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O Uso dos Espaços Públicos em Brasília

Por:   •  25/3/2018  •  3.185 Palavras (13 Páginas)  •  266 Visualizações

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O uso dos espaços públicos, ou dos vazios deixados pelos cheios das edificações sempre ocorreu de uma forma ou de outra durante a evolução historia das cidades. Durante a Revolução Industrial, os espaços públicos eram vistos como local insalubre e ocupado por trabalhadores, que muitas vezes vindos do campo, lá permaneciam, utilizando a rua como moradia. A cidade vernacular brasileira permitiu o intenso uso dos vazios da cidade, devido à disposição de suas edificações, do uso do solo e da própria vontade da população de participar ou apenas observar o movimento... Quem nunca viu a moça na janela?

Contudo, as fortes diretrizes do urbanismo moderno provocaram o surgimento ou aperfeiçoamento de cidades que não contribuíram, de forma geral, para o intenso uso dos espaços públicos: a setorização das funções da cidade, os edifícios soltos no espaço da cidade, a difícil identificação dos vazios formados pelos cheios…

Desde a década de 60, a escritora Jane Jacobs apresentou as preocupações com a forma de ocupação humana. No célebre livro “Morte e Vida das Cidades Grandes”, ela alerta para gradual perda de oportunidades dos espaços urbanos de funcionarem como pontos de encontro nas cidades americanas.

Na década de 80, um novo marco para apreensão das cidades: Hillier apresenta ao mundo a teoria da sintaxe espacial, no seu livro A Teoria da Lógica Social do Espaço. A teoria nos permite decodificar a cidade em seus cheios e vazios, apreender o movimento das pessoas e entender as relações entre a sociedade e o espaço.

Mais recentemente, Jan Gehl, em Cidades para Pessoas, apresenta soluções para vivermos em cidades com vitalidade, segurança, sustentabilidade e saúde, privilegiando a escala humana, o intenso uso dos espaços públicos, apresentando e defendo alternativas para melhorar as condições para os pedestres e ciclistas nas grandes cidades do mundo.

Além da busca das cidades “caminháveis” e espaços nos quais as pessoas gostam de estar, os trabalhos urbanos atuais têm se voltado para as necessidades da comunidade, numa tentativa de soluções urbanas do tipo bottom up ao invés de uma abordagem top down , mais tradicional.

BRASÍLIA, CIDADE MODERNA – as esquivanças...

A cidade de Brasília, nosso foco de discussão, foi planejada, em 1956, e é marcada pelas fortes diretrizes do urbanismo modernista: prédios institucionais e residenciais isolados, setores distintos e isolados por funções, grandes vias urbanas (privilegiando o uso do automóvel e implicando em grandes distâncias a serem vencidas no dia a dia), a rua utilizada como elemento separador dos setores funcionais, utilizada apenas como caminho, não como local de encontro. Os grandes espaços formados entre as edificações, e as grandes distâncias a serem vencidas nos trajetos cotidianos da vida na cidade não favorecem a um intenso uso do espaço público na capital.

Lúcio Costa, responsável pelo projeto urbanístico da nova capital brasileira, baseou-se, sobretudo, na circulação de veículos. O pedestre foi, quase, desconsiderado, prejudicando as interações sociais. Aqui, vemos os veículos nos espaços públicos e as pessoas, em sua maioria, nos espaços privados.

Apesar da presença dos pilotis nos prédios residenciais das superquadras da cidade e em alguns institucionais, apresentando uma aparente liberdade ir e vir, percebemos um fraco fluxo de pedestres, mesmo nas quadras mais ocupadas de Brasília. Contudo, é observado que as definições do uso do solo nas superquadras e comércio local adjacente influenciam mais na ocupação dos espaços públicos do que a própria configuração da unidade de vizinha do Plano Piloto de Brasília. Nas superquadras que possuem escolas primárias e/ou Jardim de Infância, quadras poliesportivas e comércio local de permanência, tais como bares e restaurantes, o movimento de pessoas é evidenciado.

Então podemos entender Brasília, como mais formal do que urbana, ou como uma cidade que apresenta mais formalidade do que urbanidade? Frederico de Holanda apresentou estes paradigmas no seu livro O Espaço de Exceção. E caracteriza a formalidade, entre outros atributos, como a maximização dos espaços abertos, mas também, semanticamente o que não é espontâneo. A urbanidade é característica dos espaços mais socialmente utilizáveis, espaços menores, até diria mais aconchegante ou intimista da cidade, semanticamente, está relacionado ao bom convívio “à negociação continuada entre interesses”.

Brasília apresenta sua urbanidade, os encontros sociais, “em pequenas manchas descontínuas... a poucos metros deles, novamente o deserto. A configuração do espaço modernista é fortemente responsável por baixos índices de utilização de espaços públicos abertos...” (Holanda, 2002b).

Uma forte crítica, até exagerada de Jan Ghel à Brasília, define o espaço urbano da cidade como: “grande demais e nada convidativo, os caminhos são longos, retos e desinteressantes e os carros estacionados impedem caminhadas agradáveis no resto da cidade."

Acredito que Brasília é prova de que a configuração da cidade influi no uso social dos espaços públicos, contudo, não é determinante. A vontade de ser social é mais forte! E a sociedade brasiliense se organiza para promover os encontros nos espaços abertos da cidade, amorfos, é bem verdade.

“Nós moldamos as cidades, e elas nos moldam.” Jan Gehl

COMO UTILIZAMOS O ESPAÇO PÚBLICO

As atividades desenvolvidas no espaço público foram classificadas por Jan Gehl em três categorias:

• Atividades necessárias: aquelas rotineiras e obrigatórias, quase sempre diárias (ir e vir para o trabalho ou para escola); aqui as pessoas utilizam o espaço público por necessidade;

• Atividades Opcionais: aquelas atividades que as pessoas escolhem realizar, como por exemplo, contemplar um monumento na praça, observar uma vitrine de rua, entre outras;

• Atividades Sociais: atividades vinculadas à interação entre as pessoas. O verdadeiro exercício da urbanidade, do convívio social.

AS ESQUINAS DE BRASÍLIA – os encontros...

Brasília não tem esquinas... Expressão utilizada por visitantes e mesmo por moradores da capital para justificar os dispersos encontros sociais da cidade. As esquinas de Brasília são diferentes...

Mesmo o uso cotidiano, ou necessário, dos espaços públicos, onde

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