A Mulher em Atenas
Por: AndredOliiveira • 26/3/2018 • Artigo • 1.524 Palavras (7 Páginas) • 347 Visualizações
A mulher em Atenas: elemento de manutenção e continuidade da pólis
Lisístrata, de Aristófanes
Aristófanes, dramaturgo grego e principal representante da comédia antiga, nasceu em
Atenas por volta de 447 a. C. Apesar das poucas informações, em função da escassez de
documentos, referentes à sua vida, é possível imaginar, a partir de suas obras, que Aristófanes,
muito provavelmente, tenha nascido numa família aristocrática e tido acesso a uma educação
de excelência. Viveu grande parte da sua vida no período conhecido como “Século de
Péricles”, quando Atenas vivenciou um enorme crescimento nas esferas econômicas, políticas
e culturais. No entanto, também pôde presenciar o início do fim de Atenas, com os
acontecimentos iniciais da Guerra do Peloponeso – que acabou arruinando a pólis -, bem
como com o papel nocivo dos demagogos na condução da cidade-estado até a sua destruição,
fato que acabou sendo refletido em suas obras, sobretudo na obra aqui estudada, Greve do
Sexo ou Lisístrata. Aristófanes faleceu em Atenas por volta do ano de 380 a.C.
Em Lisístrata, comédia encenada por volta de 411 a.C., as mulheres, lideradas pela
ateniense Lisístrata, se reúnem a fim de discutir métodos para pôr fim à guerra fratricida
(Guerra do Peloponeso) entre os gregos, que separa os homens de suas famílias, em função
das constantes obrigações militares. Visando alcançar a paz, seu objetivo final, Lisístrata
propõe duas ações para a sequência de seu plano, sendo elas: a tomada da Acrópole, a fim de
privar os homens dos recursos financeiros que pudessem dar sequência à guerra, e a
realização de uma greve de sexo, não só por parte das atenienses, mas também das demais
mulheres gregas. Num jogo constante entre o poder político, exercido agora pelas mulheres
com a tomada da Acrópole, assim como o elemento sexual, a partir da greve de sexo, o enredo
é conduzido até o desfecho final e desejado: a paz – que adquire mais de um significado no
decorrer da trama.
A escolha de Aristófanes pelas mulheres como protagonistas do enredo central da
comédia, bem como do elemento de abstinência sexual para fins pacíficos e políticos,
encontra legitimidade não só na vertente literária que o autor se propõe a escrever, mas
também no contexto social em que viveu, bem como as suas respectivas tradições. Como já
foi comentado no início deste texto, é sabido que Aristófanes viveu durante o “Século de
Péricles”, período de consolidação da democracia ateniense, que acabou sendo acompanhada
pela institucionalização do teatro, sendo que este último resultava na constante reafirmação da
hegemonia política de Atenas e dizia respeito a questões pertinentes aos assuntos internos da
pólis. Assim, Aristófanes encontrou nas festividades em homenagem ao deus Dionísio e nos
grandes teatros um terreno fértil para a produção e reprodução de suas comédias, sempre
visando uma demonstração, ainda que velada, dos distúrbios da sociedade de seu tempo. Isso
fica perceptível na comédia Lisístrata, quando o autor, numa clara crítica à guerra, usa em sua
trama mulheres que, independente da região, fossem de Esparta ou de Atenas, da Beócia ou
de Corinto, aliam-se em prol de um objetivo maior, deixando de lado as intrigas entre suas
respectivas cidades-estados, fazendo assim um apelo à união de todos os gregos e da sua
consequente paz como ferramenta essencial na constante luta contra os bárbaros – luta essa
que seria um fator significativo para a união (e preocupação) dos povos helênicos.
No entanto, a comédia aristofânica nos revela ainda um outro fator importante para a
escolha das mulheres como protagonistas de sua trama. Por se tratar de uma comédia, a obra
de Aristófanes não poderia deixar de lado a subversão cômica, característica marcante desse
estilo literário. E é justo nesse contexto cômico e absurdo que o autor insere as mulheres no
enredo de sua peça. Ao contrário do padrão definido pela sociedade ateniense, em Lisístrata,
são as mulheres que assumem os papeis de liderança e figuram em um nível de superioridade
em relação aos homens, o que, para a sociedade ateniense, é algo que foge totalmente do
imaginário, algo inconcebível. Assim, o protagonismo feminino na peça de Aristófanes fora
utilizado de forma debochada, apenas com o intuito de garantir o riso - já que as supostas
causadoras de problemas, agora, propunham a paz 1 - e não para servir como demonstração ou
apelo à emancipação das mulheres, já que o autor compartilhava da mesma concepção de seus
contemporâneos sobre o papel feminino na sociedade. Portanto, a Lisístrata, além do apelo
1 ALVES, Nathaly Felipe Ferreira. Comédia Grega em foco. 2009. Acessado em: 25/10/2017. Disponível em:
https://movimentoculturalgaia.wordpress.com/2009/08/26/lisistrata-ou- a-greve- do-sexo/
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