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Corpo e masculinidade em uma escola para meninos em situação de rua

Por:   •  17/12/2017  •  1.168 Palavras (5 Páginas)  •  449 Visualizações

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e até em cobrá-las, mas deixando bem claro que para não se incomodar com os professores e de que as regras são, para eles, desnecessárias.

Nobert Elias analisa o que denomina “desportivização”, segundo o qual o esporte possui um processo de disciplinamento, que promove uma transformação lenta e crescente na regularidade da conduta e sensibilidade, impedindo a violência ou força física. Essas regras serviriam também para que os meninos se defendessem nas ruas, onde impera “a lei do mais forte” (Gregori). Para Lisiane Leczneiski, os meninos da Praça da Alfandêga em Porto Alegre exaltam sua honra e masculinidade através de rimas, músicas, estórias de conotações sexual e desafios, além de brigas diretas (empurrões, rasteiras, “biabas” na orelha). Esses enfrentamentos não constituem a violência em si, mas são repletos de simbolismo (é assim que os meninos demostram força e coragem e determinam sua posição hierárquica, já que nesse caso não são levados em consideração apenas os atributos físicos, mas também a atitude e esperteza), é para eles parte integrante das relações interpessoais. Embora esse tipo de desafio aconteça em todos os grupos nas ruas, os meninos da Praça da Alfandega se destacam por fazer em caráter público, explícito e desinibido. Nas ruas, segundo Leczneiski, a covardia e a mesquinhez são vistos de maneira negativa e podem levar à expulsão de um grupo.

É também do conflito que nasce a relação social, criando laços, estabelecendo fronteiras e informando algo inteligível aos seus iguais. Em uma certa cobrança de pênaltis em um jogo importante do colégio, João decidiu o jogo e acertou o gol decisivo. A posição de João aqui se inverteu: o que antes era o alvo das gozações, agora era o herói da escola (mesmo que apenas por um momento). Conforme João foi se tornando mais esperto e adquirindo mais segurança, passou a usar as mesmas estratégias adotas pelos outros meninos: atacar para se defender.

O autor afirma que o gênero não pode ser percebido no corpo natural ou biológico (relacionado a sexo), mas sim perfomativavente construído através da socialização, assim como a honra(uma marcação de gênero, que se apresenta como realidade social). Tanto as regras morais (aplicadas nos jogos e em grupos) quanto as regras institucionais podem sofrer alterações em determinada configuração. Através de seus “corpos sociais informados”, os meninos dialogam e transmitem valores, em dimensões objetivas e subjetivas. O corpo, portanto, é um espaço de produção das relações em que está inserido. O jogo de futebol dos meninos pode ser entendido como uma avaliação racionalista de seus comportamentos e práticas (violentos ou não) e, talvez (mas não necessariamente), um espaço de construção desses sujeitos, já que lá estão suscetíveis a erros, acertos e julgamentos

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