Portfólio de Psicologia Social: Criminalização Periférica e Racismo
Por: Rodrigo.Claudino • 25/12/2018 • 2.754 Palavras (12 Páginas) • 1.195 Visualizações
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é ladrão, dentro das casas há muito mais que isso: há alegria, há união, onde se tenta passar com um sorriso no rosto apesar de tudo que se sofre por ser “favelado”.
Obs: César é do Morro do Quadro(comunidade de Vitória), foi campeão do Duelo Nacional de Mcs em 2017, e está na final do Slam Nacional(competição de poesia marginal que acontece em todo o mundo e terá sua final na França com os representantes dos países participantes).
Século XXI – WJ
“Eu preciso falar, século XXI, onde tudo é comum
Policial que confundiu nego com um traficante, matou, foda se
Era só mais um, esse é o Brasil, e esse é aqui é meu povo
Eu aposto 100 mil contigo, que amanhã ele confunde de novo
Amanhã, depois e novamente
De dez traficante que morre, nove é inocente
Mas como ser traficante e inocente ao mesmo tempo na vida?
É só dizer que é traficante e pronto, e todo mundo acredita
Até eu acredito no que foi dito pelo supremo veredito
E ai de mim se não acreditar, talvez nem passe mais um dia vivo
Mas eu sou traficante também, hem, representante de Coelho Neto
A minha indola é a leitura e o fuzil e o papo reto
Século XXI, onde tudo é comum, onde o rico só escuta aplauso e eu escuto "Patum"
Onde o rico dorme feliz, ao mar e suas onda sucintas
Enquanto o meu despertador é uma glock com pente de 30
Mirada no alto tem sangue no asfalto e uma bela senhora de salto
Novamente a PM confundiu um simples abraço com grande assalto
Eu tenho perguntas dentro de mim que me seguem como sombra
Eu vou abri-la com você, se puder vocês me responda
Por que o rico pode e agente não pode?
Por que nos usamos Xperia enquanto eles usam Ipod?!
Ou por que ele usa cinquenta ternos diferente e eu to sempre com o mesmo short?!
Por que o rico é informante e o pobre é X9?
Por que o rico é portador de arma, e o pobre marginal de revólver?
Porque o rico recebe carinho e o pobre recebe sacode ?
Ao rico que me ver do outro lado dessa telinha
A minha casa inteira na dele não dá a cozinha
Mas eu ele vai dizer que eu sou maluco, e que eu sei do que to falando
Mas o que ele vê na TV é meu verdadeiro cotidiano
[Ponte] Pessoas sendo mortas, metrô e trem lotado
Busu quase sem porta, cadê o ar-condicionado?
Isso é século XXI rapa
E que a maldade evolua
Se não depois vão dizer nos jornais, pessoas negras são proibidas nas ruas
Cabelo duro é pecado, beiço de mula de é pecado
Branco é bonito ser gay, mas preto é feio ser viado
A escravidão acabou? Quem te enganou na resposta?
Se acabou por que eu sinto a dor do chicote nas costas?
Doi, o suor bate e arde
Vocês podem me chamar de tudo, só não pode me chamar de covarde
Meu cabelo é duro, e meu beiço é grande
Mas eu me amarro
E cada rima constante vale bem mais que seu carro
Porque seu carro no fume, só serve pra quem tá vivo
Mas o caráter e o saber, se eu morrer eu levo comigo
E é por isso que eu prefiro, alface, azeite e vinagre
E depois de tanta verdade que eu falei
Se eu viver vai ser milagre”
Seguindo a linha da primeira poesia, Século XXI fala sobre a vivência do pobre favelado, e dos preconceitos por ele sofrido, e além disso também relata sobre o preconceito maior que preto pobre favelado há de conviver. WJ faz um paralelo com a vida do rico e do pobre e como os mesmos são tratados em situações com as mesmas circunstâncias. É fácil relembrar o caso do filho da promotora que foi solto após estar com mais de 250kg de maconha, enquanto Rafael Braga, preso primeiramente por portar uma garrafa de Pinho Sol em um protesto, e depois de posto em condicional ser preso novamente após serem forjadas drogas a quais a ele não pertencia, ser posto em prisão domiciliar, só após de 2 anos preso e com várias tentativas de habeas corpus provando que as drogas foram forjadas, por estar com tuberculose. O abuso de poder policial é evidente quando se é pobre, e quando se é preto e pobre mais ainda.
É iminente que para o senso comum quem mora na favela é traficante, e no verso “minha indola é a leitura, e meu fuzil é o papo reto”, WJ mostra que nós moradores de periferia vemos na arte a única saída para lidar com o preconceito e escancarar publicamente o que vivemos, e tentar levar isso para a maioria dos “menor” não entrarem para o tráfico, pois a realidade vivida lá dentro da favela é algo iminente que em uma hora ou outra você terá que entrar para o tráfico(eu já pensei várias vezes nessa possibilidade), e esse preconceito de criminalizar os moradores em conjunto com desigualdade social só evidenciam ainda mais – lembro-me de um trecho do documentário Falcão Meninos do Tráfico, onde um adolescente fala que quando ele era criança ele tomou um tapa na cara de um policial sem ter feito nada, e isso só fez ele ter mais ódio do sistema, e, não vendo outra solução, entrou para o tráfico.
Favela Vive e Favela Vive 2
Pioneira de cypher no Brasil, a Esfinge lançou em 2016 Favela Vive, que teria em 2017 a sua sequência
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