitários, ocorreram devido à expansão das universidades públicas na época e ao aumento dos estudantes que coincidiu com a adoção de novas correntes políticas no meio universitário. O foco era a resistência ao regime militar. E posto que uma das inspirações do cartunista Ziraldo para a elaboração dos seus cartazes foi a escola francesa dos “grandes” (sic.) affichistes (cartazistas, em francês), é válido fazer uma breve abordagem sobre o que acontecia na França nos anos 1960.

Para a sociedade francesa, a década foi marcada principalmente por manifestações estudantis, e, mais precisamente no ano de 1968, ocorreu uma grande onda de protestos iniciadas por estudantes para solicitar reformas no setor educacional. Uma dessas revoltas estudantis acarretou o surgimento do grupo Grapus em 1970, que era composto por artistas gráficos que produziam cartazes expressando assuntos culturais e políticos para diversos fins, representando com seus princípios idealistas uma interação entre o governo e os cidadãos franceses. As características dos cartazes desse grupo eram as cores vivas, as formas sensuais e os rabiscos. Isso inspirou alguns estudantes brasileiros de design gráfico na época.

Desta maneira, tendo conhecimento das fontes de inspiração do artista gráfico Ziraldo, as análises realizadas darão ênfase em alguns dos cartazes que ele produziu para inúmeros eventos, movimentos, filmes e peças de teatro exibidas durante esta década no Brasil. Entretanto, primeiramente é necessário abordar alguns conceitos da área, como explica Leite:

A evolução dos recursos de impressão e de fabricação de papel, ocorrida na virada do século XIX, possibilitou a produção em escala, necessária para a que a comunicação de massa, fomentada pela industrialização, abrisse espaço para o trabalho de artistas gráficos. Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, formou-se uma geração de ilustradores comerciais muito talentosa. A partir da segunda metade do século XX, nosso ambiente cultural fervilhou, ganhando uma dinâmica muito abrangente. Foi justamente no período do regime militar (1964-1985), com a restrição à liberdade de expressão e a forte censura, que, contraditoriamente, o país viveu um boom de criatividade, liderado por intelectuais em uma resistência cultural inquieta e produtiva (LEITE, 2009, p. 19).

Com o avanço dos meios de comunicação em massa e da evolução dos recursos de impressão descritos anteriormente, pode-se afirmar que os cartazes possuem mensagens gráfico-visuais que são impressas em grandes folhas de papel com intuito de interagir com determinado público-alvo. Suas dimensões são baseadas na relação ergonômica[2] entre o observador e o cartaz, além do fato de dependerem da sua localização em espaços com grande concentração de pessoas e situado com a finalidade de alcançar a visão do público.

Um fator importante na criação de cartazes é o uso de cores planas, que é qualquer cor com apenas uma tonalidade e que facilitam o entendimento e a visualização do observador, além de conceder uma melhor estilização para as imagens. Outro caso, é o fato dos cartazes muitas vezes aparentarem serem simétricos ao olhar do público, mesmo que não haja uma simetria absoluta, isso de acordo com o local em que a imagem, o título ou o texto são posicionados.

Além disso, segundo Leite (2009, p. 25) “o cartazista levará em conta a velocidade média das pessoas ao transitarem no local de exibição do cartaz e o tempo provável para a apreensão da mensagem”, podendo relacionar isto ao fato do possível interesse do observador, levando em consideração que os cartazes possuem um breve tempo de vida. Esta mídia é, portanto, diferente das demais em que as pessoas se dirigem, como livros, revistas, jornais, televisão, cinema e internet, pois ela necessita de ir em direção às pessoas para que o seu objetivo seja cumprido.

O designer gráfico é, consequentemente, o responsável por “abranger tradicionalmente o projeto e a execução de superfícies gráficas bidimensionais [cartaz, livro, anúncio publicitário etc.]”, diz Schneider (2010, p. 203). Contudo, para o objetivo ser cumprido e o produto assumir a sua real função de informação para o público, deve-se levar em conta, além das funções técnicas, práticas e simbólicas, o contexto político e social enquadrado.

Considerando esses conceitos, Ziraldo, com o seu domínio técnico sobre os materiais que utilizava, produziu cartazes para filmes nacionais nesse período e muitas dessas criações se tornaram clássicos. Em plena fase do Cinema Novo[3], o designer gráfico possuía um livre acesso para sair da linguagem visual, comumente usada no meio comercial, para a utilização de figuras mais expressivas. E, devido ao cartunista muitas vezes estar ciente apenas do título do filme pelo diretor, as criações livres tomavam espaço com base nas ideias que os títulos sugeriam, o que consequentemente trouxe maior poder de comunicação aos cartazes. Com base nisso e nas inúmeras formas de interpretação dos nomes dos filmes, essa característica autoral fez Ziraldo começar a conduzir opinião através deles. Um exemplo é o cartaz para o filme Os paqueras, figura 1, de 1969. A seguir um pouco mais de informação sobre o material, segundo Leite:

Quando contextualizamos o desenho criado para o filme Os paqueras (1969), de Reginaldo Faria, vemos mais que a ilustração mostra: um homem de olhar malicioso, que sai de dentro da própria cabeça – com o mesmo olhar malicioso – e nu! Para entender a ousadia desta ideia é necessário deslocar nosso pensamento para a fervilhante década de 1970, quando a liberação sexual era uma conquista em curso e a censura imperava. O homem que se liberta, que existe dentro dele próprio, assumia a sua verdadeira face e deixava claros seus desejos sexuais, até então hipocritamente escondidos. Detalhe: cada um virado para um lado diferente, mas

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