VARIAÇÃO LINGUÍSTICA X PRECONCEITO
Por: Hugo.bassi • 10/12/2017 • 1.761 Palavras (8 Páginas) • 451 Visualizações
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da escola.
Observar as várias faces do preconceito lingüístico intra-escolar, buscando alternativas para enfrentá-lo.
3 JUSTIFICATIVA
A partir de reflexões sobre a supervalorização da língua no estado social, temos ampliado nosso grau crítico sobre a influência da mesma na vida de uma pessoa. Podemos então inferir que o modo como um falante utiliza sua língua materna é importante, porém não absoluto, para sua posição na sociedade.
Geralmente, cidadãos com menor grau de escolaridade são excluídos da vida intelectual do país. Isso porque, além de outros fatores, não têm o discernimento entre as variantes e a forma culta, tampouco o domínio desta; tal exclusão é resultado do preconceito, em especial o lingüístico, para com esses indivíduos.
Vários são os meios de propagação dessa prática cruel. Entre eles destaca-se a mídia, a qual, por reproduzir a idéia de que as formas lingüísticas de prestígio são as únicas corretas, provoca uma antipatia nas pessoas em relação às variedades da língua. Outro fator considerável é a imposição da norma culta, sem contemplar suas variantes na sala de aula. E isso é preocupante, visto que, direta ou indiretamente, o ensino da língua portuguesa passa pela questão do preconceito lingüístico, instaurado desde cedo na vida escolar. Um primeiro passo para a resolução desse problema é a conscientização dos educadores que, por vezes, não se dão conta da importância de apresentar as diferenças da língua. Além do mais, é consideravelmente mais simples explicar sobre variantes lingüísticas para crianças, pois essas, ao contrário de adultos, ainda não se aprofundaram nas relações sociais que instauram o preconceito e conseqüentemente a exclusão.
Embora as variantes se apresentem em qualquer dialeto, independente da região ou da classe, aquelas utilizadas pelos detentores de poder geralmente são as que dispõem de prestígio, sendo a variedade falada pelos menos favorecidos cercada de preconceito. Não se deve, porém, confundir preconceito com sensação de estranhamento, normalmente criada por tudo que é novo ou desconhecido. Esse comportamento, desde que respeitoso, é aceitável. Pois, o dialeto de uma região tem o mesmo valor lingüístico que o de outra, diferenciando-se apenas em suas variantes, que podem ser determinadas pelo fator econômico, social, cultural e regional.
O desrespeito e estigma associado às variantes podem produzir, em alguns, certa sensação de incapacidade ou revolta. E esse é o fator principal para a constituição deste projeto.
Uma vez concluído ele é de fundamental importância como auxílio às pessoas pouco informadas sobre o fenômeno da discriminação que envolve as variantes lingüísticas, inclusive nas práticas educativas. Assim, o propósito do mesmo é analisar, compreender e atrair a atenção da sociedade para um ato que está sendo explicitamente praticado e que a grande massa da população não confere valor algum: O preconceito lingüístico.
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As diversas variantes que constituem nosso idioma, português, se encontram na escola, aí está a responsabilidade dessa instituição: identificar as diferenças e conscientizar os alunos quanto ao uso delas.
No entanto, a tarefa da escola não é nada fácil, pois mencionar a existência das variedades lingüísticas não é o mesmo que respeitá-las. A variação intriga e instaura diferenças que quando não bem entendidas podem gerar discriminação e preconceito.
No momento em que o aluno utiliza uma regra não-padrão, a maioria dos professores não sabe como agir. Se por um lado é dever deles apresentar ao aluno a variante-padrão, por outro é preciso cautela, pois é pedagogicamente incorreto usar o “erro” do aluno para humilhá-lo. (Stella Maris, 2004)
Muitas vezes, até sem notar, os professores assumem posições preconceituosas em relação ao uso das variantes, atitudes essas que são reproduzidas por outros alunos, Esse comportamento gera um fator desfavorável ao aprendizado, que é o medo, a vergonha, o sentimento de incapacidade de aprender. Os alunos que passam por essa experiência vão se resignando a um fracasso que os acompanha, muitas vezes, para o resto de suas vidas. Emilia FERREIRO (1999, p.26) aborda muito bem essa questão do preconceito lingüístico, mostrando que isso é uma realidade.
Para o escritor Luís P. L. Britto, a sociolingüística trouxe argumentos irrefutáveis que demonstram que nenhuma variedade lingüística é melhor do que a outra. Ao contrário, é a discriminação de um dialeto diferente daquele tomado por padrão que conduz ao fracasso escolar. O americano William Labov (1982), num trabalho que relata a luta de uma comunidade negra em uma cidade dos EUA, contra a discriminação escolar, mostrou que muito do insucesso das crianças negras devia-se às diferenças entre o standard english e o black english falado pelos alunos.
O comportamento dos professores é peça fundamental no processo contra a discriminação lingüística (Marcos Bagno, 2003). As diferenças não podem ser consideradas bloqueio das possibilidades de aprender, pois o mesmo aluno que fala diferente é perfeitamente capaz de compreender e relatar textos expressos na variedade considerada certa.
Travaglia denuncia a existência de uma série de mitos infundados que entram na composição do arraigado preconceito lingüístico que vigora na sociedade brasileira. Desmascarando um por um desses mitos, o autor mostra de que maneira a mídia e a multimídia, na contramão dos estudos científicos atuais sobre a linguagem, estão colaborando para perpetuar e aprofundar esse preconceito. Aspecto esse abordado e enfatizado por Marta Scherre em seu livro “Doa-se lindos filhotes de poodle”, 2005.
É mito acreditar que o correto é apenas aquilo que se encontra na gramática, mas também não é aceitável criar uma aversão a ela e, consequentemente a tudo que a cerca. A gramática oferece conhecimentos irrefutavelmente importantes, mas não é absoluta. É tarefa da escola promover uma educação ‘sensível aos saberes dos educandos, (...) atenta às diferenças entre as culturas que eles representam’
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