O Pinóquio de Rubem Alves
Por: eduardamaia17 • 28/11/2018 • 2.372 Palavras (10 Páginas) • 434 Visualizações
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Devido à questão cultural o pai do Felipe enfatiza a importância do diploma que entra como divisor entre a criança e o adulto que na visão do pai, é quem tem uma profissão.
O diploma pode ser tomado, então, como um instrumento de hierarquização dos indivíduos num contexto social. Essa hierarquia cultural resultante pode ser considerada como fundada no saber, no conhecimento da verdade. Dessa forma, o diploma iria desempenhar um papel de mediador entre a formação cultural e o exercício de funções sociais determinadas. (MIZUKAMI, 2013, p.10).
".... Aí você vai trabalhar, ganhar dinheiro, ter filhos, que vão para a escola, onde lhes ensinarão muitas coisas..." (ALVES, 2010, p.21).
"...Ele não entendia como é que um número podia dizer quanto uma pessoa sabe. Ele sabia tantas coisas, e para saber não precisava que lhe dessem números..." (ALVES, 2010, p.22).
Mizumaki (1996) relata que na abordagem tradicional é atribuído à educação o papel de ajustamento social, cabe à escola oferecer às gerações submetidas ao processo os elementos dominantes num determinado momento sociocultural, de forma que fosse garantida a continuidade das idéias, sem rupturas e sem crises. A estória de Felipe deixa nítido que a aprendizagem será um ciclo, que se repetiu e repetirá pelas outras gerações, e que a escola será o começo dessa preparação, pois dentro da escola, através professor se aprenderá exatamente o que se precisa para ser desenvolvido para o meio profissional e social.
Os programas manifestam os conteúdos culturais que devem ser adquiridos na trajetória da formação escolar, assim a reprovação passa a ser necessária quando o mínimo cultural para aquela faixa etária não foi atingido, que é avaliado através de provas e exames, por quantidade e não qualidade, o que para Felipe é incompreensivo.
"... Para dar notas, os professores fazem o que chama de provas, com uma série de perguntas sobre aquilo que eles ensinaram. Os alunos devem aprender." (ALVES, 2010, p.23).
Na abordagem tradicional as avaliações visam medir os conhecimentos adquiridos pelos alunos.
A avaliação é realizada predominantemente visando a exatidão de reprodução do conteúdo comunicado em sala de aula. Mede-se, portanto, pela quantidade e exatidão de informações que se consegue reproduzir. Daí a consideração de provas, exames, chamadas orais, exercícios e etc., que evidenciem a exatidão da reprodução da informação. (MIZUKAMI, 2013, p.17).
"[...]-A escola não é para você aprender aquilo que quer-disse a professora. - A escola é para você aprender aquilo que deve aprender. O que você deve aprender é aquilo que disseram os homens inteligentes do governo. Tudo na ordem certa. Uma coisa de cada vez. Todas as crianças ao mesmo tempo. Na mesma velocidade." (ALVES, 2010, p.30).
Na abordagem tradicional, os alunos devem apenas seguir o que o professor transmite em sala de aula, todos devem adquirir os conteúdos que lhe serão fornecidos pelos mesmos materiais didáticos (decididos pelo governo por serem os mais importantes e úteis), e assim imitando os modelos do exterior de forma singular. É enfatizada a preocupação com a quantidade de conceitos adquiridos, o que gera redução da capacidade de expressão, limitando o ensino a um processo apenas de impressão e receptividade de tudo aquilo que irá supostamente preparar os alunos.
"... Tinha dois elefantes. Felipe pintou um de cor-de-rosa e outro de verde. A professora chamou o menino e disse que elefantes não eram cor-de-rosa nem verdes. Ele deveria pintar os elefantes da cor que eles eram. Felipe obedeceu. Passou a pintar os elefantes e todas as outras coisas do jeito que eram. Mas ele dizia:” Droga! Eu acho os elefantes cor-de-rosa e verdes mais bonitos... "" (ALVES, 2010, p.26).
Nessa concepção, não é valorizado o individual de cada aluno, é um sistema rígido.
O ensino tradicional lança mão, na prática, da atividade dos alunos (quer recorrendo a apresentação de dados intuitivos quer recorrendo a imaginação dos alunos). Como o mecanismo de explicação dessa atividade é desconhecido, o professor vê se obrigado, na maioria das vezes, a limitar-se ao fornecimento dos receituários. (MIZUKAMI, 2013, p.13).
"“[...]-Se você não concentrar a atenção nos pensamentos que vem ser pensados, não aprenderá o que está no programa..." (ALVES, 2010, p.38).
Nessa abordagem as informações visam uma continuidade, uma repetição do que foi acumulado pela humanidade.
Trata-se, pois, da transmissão de idéias selecionadas e organizadas logicamente. Esse tipo de concepção de educação é encontrado em vários momentos da história, permanecendo atualmente sob diferentes formas. (MIZUKAMI, 2013, p.11).
"[...] Felipe tinha boa memória. Devorava todos os nomes que os professores ensinavam. A cada novo nome que aprendia, ele chegava a casa e o contava ao seu pai e à sua mãe. Mas parecia que eles não tinham memória tão boa quanto a dele." (ALVES, 2010, p.40).
Isso ocorre por causa do sistema de memorização, o conteúdo não foi aprendido e fixado, assim ao longo do tempo as coisas memorizadas vão sumindo aos poucos.
Ao individuo que está “adquirindo” conhecimento compete memorizar definições, enunciados de leis, sínteses e resumos que lhe são oferecidos no processo de educação formal a partir de um esquema atomístico. (MIZUKAMI, 2013, p.11).
"... E lá dentro do frigorífico, ao lado dos frangos pendurados nas correias, havia longas esteiras onde se encontravam crianças, centenas delas, todas diferentes. A esteira entrava num túnel escuro e do outro lado saíam as crianças, todas iguaiszinhas, saídas da forma, formadas... E o Corvo Falante cantava:” Formatura. Entram diferentes e saem iguais: profissionais. É assim que um pirralho entra no mercado de trabalho"." (ALVES, 2010, p.42).
Nessa abordagem, o aluno passando pela escola é considerado um adulto formado, um receptor passivo, não podendo contestar. E passa adiante aquilo que recebeu.
O diploma consiste, nessa visão, em um principio organizador e na consagração de todo o ciclo de estudos. (MIZUKAMI, 2013, p.17).
3.2 - Abordagem comportamental
“[...] – Meu pai me disse que conhecimentos são coisas úteis. A gente faz alguma coisa com eles. Quem sabe martelar, martela. Quem
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