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Feminismo e Fenomenologia

Por:   •  7/10/2018  •  4.273 Palavras (18 Páginas)  •  301 Visualizações

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As importantes historiadoras do feminismo, Maggie Humm e Rebecca Walker dividem o movimento feminista o em três fases: a primeira, anteriormente abordada, foca-se nos direitos de cidadania, como o voto feminino, melhores condições de trabalho e igualdade jurídica. A segunda fase, que começa em 1960 e coexiste com a terceira fase, pós anos 90, seria a fase do feminismo que engloba também a mulher como pessoa e não só como cidadã e sujeito de direitos, caracterizada pela busca por liberdade sexual e fim da discriminação da mulher na sociedade, no ambiente de trabalho e na educação. Por fim, a terceira fase, consolidada no século XX, busca a igualdade entre os sexos em todos os âmbitos sociais, e a afirmação do corpo feminino como propriedade personalíssima e inviolável ganha mais força. Temas como assédio, estupro e direito ao próprio corpo, associados com a intensa disseminação de informação promovida pela internet permitiu uma ampla interação entre as mulheres que se intitulam feministas, o que permitiu a criação e a unificação de grupos de resistência que atuam ativamente no Brasil e no mundo, como o Femen. “As críticas trazidas por algumas feministas dessa terceira onda, alavancadas por Judith Butler, vêm no sentido de mostrar que o discurso universal é excludente; excludente porque as opressões atingem as mulheres de modos diferentes, seria necessário discutir gênero com recorte de classe e raça, levar em conta as especificidades das mulheres.”[2]

A terceira fase do movimento feminista é considerada o grande ápice de consolidação do tema, pois suas ideias mesclam-se as inovações trazidas pelo capitalismo do século XX pós queda do muro de Berlim, o avanço tecnológico, científico e da área da medicina, ou seja, um período de transformações sociais e do modo de encarar as instituições presentes. Antigos dilemas como a dupla jornada de trabalho da mulher e o controle de natalidade passam a estar segregados ao contexto de mulheres pobres, sem acesso a educação e outros direitos fundamentais, e a questão da liberdade e da total autonomia sobre o próprio corpo passam a configurar questões centrais.

De fato, ao analisar as fases descritas pelas historiadoras até os dias de hoje, direitos significativos e espaços dentro da sociedade antes inimagináveis foram possíveis, mas é problemático, observando o contexto brasileiro, afirmar que o movimento venceu e que vivemos um estado de igualdade entre homens e mulheres num país antes de tudo marcado por desigualdades econômicas profundas, regionais e até culturais dentro de um mesmo estado territorial. Seria absurdo englobar mulheres que sequer sabem da importância do seu voto ou de outras possibilidades além de uma vida doméstica sobre a questão complexa de viver sob o domínio de uma sociedade patriarcal. Portanto, por mais que este seja um discurso exaustivo no meio acadêmico, é só por meio da educação de base, como indicativo para as primeiras reflexões críticas de homens e mulheres igualmente, que se pode chegar a uma consciência coletiva sobre o que é uma sociedade machista e como ela influencia negativamente a vida de todos.

3- O feminismo no século XXI: O que mudou com a globalização

Se o movimento feminista nos seus primórdios ganhou impulso ao se atrelar a movimentos de esquerda, no contexto da sociedade globalizada do século XXI ainda é possível notar resquícios de associações a este e também a outros grupos minoritários, como o LGBT. Com a ascensão da internet e a facilidade de veicular informações permitidas por ela, as redes sociais passaram a viabilizar dos menores e mais radicais grupos de feministas a páginas de grande circulação, voltadas tanto para o discurso de sororidade no meio feminino quanto temas mais polêmicos e que inclusive dividem o grupo, como a legalização do aborto.

É notável que as alianças cibernéticas, se assim é possível colocar, entre grupos minoritários é fundamental para criar uma resistência mais ampla e tentar atingir o maior número de pessoas possíveis. Tais alianças são combatidas e até repudiadas por grupos conservadores tanto no meio político quanto no social, que alegam veementemente que as conquistas femininas como o direito ao voto já foram conquistadas e que a mulher ocidental, comparada a oriental, possui privilégios e tem uma luta sem fundamentos.

O grande problema em torno do movimento ganhar corpo por meio do mundo virtual encontra-se no seguinte dilema: do mesmo modo que a tecnologia permitiu a interação de mulheres do mundo todo, o que representa um avanço a nível global, este mesmo instrumento pode e é utilizado pela mídia para mostrar a visão de quem tem mais poder na sociedade acerca de determinado tema, o que também acontece com o feminismo. Ao ligar a televisão, o movimento feminista sempre é associado a mulheres quebrando lojas, mulheres pedindo a retirada da televisão de ''inocentes propagandas” que nada deveriam afetá-las, grupos de mulheres realizando protestos nuas e ofendendo símbolos religiosos. Não há como negar que tais fatos ocorrem, mas como observar criticamente que somente eles ganham notoriedade e espaço no meio televisivo, principalmente num país como o Brasil no qual a televisão é o meio predileto de comunicação(76,4%), seguido da internet (13,1%).[3]

A interação com o grupo LGBT, com o movimento negro e com minorias sem religião como Ateus e Agnósticos demonstra-se na atualidade uma aliança mais densa, marcada pela vontade de liberdade e espaço dentro da sociedade que todos estes grupos tem em comum como uma resposta as ondas conservadoras presentes no Brasil. O feminismo hoje, principalmente no Brasil, desvincula-se do caráter unitário de problematização da mulher em sociedade e passa a voltar-se também para a defesa do estado laico e das questões de gênero, apesar de variadas críticas por setores feministas mais radicais. Apesar disso, essa interação de grupos menores tem sido o meio utilizado para obter mais força social e até política, porém é questionável observar se tamanha quantidade de novas pautas e alianças não acabou inflando o movimento feminista e, portanto, tornando-o sem consistência.

No Brasil, as pressões sociais principalmente dos movimentos feministas levaram a criação da Lei 13.104/15, que inclui o feminicídio como uma nova modalidade de crime hediondo no Código Penal Brasileiro. Na prática, isso quer dizer que casos de violência doméstica e familiar ou menosprezo e discriminação contra a condição de mulher, ou seja, a questão da violência motivada pelo gênero, passam a ser vistos como qualificadores do crime. O clamor por essa lei é fruto dos dados divulgados:

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