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A COMPARAÇÃO LITERÁRIA LARA E ESPANCA

Por:   •  21/12/2018  •  1.613 Palavras (7 Páginas)  •  461 Visualizações

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4.Análise Comparativa

Em seguida, você vai fazer a análise comparativa entre as duas obras.... Aqui em diante é interessante que você retire trechos de uma obra e da outra e analise isolados, depois comparando.

Lembrem-se que analisar é diferente de explicar. Você precisa amadurecer em análises de textos. Para isso, façam o mais detalhado possível, use trechos, analise as palavras, as intenções, o valor literário, a carga histórica que cada palavra apresenta. Isso sim é uma análise..

Extraia trechos de uma obra e de outra e analise. Quanto mais, melhor. Cuidado com as análises que dão ideia de totalidade. Nada é completo. Nenhuma obra é o do início ao fim igual. Cada palavra colocada na obra tem um peso. [i]

Será apresentada agora, a análise literária das obras de Florbela Espanca, escritora portuguesa e Alda Lara, angolana, com vistas aos respectivos modos de estar no feminino.

Pode-se perceber o diálogo entre Alda Lara e Florbela Espanca quando a primeira reinterpreta o poema, “Ser Poeta”, cuja toma posse da estrutura lexical, ocorrência que aponta a herança lusófona, porém, diverge da poetisa quando não se auto intitula um poeta numa proposta de humildade literária incompreensível, pois analisando os efeitos de sua obra é impossível negar-lhe a valiosa contribuição de uma produção literária pós colonialista Segue-se a análise literária de alguns versos de “Angústia” disponível em http://www.citador.pt/poemas/angustia-florbela-de-alma-conceicao-espanca>

Angústia

Tortura do pensar! triste lamento!

Quem nos dera calar a tua voz!

quem nos dera, cá dentro, muito a sós,

estrangular a hidra, num momento!

Os versos apresentam grande incômodo no modo de estar, com linguagem metonimizada, o “eu” poético e a representação do sujeito pela característica individual da autora evidenciam uma dor de existir e como se isso pudesse mudar apenas no “estrangular” de uma válvula que de certo prende o que o “eu” preferiria exteriorizar .

Nos versos do poema “Eu” disponível em: http://www.citador.pt/poemas/eu-florbela-de-alma-conceicao-espanca>> Acesso em: 29/06/17.

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,

eu sou a que na vida não tem norte,

sou a irmã do Sonho, e desta sorte

sou a crucificada... a dolorida ...

Nos textos Florbelianos, o “Eu” poético individualmente se relaciona com o sujeito construído na produção onde se assume sem norte, perdido e sem sorte, uma busca desesperada de motivos para existir.

Nos versos anteriores apresenta-se um corpo que suplica estrangular um invólucro que aprisiona um sentimento devastador, o qual pode-se imaginar e até ver pelas estratégias das exclamações, reticências que obrigam o leitor a quase sentir a dor da poeta e é exatamente nesses parâmetros que identificamos o diálogo entre a obra de Alda Lara e Florbela Espanca, sendo essa conduzida pelo amor ao próximo, dolorida com a dor do outro, Lara é completamente coletivista ao contrário de Espanca, mas quando se fala de forma, de escrita e recursos literários que propõem ao leitor visualizar mentalmente esculturas de textos, ambas as escritoras são muito parecidas e como diriam os estudiosos; apresentam discursos pautados no inter e no já dito que se constituem no interdiscursos e sendo assim segue a análise de versos do poema de Alda Lara, Testamento disponível em: https://www.luso-poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=1354>>

Á prostituta mais nova

do bairro mais velho e escuro,

deixo os meus brincos, lavrados

em cristal, límpido e puro...

E àquela virgem esquecida,

rapariga sem ternura,

sonhando algures uma lenda

deixo o meu vestido branco,

o meu vestido de noiva,

todo tecido de renda

Quanto aos meus poemas loucos,

esses, que são de dor

sincera e desordenada...

esses que são de esperança

desesperada mas firme,

deixo-os a ti meu amor...

Para que na paz da hora,

em que a minha alma venha

beijar de longe os teus olhos

Vás por essa noite fora...

com pessoas feito de lua, oferece-los às crianças

que encontrares em cada rua...

Nesses versos a angolana apossa-se do léxico, da estrutura, da definição de saudade e de loucura da portuguesa e reescreve dialogando e não de forma estanque, pois a angolana busca o par amoroso, com apenas uma diferença, ela divide o espaço do poema com esse amor, ela a ele vida na construção literária. Esse aspecto faz da obra da angolana uma referência ao coletivo que certamente representa o sujeito da produção. A autora realista aproveita a ousadia feminina representada pela poesia de Florbela e como falante de uma língua constituída na oralidade com vistas aos processos de hibridação mestiçagem e multiculturalismo, Alda Lara dá à poesia angolana uma demonstração da identidade cultural multifacetada, quanto utiliza a palavra “rapariga” para se referir às virgens de Angola e com isso ela se assume parte desse processo de mestiçagem e hibridismo que constituem as literaturas de língua portuguesa independente de fronteiras e nacionalidades.

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