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Arte e Saúde

Por:   •  16/3/2018  •  6.770 Palavras (28 Páginas)  •  295 Visualizações

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Aristóteles afirmou que “o objetivo da arte não é representar a aparência exterior das coisas, mas o seu significado interior”. Deste modo cada grupo/individuo escolhe e estabelece as regras para produzir e compreender a arte, do mesmo modo que a utiliza para atender as suas necessidades e divulgar os seus pensamentos (Biesdorf &Wandscheer, 2011). Os modos e os meios dessa representação variam conforme a época e a sociedade, segundo Buoro (2000) “Em cada momento específico e em cada cultura, o homem tenta satisfazer suas necessidades socioculturais também por meio de sua vontade/necessidade de arte”.

A Arte adquiriu diversas funções sempre advindas e caraterísticas do contexto histórico em que foram produzidas. Para Azevedo Júnior (2007), a arte apresenta três funções principais: a pragmática ou utilitária, a naturalista e formalista. A função pragmática tem finalidades pedagógicas, religiosas, políticas ou sociais; a naturalista tem por função a representação da realidade ou da imaginação o mais natural possível para que o conteúdo possa ser identificado e compreendido pelo observador, e a função formalista atribui maior qualidade na forma de apresentação da obra preocupando-se com seus significados e motivos estéticos.

Desde a Antiguidade, a arte foi utilizada como o intuito de estabelecer um diálogo entre todos os integrantes da sociedade, mas, principalmente, com aqueles que possuíam alguma dificuldade em se expressar, considerando assim a subjetividade de cada ser e as suas peculiaridades ao compreender o mundo. Mais do que compreender o mundo, a arte é necessária como forma de expressão (Fischer,1987). A arte possui uma função que vai além da estética, a obra é a representação do que o artista vive, pensa e sente, o artista se molda em sua obra (Biesdorf &Wandscheer, 2011).[pic 11]

Logo, nosso trabalho tem por foco o fazer artístico derivado da produção humana com objetivo de estimular o consciente através da sua ordem estética-comunicativa. Analisar, ainda, a arte como ferramenta terapêutica (do grego: θεραπεία - do verbo therapeúo, "prestar cuidados médicos, tratar"), ou seja, a arte auxiliando no tratamento para uma determinada doença.

A arte pode ser considerada uma forma de libertação das prisões da racionalidade e uma possibilidade de exploração do terreno onde se tem espaço para externalizar medos, emoções sonhos. A arte proporciona ainda um escape do turbilhão da realidade, do trabalho exaustivo e dos problemas permitindo a construção de uma realidade paralela na qual a realização é possível, livre de metas ou objetivos, sendo a produção final apenas um entretenimento isento de qualquer responsabilidade estética.

A loucura, por sua vez, possui uma similaridade significativa com o universo do inconsciente, só que diferentemente do indivíduo que vive a arte o louco não possui controle sobre suas idas a esse universo. Pelbart (1993) chama esse universo de Fora, um terreno da desrazão do inconsciente, no qual tanto o artista quando o louco tem acesso. Todavia a forma como a relação com esse terreno acontece é distinta, o artista vai a esse terreno em busca de uma inspiração, um momento com o seu intimo, enquanto o louco é lançado lá e adentra áreas mais profundas do inconsciente.

Na dialética entre arte e loucura destacamos três aspectos como objetivos da nossa pesquisa, descrever a relação da arte com a saúde mental, relacionar arte com terapia e compreender a arte como meio de ressignificação e reinserção da loucura no meio social. [pic 12]

Para alcançar o objetivo, foi pesquisado na Biblioteca Virtual de Saúde-BVS, as palavras-chave arte e loucura, obtendo como resultado 62 artigos. Os critérios de inclusão selecionados foram texto completo com idioma em português. Após exclusão de artigos repetidos e da aplicação dos critérios de inclusão, foram selecionados 17 artigos. Todos os resumos foram lidos para adequação do conteúdo ao tema, restaram 10 artigos que contemplavam os objetivos da nossa pesquisa.

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2. Relação da arte com a loucura

A arte e a loucura são campos que coexistiram e se cruzaram de modo distinto no decorrer das épocas e das sociedades. Ambos foram objetos de exclusão e fascínio, se por um lado a arte é uma ferramenta de entretenimento, por outra ocupa um lugar de desprestigio na medida em que por muitos anos não foi considerada uma ciência, sendo exercida por pessoas sem formação, escravos ou indigentes. Essa visão carregada de preconceito se faz presente até hoje.

2.1 Concepções da Arte

A institucionalização da arte, fez com que ela ganhasse maior renome, no entanto não foi capaz de desconstruir conceitos enraizados na nossa cultura. Mesmo havendo uma formação acadêmica, a dança, o teatro e a música, podem ser exercidas por livre inspiração, não há a obrigatoriedade de um diploma, o que incomoda os ditos eruditos, que valorizam não o trabalho em si, mas a bagagem curricular do indivíduo. Sendo assim a arte está além dos domínios e normas estabelecidos pela sociedade, ela é livre para ser e se expressar da forma que desejar. A grande questão então é entender o que é a arte.

Para Reis (2014) a arte é uma forma de expressão, na qual o individuo pode externalizar o que está em seu intimo, seus sentimentos, medos, anseios e organizar cada um deles. É um escape do turbilhão da realidade, um espaço livre da racionalidade, na qual o individuo é capaz de ver as coisas sobre outras perspectivas, construir sua identidade através de linguagens não apenas verbais.

Esse caráter libertador da arte, que permite fugir da razão e se aventurar em um terreno incerto em busca de realização, pode ser visto no conto Terpsícore de Machado de Assis (1996), no qual ele relata a história de Glória e Porfirio, um casal pobre e cheio de dívidas que após ganhar na loteria resolve promover uma grande festa. A escolha, aparentemente irracional, se mostra extremamente essencial para se fugir da realidade massacrante de trabalho e cansaço vivido por eles, trazendo na manifestação artística através da dança, do movimento ritmado e da experimentação dos corpos uma fuga da realidade e das mazelas da vida, adentrando em um mundo de alegrias e sonoridade.

A arte seria então uma necessidade vital (Pelbart e Lima, 2007), e não só um meio para se chegar a um fim. O objetivo não é obter um produto, mas o processo em si. Um estudo feito em torna da concepção de processo

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