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RESENHA DO DOCUMENTÁRIO “O LONGO AMANHECER - UMA BIOGRAFIA DE CELSO FURTADO”

Por:   •  10/3/2018  •  3.072 Palavras (13 Páginas)  •  599 Visualizações

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Assim, o documentário sobre a vida de Celso Furtado, além de falar sobre o trabalho intelectual desenvolvido pelo autor, traz um aspecto marcante e muito importante da vida do intelectual: Furtado não era apenas um pensador, ele agia. Talvez a mais admirável característica de Celso Furtado seja sua dupla capacidade, como pensador e como ator político. Como é dito por Maria da Conceição Tavares, enquanto intelectual, Furtado inovou o pensamento brasileiro, sendo rígido em seu método de pesquisa e observação; como político, entretanto, sabia fazer alianças e construir os apoios necessários para colocar em prática uma ideia, isso, sem perder de vista seus valores essenciais.

O grande autor brasileiro nos deixa dois importantes legados. O primeiro, logicamente, é seu pensamento, que inovou a forma de se interpretar a realidade brasileira. O segundo é sua esperança e sua vontade de que o Brasil seja melhor. Apesar de pessimista em seu diagnóstico, fica evidente, no documentário, a visão de futuro que Furtado tem: ele “enxerga o horizonte além”. Furtado era um reformista: acreditava que o Brasil poderia sim, mudar, com mudanças em suas estruturas básicas, mas mais importante, ele agia, lutando para que essas mudanças acontecessem.

Ele deixa para nós, administradores públicos, técnicos, um fio de esperança, ele nos serve de inspiração: é possível fazer algo pelo Brasil sem “vender sua alma ao diabo”, agindo politicamente, conseguindo alianças, mas sem perder de vista seus valores fundamentais. Esse talvez seja o aspecto da vida de Furtado mais relevante para nós, estudantes da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro: temos, sim, a possibilidade de propor boas políticas de forma idônea, e contribuir para mudanças em nosso estado e país. O saber técnico e o pensamento inovador têm, sim, espaço no Estado, só é preciso saber agir.

RESENHA DO TEXTO “À PROCURA DE LEFF”

O texto trata da vida de obra de Nathaniel Leff, acadêmico americano nascido em 1938, judeu ortodoxo conhecido por muitos pela sua gentileza e disposição em ajudar sempre que possível, além de seu caráter bastante introspectivo. Conhecido por alguns pelo seu bom humor e abordagens irônicas. Acadêmico que em um momento de sua vida acabou decidindo por uma trajetória brasilianista, por diversos motivos que serão evidenciados mais adiante. Um acadêmico cujas ideias foram pouco difundidas nas terras Tupiniquins e cuja vida – ou morte – era desconhecida por seus melhores amigos e companheiros acadêmicos. Como bem intitulado pelo autor, Rafael Cariello, o artigo é voltado “À procura de Leff”.

Por ser norte americano grande parte de seu trabalho sobre a história econômica do Brasil conta com uma comparação com a realidade americana. Sua lógica de pensamento é baseada nas dinâmicas de longo prazo e circunstâncias históricas, o que justifica a unicidade de suas conclusões: poucos pensaram na história econômica do Brasil como ele.

O primeiro ponto a ser discutido é o subdesenvolvimento e desenvolvimento no Brasil, tema que se tornou um dos títulos já publicados por Leff. Ao discutir o atraso no desenvolvimento brasileiro, que em algum momento do século XVIII esteve equiparado com o desenvolvimento das colônias inglesas, Leff traz uma abordagem alternativa à historiografia tradicional. Chamava atenção para problemas internos da economia brasileira e decisões da elite política que mantiveram a renda per capita baixa e a desigualdade alta. Em seus ensaios Leff tentava responder dois principais problemas da economia brasileira: por que acabamos nos tornando um país relativamente pobre, com renda per capita baixa e por que tanta desigualdade. Esta atribui o atraso na industrialização e desenvolvimento do Brasil ao fato do país ter sido uma colônia de exploração, e também às relações da América Portuguesa com as Metrópoles Europeias. Para o pesquisador foi os contínuos ganhos de produtividade que se seguiram a adoção do modelo fabril que permitiram a alguns países pular na frente e passar a crescer numa velocidade muito maior do que os outros.

Segundo Furtado, o desenho colonial português, marcado pela dependência do mercado externo – no caso as metrópoles europeias –, causou a inibição do desenvolvimento do mercado interno. Em outras palavras, o mercado externo sempre foi prioridade em momentos de concorrência com o mercado interno. Na época da exploração da cana, os engenhos tinham a capacidade de dobrar sua produtividade a cada dois anos devido a sua impressionante renda auferida, mas não era isso que acontecia. O desenvolvimento econômico ao redor era baixo e boa parte da renda servia para pagar dívidas contraídas de comerciantes europeus, financiadores dos engenhos ainda em sua fase de construção e para os traficantes de escravos que geravam os custos que qualquer intermediário gera ainda hoje em atividades comerciais. Parte da renda também era destinada à compra de bens de luxo no mercado externo. Ou seja, o subdesenvolvimento brasileiro estaria ligado, em suas origens, aos gastos incorretos ou supérfluos.

Entretanto, como expõe Leff em suas obras, grande parte desses traficantes eram residentes no Brasil. Isso significa que, além de seus gastos de subsistência serem destinados ao mercado interno, serviam como “banqueiros da Colônia e do início do Império, adiantando recursos para os fazendeiros e a ampliação da produção”, afirma Cariello ao citar Leff. Portanto, o discurso de que o subdesenvolvimento brasileiro esteja atrelado à falta de desenvolvimento do mercado interno à época da Colônia e do Império por causa da priorização do mercado externo e das relações comerciais com a Europa seria falho. As verdadeiras razões para o subdesenvolvimento seriam outras dificuldades encontradas pelo mercado interno: a falta de integração e o alto custo de transporte.

Ainda na recente República Brasileira, em 1913, as exportações representavam apenas 16% de toda a produção interna do país. Esse cenário, segundo Leff, não poderia ter surgido de um dia para outro, mas reflete as origens da economia brasileira. O argumento tradicional da falta de mercado interno também encontra obstáculos na composição populacional da sociedade escravocrata. Os escravos nunca foram maioria populacional, muito menos os senhores. Portanto, existia uma grande parte da população composta por homens livres – e pobres – identificados na figura de comerciantes, tropeiros e proprietários de poucos escravos.

Logo, se existia uma população com potencial para manter um mercado interno desenvolvido, por quê este nunca alcançou tal status? Pela falta de integração

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