PROPOSTAS DE AÇÃO DA PSICOLOGIA NO CONTEXTO DO TRÂNSITO

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Pelo o que definimos ser o campo da entrevista, podemos deduzir que nela há possibilidade do entrevistado cair em situações como as de contradição, lacunas e dissociações. Se, por um lado, tal fato faz com que alguns não confiem na técnica de entrevistas, por outro permite ao profissional contato com as nuances do próprio entrevistado, o que pode permitir o trabalho com elas, a depender da angústia que gera no entrevistado.

Dessa forma, na entrevista o entrevistador é parte do campo, ou seja, observador participante, colocando em contestação, mais uma vez, a validade dos dados. É preciso ter em mente, entretanto, que tamanha objetividade não é encontrada em nenhuma área científica, ainda mais na psicologia, onde o objeto de estudo é o homem. Mas, para chegar próximo a tal objetividade, é preciso fazer com que o observador se torne também uma variável, visto que a qualidade de todos os objetos é relacional. Uma forma de se observar bem, segundo Bleger (1998) é ir formulando hipóteses de acordo com a apresentação dos fatos.

Outros fenômenos que devem ser considerados particularmente no campo da entrevista são os de transferência e contra transferência. Na primeira, aparecem, no momento da entrevista, atualizações de sentimento e condutas inconscientes que indicam como se comporta em outras situações de sua vida. Assim, o entrevistado atribui papéis ao entrevistador e se comporta em função deles. Na segunda, a contra transferência, aparecem os fenômenos surgidos no entrevistador, o que exige um exercício de auto conhecimento. Perceber tais movimentos permite o entrevistador aperfeiçoar sua técnica e ser atento a todos os sinais que surgem no momento da entrevista.

A ansiedade também é trazida por Bleger (1998) como fator importante no momento da entrevista, que pode ser um fator de difícil manipulação, principalmente se vier da parte do entrevistador. Isso porque o entrevistador tem como instrumento de trabalho apenas ele mesmo, sua mente. E o exame de outro ser humano está diretamente relacionado ao exame de sua própria vida. O trabalho com as ansiedades é fundamental na clínica de trânsito, onde são muito exteriorizados por parte do entrevistado/ avaliado, exigindo do profissional formas de amenizar tal sentimento e proporcionar condições para o candidato ir bem na avaliação dentro de suas capacidades.

Conclusão

Além de obrigatória, a entrevista é de fundamental importância para a avaliação psicológica no contexto do trânsito, podendo evitar situações de excessiva ansiedade, tirando dúvidas e conhecendo melhor as características e comportamentos dos que se propõem a tirar CNH. Entretanto, nos relatos expostos em sala de aula, vimos que nenhuma das clínicas onde são realizados os estágios pressupõe a entrevista como estágio inicial para a avaliação psicológica. Nos relatos, ouvimos ainda que é notável nos momentos pré testes situações de extrema ansiedade ou casos de problemas pessoais, físicos e intelectuais que influem diretamente no resultados dos testes, sempre para negativo.

Tais situações poderiam ser evitadas ou amenizadas com a execução das entrevistas pelos psicólogos, no intuito de, como indica a resolução CFP 007/2009, aumentar os dados sobre o futuro motorista de forma mais embasada e consistente. Podemos induzir que a situação de não cumprimento da lei está envolta por interesses de ordem econômica, desvirtuando a prática de aplicação de testes psicológicos e a transformando em vazia e sentido, tomando como básica somente resultados quantitativos, bem como denegrindo a atuação profissional do psicólogo. Assim, podemos concluir que os indivíduos expostos à avaliação psicológica sem a entrevista estão sofrendo grande prejuízo e que uma maneira de suprir tal prejuízo, em cumprimento da lei, e fornecer um trabalho ético e de qualidade é implementando a entrevista psicológica inicial no processo de avaliação.

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