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Psicologia Científica e Profissional

Por:   •  4/2/2018  •  4.035 Palavras (17 Páginas)  •  320 Visualizações

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A mudança para um enfoque preventivo decorre, segundo Almeida e Guzzo (1992), de movimentos da Educação e da Psicologia, rompendo com uma visão reducionista para lançar-se em objetivos amplos, onde a saúde mental passou a ter relevância, abarcando a responsabilidade pelo desen-volvimento integral dos educandos. A prevenção primária, embora mais difícil, procura mudar a incidência de novos casos, intervindo proativamente, isto é, antes que os distúrbios ocorram (Knoff, 1995). São diversas as vantagens:

• As competências podem ser aumentadas por meio da educação.

• O treino pode auxiliar pessoas a desenvolver estratégias competitivas contra círculos viciosos de efeitos negativos ou situações estressantes de vida.

• O ambiente pode ser modificado para reduzir ou conter circunstâncias prejudiciais.

• Sistemas de apoio podem ser desenvolvidos mais amplamente.

A prática de ação dos psicólogos escolares se voltou para a escola fundamental (Witter et alii., 1992; Guzzo e Weschler, 1993) e o modelo clínico de intervenção continuou predominando, mas com a nova concepção do contexto educacional, acreditando-se na promoção de saúde, que passou a representar um recurso indispensável na expectativa de um desenvolvimento satisfatório.

A saúde é um processo complexo, qualitativo, que define o funcionamento completo do organismo, integrando de forma sistêmica o somático e o psicológico, formando uma unidade onde um atua sobre o outro. Além disso, o indivíduo é influenciado pelas interações pessoais e transações com o meio; por isso, para compreender o desenvolvimento emocional, é preciso ter em mente uma perspectiva biopsicossocial, de aspectos que interagem e se complementam no sujeito em formação. Não só o indivíduo é modelado pelo ambiente, como também o modela, e isso acontece para cada um de forma diferenciada, conforme descreve Rey (1993).

Ainda segundo Rey (1993), o desenvolvimento de um sólido sistema de interesses, de capacidade para decisões, da segurança em si mesmo, de uma auto-valorização adequados são, entre outros indicadores, aspectos psicológicos indispensáveis a um desenvolvimento saudável. O processo de ensino deve desenvolver operações que estimulem a autonomia, a eliminação do medo, a segurança, a flexibilidade e o afã da busca, aspectos psicológicos que caracterizam uma personalidade sadia. A escola deve criar toda uma cultura de educandos para suas relações pessoais, e as crianças e jovens devem aprender a comunicar-se, com a estimulação do diálogo e da capacidade de se colocar no lugar do outro. A educação moral deve surgir através da reflexão de atividades e enfatizar a necessidade de ser autêntico, de que se formem pessoas capazes de assumir seus sentimentos e suas decisões, expressá-los e defendê-los. O sucesso ou fracasso escolar da criança pode ser conceituado como o resultado da interação entre as características individuais do desenvolvimento, temperamento e motivação e específicos fatores ambientais encontrados em casa e na escola. Nesse contexto, qual a atuação do psicólogo escolar?

O psicólogo pode interferir nos fatores de proteção que podem ser desenvolvidos, voltando-se para os aspectos resilientes, que não perdem a estrutura em situação de estresse, olhando-se para o sucesso e não para o fracasso escolar. Os fatores orgânicos (distúrbios, dificuldades ou características individuais) e os fatores de estresse ( que incluem as experiências vividas em sua rede social e conseqüências da exposição aos conflitos ambientais) atingem, inevitavelmente, as pessoas até antes do nascimento, mas na fase pré-escolar ou escolar, quando o desenvolvimento biopsicossocial permite que a criança se insira na comunidade que a rodeia, o seu ajustamento social e saúde mental estarão tomando forma, determinando seu futuro. O exposto não afetado (resiliente) tem fatores de proteção, que precisam ser analisados para que se possa fazer a prevenção de risco.

A prevenção se preocupa com grupos de alto risco (como nas escolas municipais que atendem a uma população de poucos recursos financeiros e culturais e com pouca proteção para lidar com colapsos individuais decorrentes de desemprego, vícios, problemas de saúde física ou mental, etc.) e preocupa-se em construir forças adaptativas através da educação para reduzir o estresse social, administrando-o (Fergays, 1982, pp. 209-210).

A idéia geral, atrás da promoção de saúde, é aumentar as habilidades, força ou adaptação de grupos determinados, isto é, focalizar os aspectos positivos de saúde ou ajustamento, conforme destaca Durlak (1998). Segundo ele, a prevenção primária é a intervenção na população normal , que se destina a prevenir a ocorrência de futuros problemas. A prevenção secundária é a intervenção na população com problemas iniciais para evitar o desenvolvimento de conseqüências mais sérias. Os fatores biológicos individuais estão envolvidos num processo holístico porque os comportamentos antissociais afetam as outras pessoas (Magnusson, Klinteberg & Statin, 1994); dessa forma, as diferenças individuais precisam ser estudadas nos procedimentos preventivos (Eysenck & Eysenck, 1985). Cabe à saúde mental positiva uma preocupação com o desenvolvimento da criança, especialmente levando-se em conta que “a formação da personalidade não ocorre como um processo espontâneo, mas organizado e orientado através de ações e atitudes concretas e, também, pode ser projetado e avaliado” (Rey, 1993). A maneira como cada um vê a si próprio depende também do modo como é visto pelos outros. O modo como os traços particulares de cada criança são recebidos pelo professor e pelos grupo em que se insere tem um grande impacto na formação de sua personalidade e sua auto-estima, já que sua identidade está em construção. Das experiências vividas, emerge o autoconceito que cada um tem de si, que vai delimitar sua competência em realizar tarefas e relacionar-se com as demais pessoas no meio social a que pertence.

Concordando com a importância do período escolar, Gridley, Mucha e Hatfield (1995) afirmam que as pesquisas, em geral, podem trazer informações confiáveis para aumentar as chances de sucesso das crianças na escola, oferecendo aos pais e professores instrumentos para adequar experiências e planos curriculares às necessidades individuais. A essência da prevenção secundária é a identificação precoce de problemas e a intervenção antes que estes se tornem severos. Nos estágios iniciais, as intervenções podem encurtar a duração

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