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A LOGÍSTICA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL NO ESPAÇO PÚBLICO

Por:   •  23/2/2018  •  Artigo  •  2.867 Palavras (12 Páginas)  •  434 Visualizações

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Dabbawala System Case Study

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MARMITEIROS DE MUMBAI: LOGÍSTICA E A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL NO ESPAÇO PÚBLICO MARICÊ LÉO SARTORI BALDUCCI Engenheiro de Agrimensura pela Faculdade de Engenharia de Agrimensura de Araraquara, MBA em Logística Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. Docente do Centro Paula Souza (Graduação e Pós-graduação), Mestrando em Educação no UNISAL, u.e. de Americana. E-mail: maricebalducci@gmail.com Introdução Este texto permite uma nova abordagem para o entendimento e melhor compreensão das relações entre o grupo objeto deste estudo de caso, os “marmiteiros” de Mumbai e a educação não formal. As relações ora estabelecidas são bastante diferentes de outras, por mim realizadas no artigo publicado em 2009, para a Revista Today Logistics & Supply Chain, sob o título de Dabbawalas de Bombaim, um complexo sistema logístico executado sem tecnologia, com simplicidade e que resulta em eficiência, cujo objetivo estava concentrado nas áreas de gestão e administração de empresas. No presente artigo, como já anunciado, o foco está posto nas questões educacionais, que podem ser derivadas a partir desse tema. Primeiramente, discute-se o conceito de tecnologia, aqui conceituado amplamente como tudo aquilo que facilita a realização de uma tarefa, por mais simples que seja. Em seguida, analisam-se as formas e fatores que interferem no desenvolvimento das competências dos marmiteiros indianos ao prestarem o serviço de distribuição de alimentação feita em casa. E, finalmente, como a educação não formal tem importância na formação profissional do grupo em estudo, mostrando que o uso do espaço público é um local significativo, em que a educação pode se realizar. O grupo de marmiteiros de Bombaim tem como uma das suas características a baixa escolaridade: a maioria dos seus integrantes é semianalfabeta e as atividades desenvolvidas são coletar, transportar, distribuir e entregar marmitas e, após o almoço, recolhê-las e realizar todo o caminho contrário até as residências dos seus clientes. A problematização que conduziu esse estudo foi buscar entender de que maneira ocorre a comunicação entre eles durante as atividades e a forma de transmissão dos ensinamentos necessários para o desenvolvimento das habilidades, que permitem a realização dos serviços. A hipótese foi a de que todo esse processo de aprendizagem, necessária à execução das funções, se constituía em um exemplo de educação não 2 formal e sociocomunitária, entendida, neste caso, como aquela que permite a reação de um grupo ou comunidade às necessidades sociais e econômicas cotidianamente enfrentadas. O estudo de caso se apresentou como metodologia, porque o texto descreve um contexto de vida real, no qual estão ocorrendo continuamente interações sociais e simbólicas, interpretações e discussão de concepções de mundo e intencionalidade formativa. Os marmiteiros de Mumbai Todos os dias úteis em Mumbai, a maior metrópole da Índia, onde vivem cerca de 13 milhões de habitantes (20 milhões, se considerarmos as cidades que compõem a Grande Mumbai), um grupo de 5.000 homens entrega refeições feitas em casa para os moradores da periferia, que trabalham nos escritórios da região central. O serviço de entrega dessas refeições é executado por homens semianalfabetos, pois devido às origens e castas a que pertencem, não têm acesso ao sistema educacional formal. São homens que obrigatoriamente vestem-se de chapéus e túnicas brancas, uniformes obrigatórios, fazendo referência à limpeza ligada ao transporte de alimentação. Todas as operações por eles realizadas nessa atividade surpreendem e fascinam os profissionais de logística do mundo inteiro, pela simplicidade das operações e seus excelentes resultados. A origem desse serviço é datada de 1890, há mais de um século, portanto, e nasceu da vontade de um escriturário britânico em comer no seu lugar de trabalho as refeições preparadas pela sua esposa, segundo Pandit (1998, pág.24). Sendo um país de cultura milenar, integrado por um sistema de castas que ainda perdura na sua estrutura social, apesar de banido pela constituição de 1950, a Índia apresenta-nos um ambiente de contrastes entre o crescimento econômico, a posição de destaque nos meios ligados à tecnologia da informação e a organização social, em que as posições mais elevadas social e politicamente são ocupadas por pessoas oriundas das castas superiores; e aqueles que têm como origem as castas inferiores sofrem restrições de acesso à educação, alimentação e até mesmo à religião. A principal motivação, segundo Pandit (2007, pág. 4), para que este costume de alimentação doméstica tenha tantos adeptos é o de que as mulheres que cozinham para sua família exercem um trabalho sagrado, conforme as tradições. O autor ainda reforça que todos acreditam que as refeições feitas por um ente querido são aquelas que alimentam o corpo e o espírito, renovando as energias dos relacionamentos. 3 De acordo com Donkin (2003, pág. 344), chama-nos a atenção o fato de que alguns, em especial os ocidentais, podem ver o sistema de preparação e consumo de refeições feitas em casa como uma forma de “enclausuramento” das mulheres, prendendo-as ao lar em vez de estimular sua entrada no mercado de trabalho remunerado e capitalista. O mesmo autor, na mesma página, destaca: Aqueles que seguem a tradição da Comida lenta em oposição aos Fast Foods já disponíveis em Bombaim costumam dizer que ela proporciona um importante vinculo social com o lar e os colegas, a chegada das dabbas (marmitas) é uma das poucas oportunidades que os empregados têm para uma pausa, sentar-se a mesa e conversar. De fato, no mundo ocidental, em especial nas grandes metrópoles, a maioria das pessoas já abdica do convívio com os colegas de trabalho durante as refeições, o que colabora para tornar os relacionamentos sociais mais distantes e superficiais. Normalmente o ser humano, busca viver em grupos. Seja em grupos de família, amigos, colegas de trabalho, de lazer. Nesses grupos, um dos momentos mais importantes certamente é a hora da refeição, pois à mesa os assuntos do dia são comentados, as opiniões são colocadas e trocadas, além de que o “conhecer” o outro se torna mais fácil. Também o momento permite provocar uma ruptura dos assuntos e rotinas, abrindo espaço para o arejamento das relações. A operação logística e o desenvolvimento de competências As coletas das dabbas (marmitas) começam no subúrbio de Mumbai antes das 09h e os dabbawalas (marmiteiros) deslocam-se a pé ou em bicicletas, usando carrinhos de mão, recolhendo, cada um, cerca de 25 a 30 embalagens. Até as 09h30min as marmitas chegam a uma das 68 estações ferroviárias dos bairros de Mumbai,

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