A arte de argumentar Artista da vida
Por: Jose.Nascimento • 23/9/2017 • 5.274 Palavras (22 Páginas) • 687 Visualizações
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Durante o século XX o tema sofreu um desenvolvimento imenso devido, em particular, à descoberta da lógica moderna por Frege. Na verdade, o estudo da lógica desenvolveu-se em torno de uma idéia principal: a idéia de validade, que nos permite compreender a razão pela qual, em certas circunstâncias, podemos confiar nas conclusões a que chegamos ao fazer uma inferência.
A linguagem e a argumentação
A boa argumentação depende do domínio da língua materna, especialmente a linguagem escrita. Nossa gramática não é fácil e está restrita a um número relativamente pequeno de pessoas que puderam aprendê-la, geralmente por meio de muitas leituras (muitas no sentido quantitativo e qualitativo), esforço e dedicação. O padrão culto de nossa língua é um recurso precioso para uma boa argumentação.
A gramática deve ser conhecida, nos níveis ortográfico (aspectos relacionados à grafia e à acentuação das palavras), morfológico (parte da gramática que dá conta da forma das palavras, como as flexões verbais, por exemplo), sintático (regras de combinação das palavras e orações, concordância, regência) e semântico (sentido das palavras, semelhanças e diferenças de sentido). Quando elaboramos um discurso, precisamos pensar em suas variadas dimensões, mas principalmente nas três dimensões que mais importam: sintaxe, semântica e a pragmática.
- Sintaxe: estuda os aspectos simbólicos de uma linguagem. Inclui-se aos aspectos ortográficos, morfológicos e sintáticos. Por exemplo, escrever serumano ao invés de ser humano. Na lógica dedutiva a sintaxe é muito importante, pois ao usar uma linguagem correta, fica mais fácil sistematizar as inferências dedutivas válidas, detectando eventuais falácias.
- Semântica: estuda o significado das frases de uma linguagem, através de seu valor de verdade. A frase “Joana é boa atriz” é sintaticamente correta, mas seu valor lógico pode ser verdadeiro como falso e definirmos isso dependerá de sabermos quem é Joana e analisarmos sua atuação. Também podemos ter frases corretas sintaticamente sem significado semântico, como por exemplo, "Morangos verdes são idiotas", é uma frase sintaticamente correta, mas sem valor semântico.
- Pragmática: estuda as relações entre a linguagem e os contextos em que ela está inserida. Por exemplo, a frase "Botelho disse que estava no banco" é ambígua semanticamente. “Banco” pode ser tanto uma instituição financeira ou um assento. Geralmente, tais ambigüidades acabam sendo ultrapassadas pelo contexto, pois a pessoa a quem a frase foi dirigida já sabe o que “banco” quer dizer. A pragmática estuda estes aspectos relacionados com a linguagem.
A melhor receita para desenvolver a competência argumentativa é ler, em quantidade e com qualidade. Isso porque nossa língua nos constitui através de nossas histórias – coletiva ou pessoal – e nunca é fixa, imutável, nunca se pode apreendê-la, ou aprendê-la completamente. Sempre haverá mais a aprender (ou apreender).
O que é argumentar?
A Retórica, ou "arte da argumentação", é objeto de interesse há milênios: desde antes de Aristóteles se intenta sistematizar estratégias retóricas. Atualmente, estudos sobre argumentação ganham novo vigor. Mas o que é argumentar? Argumentar é provocar a adesão do ouvinte às teses que defendemos, mesmo que seja preciso seduzi-lo com recursos lógicos ou psicológicos que obtemos nos mundos de referência do locutor e do ouvinte. Segundo Abreu,
Argumentar é a arte de convencer e persuadir. Convencer é saber gerenciar informação, é falar à razão do outro, demonstrando, provando. Etimologicamente, significa vencer junto com o outro (com + vencer) e não contra o outro. Persuadir é saber gerenciar a relação, é falar à emoção do outro. A origem dessa palavra está ligada à preposição per, “por meio de” e Suada, deusa romana da persuasão. Significa “fazer algo por meio do auxilio divino”. Mas em que convencer se diferencia de persuadir? Convencer é construir algo no campo das idéias. Quando convencemos alguém, esse alguém muda algo no campo das idéias. Quando convencemos alguém, esse alguém passa a pensar como nós. Persuadir é construir no terreno das emoções, é sensibilizar o outro para agir. Quando persuadimos alguém, esse alguém realiza algo que desejamos que ele realize.
Muitas vezes, conseguimos convencer as pessoas, mas não conseguimos persuadi-las. Podemos convencer um filho de que o estudo é importante e, apesar disso, ele continuar negligenciando suas tarefas escolares. Podemos convencer um fumante de que o cigarro faz mal à saúde, e, apesar disso, ele continuar fumando.[4]
Há regras que não são arbitrárias para argumentar. Argumentar a favor dos seus pontos de vista é apresentar razões para justificá-los como corretos. A habilidade para defender suas opiniões é um sinal da capacidade de pensar por si e de formar suas próprias opiniões, e é por isso que escrever textos argumentativos é importante. Para fazê-lo, o estudante tem de usar argumentos como meio de investigação e como modo de explicar e defender suas conclusões. Ele deve explorar os argumentos que existem para os pontos de vista opostos, avaliando-os criticamente, escrever de modo argumentativo, contradizendo os pontos de vista opostos e defendendo cada uma de suas conclusões com argumentos.
Análise Lógica da Argumentação
O objetivo da lógica é estudar formas de argumentação válidas, isto é, inferências cuja validade se determine exclusivamente por sua forma. Como exemplo, podemos citar a conjectura de Goldbach, pela qual qualquer número par é representável como a soma de dois primos, tese que não foi ainda confirmada nem refutada. Isto significa que ninguém conseguiu construir uma argumentação que determine se ela é verdadeira ou falsa, ainda não se conseguiu verificar se Goldbach tem ou não razão.
Um argumento ser logicamente bem construído não depende de a lista de premissas incluir apenas afirmações verdadeiras. É preciso que o conjunto dessas premissas implique na conclusão. Implicar significa que as razões apresentadas são suficientes para o acarretamento da conclusão. A pergunta da Lógica é “em virtude de quais fatores somos racionalmente obrigados a aceitar uma conclusão e como podemos estar seguros de que essa conclusão é conseqüência das premissas?” Um argumento é válido se todas as suas premissas forem verdadeiras, então a conclusão não pode ser falsa.
A argumentação é uma constante
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