O Ofício do Históriador
Por: Kleber.Oliveira • 21/4/2018 • 3.264 Palavras (14 Páginas) • 335 Visualizações
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Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são os homens que a história quer capturar. Quem não consegue isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça (BLOCH, 2001, p.54).
O estudo da história implica três diferentes conceitos, mas que são propícios a ser confundidos entre si: a historiografia, que pode ser definida como o conjunto de técnicas e de métodos que são utilizados para descrever os feitos históricos acontecidos, é o registro escrito da história. Entre os métodos científicos utilizados para o estudo e pesquisa historiográfica, os principais são o Método Indutivo, o Método Dedutivo, o Método Fenomenológico e o Materialismo Histórico. Pode-se dizer que é a arte de escrever e registrar os eventos do passado. Ela tem como principais correntes historiográficas o Positivismo, o materialismo Histórico, e a escola dos Annales; a historiologia, que são as explicações, os métodos e as teorias sobre como, por que e em que medida os feitos históricos aconteceram; e a história por si só, ou seja, os eventos realmente acontecidos.
Os historiadores do final dos séculos XIX e início do século XX acreditavam que, ao contrário das ciências baseadas na observação direta do objeto a ser estudado (como acontece na física, química, astronomia, sociologia, etc.), o conhecimento histórico tem como base a observação indireta dos fatos históricos tendo como fonte os testemunhos conservados. Dessa forma, para conhecermos os fatos passados, nós dependeríamos estritamente do que nos dizem as fontes, e mais especificamente os documentos escritos. Esse era o argumento utilizado para justificar a obsessão dos historiadores em relação com as fontes, chegando até o ponto de ser considerado um fetiche. Com isso, adentramos na discussão do que pode ser considerado ciência e o que não pode, pois, segundo muitos estudiosos só se pode considerar um campo disciplinar como ciência, quando o objeto de estudo deste pode ser observado diretamente (tendo assim resultados concretos sobre o que está a ser buscado), algo que ocorre constantemente durante o estudo, por exemplo, na Biologia durante o processo de análise e estudo de bactérias. Onde o profissional desta área dispõe de exemplares do seu objeto de estudo, que pode ser analisado em laboratório. Perry Anderson, um historiador e ensaísta político marxista ressalta que,
Os próprios historiadores, naturalmente, têm oportunidade de produzir trabalhos comparativos ou de síntese sem necessariamente ter sempre o contato direto da prova no campo a que se referem, embora seu julgamento seja provavelmente temperado pelo domínio em sua especialização.
(ANDERSON, Perry. 1974. P.VIII)
Porém, mesmo entre as ciências de observação direta, existem teorias fundamentadas em observações indiretas dos objetos de estudo, a Física, por exemplo, inclui em suas teorias muitos elementos cuja observação direta é impossível, e o mesmo se repete em várias outras ciências. E mais um ponto deve ser ressaltado: nem sempre a observação direta é vedada ao historiador, por mais que, de fato, tenha limites às vezes escritos. Isso pode ser evidenciado quando um historiador trabalha com monumentos, moedas, insígnias, restos descobertos de escavações.
Ainda durante o século XIX Fernand Braudel, um dos mais importantes membros da escola dos Annales, pertencente à segunda geração desta, possibilitou o trabalho conjunto com o estudo das mentalidades, algo que era negligenciado até então. Demonstrando também que, o que geralmente é aceito pelos historiadores de uma geração pode ser invalidado pela pesquisa da geração posterior. A história das mentalidades é uma modalidade historiográfica que dá certo privilégio aos modos de pensar e sentir dos indivíduos de uma mesma época, suas crenças e seus valores. É importante destacar que a história das mentalidades foi associada também ao conceito de “longa duração” ou “tempo longo”, algo característico da escola dos Annales. Tais termos eram compreendidos na constituição de um padrão de mentalidades ou de sensibilidade que se modificaria muito lentamente, formando então uma estrutura de longa duração. Além do conceito de longa duração, existe também o conceito de curta duração (que geralmente se refere a acontecimentos recentes, como por exemplo, o impeachment de um presidente. Algo que as consequências só podem ser sentidas após um tempo médio, entre 10 e 50 anos após o fato ocorrido). Até a 2ª Geração da escola dos Annales a prioridade era de se construir uma história síntese, aquela que não analisa as partes separadamente, tendo como exemplo as partes econômica, social e cultural. Porém, a partir da 3ª geração, começou a ser estudada a Nova História, e Fernand Braudel adotou o método comparativo (que também é utilizado por Max Weber), e houve uma quebra com as teorias Iluministas (concebidas na Idade Média) que viam a sociedade como um todo, desta forma, a História passou a ser fragmentada e cultural, abrindo espaço para as especializações e as interdisciplinaridades.
Em relação ao “fetichismo” dos documentos, especialmente das fontes escritas, Langlois e Seignobos afirmavam que “A História se faz com documentos, porque nada substitui os documentos: onde não há documentos não há história.” Essa afirmação, porém, possui algo de verdadeiro e algo falso. Verdadeiro porque, a ausência de fontes realmente impede que o historiador exerça sua função, afinal, como ele comprovaria suas hipóteses de trabalho? As fontes escritas são de grande importância, porém, as fontes escritas eram consideradas pelos historiadores tradicionais não apenas como condição básica para o trabalho com a história, mas também como uma condição suficiente, algo que é inaceitável, visto que, ao apenas levarmos em consideração o conteúdo dos documentos escritos, deixaríamos de lado uma quantidade imensa de informações que apenas seriam obtidas através de fontes não escritas, ou escritas em documentos não oficiais.
Marc Bloch deixou bastante claro que, as fontes são como testemunhas, ou seja: só nos darão as respostas que buscamos quando fizermos as perguntas adequadas, e tais perguntas não nascem da fonte, a verdade não está depositada nos documentos ela vem de algo externo, do conhecimento do historiador, de sua cultura histórica, e de inúmeros outros conhecimentos externos àquele documento, ele afirma que o historiador
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