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Entrevista Psicologo Indigena

Por:   •  9/9/2018  •  1.920 Palavras (8 Páginas)  •  262 Visualizações

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Como também os direitos garantidos por Lei para os indígenas, a Lei Maria da Penha, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a importância de manter a identidade indígena e valorização da língua e cultura. Enfim, é um universo de questões trazidas por eles ou sugeridas nas conversas.

Quais as Etapas e procedimentos usados durante o percurso da terapia de grupo com a população indígena ?

Os grupos são divididos por idade, e cada grupo trabalhado com metodologia diferente. As crianças trabalhamos mais com desenhos e conversas a partir do universo infantil como histórias e mitos produzidas pela própria cultura. A necessidade da higiene dos alimentos e o cuidado com a escavação dos dentes, dentre outras questões. Com elas os grupos acontecem na escola indígena na própria comunidade.

Os adolescentes e jovens os grupos são formados em casas de reuniões que tem na aldeia, é um local onde são realizadas festas e reuniões dos líderes locais. Ali são abordados temas de valorização a vida, já que esse público é mais vulnerável ao suicídio.

Já os adultos dividimos por gênero, grupo de mulheres, grupo de gestantes, e grupo de homens. Abordamos temáticas relacionadas ao planejamento familiar, cuidados com a saúde, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, cuidado com a criança, prevenção de violência principalmente aos homens contra a mulher, consequência que o uso abusivo de bebidas alcoólicas podem provocar, enfim.... Diversas temáticas.

Esses três últimos grupos acontecem no próprio posto de saúde da aldeia, como as gestantes quando vem realizar o pré natal.

Já para os idosos aproveitamos diversos espaços abertos, e com eles realizamos exercícios de relaxamento, brincadeiras, danças, rodas de conversas para falar sobre aposentadoria e direitos do idoso. Aproveitamos para investigar algum indício de maus tratos contra a pessoa idosa, que ocorre ocasionalmente.

Na terapia de grupo com a população indígena os resultados positivos são imediatos ou ao longo prazo?

Os resultados ocorrem das duas formas, existem os insights que ocorrem espontaneamente no momento dos grupos e as interferências a longo prazo. Um exemplo foi a diminuição do índice de suicídios na aldeia de 80%.

Antes era registrados situações de até 8 suicídios ao mês. Hoje em dia chegamos de 4 a 5 meses sem notificação de suicídios. Mas ainda existem situações ocasionalmente.

A questão do auto numero de suicídio nessa população está ligado à uma situação histórica e cultural do indígena. Seria como uma resposta ao sistema de imposição onde o mundo globalizado interfere diretamente na cultura.

E muitos indígenas não entendem esse sistema, de serem obrigados a frequentar a escola, ir a cidade com frequência para comprar roupas e alimentos. Por que eles olham os costumes dos brancos e sentem vergonha de viver como viviam livremente. O uso de bebidas alcoólicas também potencializa o desejo de morte.

Muitos se embriagam antes do suicídio. E outra questão também pode está relacionado a própria cultura do indígena que é muito exigente e dura. Os pais ainda escolhem com quem os filhos vão casar a criança já trabalha desde muito cedo... Não existe um espaço de troca de afetos. É muito complexa essa questão e existem várias outras causas.

Na terapia de grupo com a população indígena quais os principais conflitos encontrados entre os próprios membros do grupo? Qual ação você faz para amenizar esse conflito?

Não existem conflitos aparentes, não mencionei inicialmente, mas os comportamentos descritos até aqui são dos índios da etnia Tikuna, é a maior etnia indígena do Brasil com aproximadamente 51 mil pessoas. Eles vivem de forma muito pacífica, pois acreditam que conflitos podem atrair espíritos ruins que vivem na floresta, trazendo enfraquecimento da alma que podem levar a morte.

Mesmo existindo algumas divergências, já que eles acreditam no espírito ruim que vive na floresta mas em algumas situações, um pequeno grupo, acabam ocasionando violências na comunidade, em sua maioria sob efeito de bebidas alcoólicas. Mas nós grupos em si não existem convergências, eles são muito democrático até no direito de todos falarem e ouvir atentamente o que está sendo dito.

Você como terapeuta facilitador na terapia de grupo já sofreu rejeição por parte do grupo? Como reagiu?

É difícil trabalhar a idéia da medicalização, para muitos indígenas essa é a única forma de combater o mal. E dizer o contrário do que eles pensam muitas vezes provoca desconforto. Mas a prática de todos ter o direito de falar e cada um refletir a sua maneira sobre o assunto, levamos a reflexão sobre a influência do estilo de vida e cuidados podendo evitar doenças e dessa forma evitar tomar medicações.

Em sua opinião porque a terapia em grupo neste contexto da população indígena tem melhor beneficio do que a terapia individual?

A terapia de grupo atende um número maior de pessoas, infelizmente o Ministério da Saúde não disponibiliza mais de um psicólogo por aldeia. Nos forçando buscar estratégias que atenda um número maior de pessoas ao mesmo tempo.

Em situações que requer um atendimento individualizado também são realizados, porém em número bem reduzido. De modo geral os grupos atendem bem as necessidades da aldeia.

Em sua opinião qual ação ou atitude é indispensável por parte do terapeuta grupal tanto com a população indígena como também em demais grupos?

Ter sensibilidade, analisar e avaliar os resultados e objetivos esperados para cada grupo. Não adianta insistir em uma técnica que não apresenta resultados satisfatórios.

Em sua opinião qual ação ou atitude deve ser evitada por parte do terapeuta em um terapia grupal?

Práticas repetitivas ou mecanicistas, atitudes que desvalorizam a singularidade do grupo. Primeiro deve conhecer os costumes e cultura, as demandas e sensibilidades para tentar aproximar a discussão da realidade de cada um.

Voce já trabalhou ou trabalhar com outros grupos além da população indígena?

Já tive experiências em outros grupos com realidades bem distintas, como mulheres vítimas de abuso sexual, crianças em situação de vulnerabilidade social, dentre outras. Tais experiências contribuíram na minha construção profissional

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