A Sabedoria dos Monges na Arte de Liderar Pessoas
Por: SonSolimar • 29/9/2017 • 7.243 Palavras (29 Páginas) • 621 Visualizações
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deve comer muito. A palavra latina edax (= voraz) é normalmente empregada para animais. Poder lidar com as coisas de uma maneira humana é um sinal do amadurecimento de uma pessoa. Aquele que devora a comida não está em contato com aquilo que come. O que Bento quer dizer com o perigo da “voracidade” mostra-se hoje em diversas esferas.
Humildade: As qualidades que Bento espera de uma personalidade de liderança também poderiam ser chamadas de virtudes. Somente aquele que interiorizou virtudes serve para exercer a liderança. Uma dessas virtudes é a humildade. Bento ordena que o celeireiro seja humilde, que ele tenha coragem de contemplar a sua própria humanidade. A humildade implica aceitar a própria fragilidade e inconsciência, reconhecer que se é um ser humano, que cai constantemente, cuja estrutura de vida pode demonstrar facilmente.
Serenidade: A próxima qualidade do celeireiro é “não ser turbulento”. Descreve uma pessoa que não pode alcançar a tranquilidade porque é constantemente comandada pelo ruído de sues próprios pensamentos, porque é puxada de um lado para o outro pelas diferentes emoções que residem em sue interior.
Senso de justiça: Bento determina que o celeireiro não seja rude, que não seja injuriador, não significa apenas a injuria, mas também a violência, a desonra, o dano, o ferimento. Bento exige de uma pessoa que toma para si a responsabilidade por outras, que encare seus próprios ferimentos.
Hoje em dia nas empresas, particularmente entre homens e mulheres, ocorrem várias ofensas. Todavia, as ofensas fazem com que as pessoas adoeçam e elevem o índice de não-comparecimento ao trabalho. Aquilo que o líder desejou economizar por meio da organização e do controle é perdido em dobro por meio de um alto índice de faltas ao trabalho.
Clareza nas decisões: Bento com certeza não tem nada contra que o celeireiro trabalhe calmamente e concentrado naquilo que faz no momento. Existe uma forma de lentidão que está ligada a um bloqueio da alma. Quando alguém está em contato com sua fonte interior, a fonte do Espírito Santo, o trabalho jorra de seu intimo, então brota alguma coisa desta pessoa. Existem pessoas que não podem decidir-se, porque são muito perfeccionistas. Para Bento, a clareza na decisão é uma virtude espiritual. Ela se origina da intuição, no momento em que o monge ouve a voz do Espírito Santo em seu interior e nela confia.
A incapacidade de tomar decisões é certamente o maior obstáculo de uma liderança verdadeira. Se numa empresa as decisões são constantemente adiadas, os funcionários se tornarão insatisfeitos e reprimidos em seu entusiasmo.
Senso de economia: O celeireiro não deve ser pródigo. Ele deve lidar com as coisas de modo comedido e não esbanjá-las. O vicio de esbanjar remete a um tipo de caráter que é transtornado pela ausência de auto-estima ou pelo caos interior. Também aqui torna-se claro o mesmo sistema envolvido na incapacidade de tomar decisões. A pessoa usa as coisas para si mesmas em vez de servir a elas. Tudo serve apenas a si mesma. Porém, liderar significa servir às pessoas e às coisas, ter em vista em primeiro lugar as pessoas e o bem-estar da empresa e não o prestigio próprio.
Temor de Deus: Bento coloca como resumo um conceito central, que nós não esperamos de modo incondicional de um homem que deve manter em dia as finanças: que seja temente a Deus. O temor de Deus significa o encontro com Deus. Quando se exige o temor de Deus de um líder empresarial, Bento evidencia que para ele a espiritualidade não é algo puramente sobrenatural, mas que se expressa por meio de uma boa administração, de uma maneira adequada no modo de lidar com as coisas. Para nós, as palavras “temor de Deus” têm um som estranho. O temor de Deus liberta de medo humano. Aquele que tem medo de cometer erros e não assume isto diante dos outros não é capaz de liderar outras pessoas.
Atitude de pai: Hoje o estilo de liderança está voltado para a colaboração e comunicação. O líder tem de apresentar em si a qualidade do pai, não só para toda a coletividade, mas também para cada um de seus membros. Se o celeireiro deve ser um pai, isto significa encorajar seus colaboradores a se atreverem a alguma coisa, a correrem o risco de também cometer erros. Para um pai, o mais importante não é o prestigio, mais sim o bem-estar da família. Os elevados requisitos que Bento impõe ao celeireiro exigem um duro aprendizado de autoconhecimento e a disposição de trabalhar em si mesmo.
2. A arte de liderar O modelo de Bento
Zelo: O celeireiro deve zelar por tudo em torno de si. O líder que cuida ele mesmo de tudo, que se envolve em qualquer coisinha, já não serve de exemplo nos dias atuais. O trecho que diz que o celeireiro não deve fazer nada que não tenha sido ordenado pelo abate nos parece estar ligado à submissão do que à criatividade. Se o líder de uma empresa implementa constantemente suas idéias preferidas, criar-se-á na empresa uma agitação sem objetivos, que não levará a nada.
Atenção: Para Bento, trata-se aqui, acima de tudo, do cuidado. O celeireiro não deve simplesmente aceitar a tarefa que lhe foi dada pelo abade e executá-la mais ou menos. Não se trata aqui em primeiro lugar de obediência, mas sim de atenção àquilo que é exigido de mim, de ponderação em todas as decisões e de uma convivência cuidadosa e atenta com as pessoas.
Crença na “boa semente” da pessoa: Em cada ser humano existe uma boa semente, também naquele que aparentemente é insensato, que gira apenas em torno de seus próprios desejos. Bento determina que todos sejam respeitados. Liderar não significa que eu diminua o outro e o desvalorize.
No estilo de liderança pode-se perceber de imediato se o líder é moldado por desconfiança e medo, se faz uma imagem pessimista da humanidade ou se acredita na boa semente do outro. Pois um dos princípios básicos da psicologia é que a vida daquele que tudo deseja controlar com toda certeza acabará por sair do controle. Liderar significa motivar as pessoas, dar-lhes asas, encorajá-las a serem criativas. Ocupar os cargos não é nenhuma liderança.
A crença na boa semente do outro não exige que o líder deva satisfazer-lhe todos os desejos. O líder pode dizer um “não” categórico e chamar a atenção de alguém, quando isto for conveniente; porém sempre de modo que o outro não se sinta como um perdedor, que ele não seja diminuído ou desvalorizado.
Sem entristecer: Bento coloca-se aqui a tradição dos Padres do deserto. Ele definiu um monge como alguém que não aflige seus irmãos. O tema da tristeza esteve muito presente nos primórdios do monacato. O líder sempre ferirá seus colaboradores, se
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