FICHAMENTO DO TEXTO CONCEITOS E HISTÓRIAS - Livro: Teoria do Jornalismo. Autor: Felipe Pena
Por: Lidieisa • 7/11/2018 • 1.900 Palavras (8 Páginas) • 648 Visualizações
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pressupostos são construídos. As características inerentes à burguesia ascendente ocuparam o espaço público e viabilizaram a consolidação da imprensa moderna. Estratégias de mercado aos poucos substituem o espaço das causas públicas e dos valores éticos. Da ideia de cidadania presente nas praças atenienses à noção de publicidade dos tempos atuais, que está condicionada pelas famigeradas leis do mercado. (Pág. 29)
A mídia (a imprensa como parte dela) assumiu a privilegiada condição de palco contemporâneo do debate público. Na contemporaneidade, as representações substituem a própria realidade. Um assunto exposto na esfera pública não é necessariamente de interesse público. Ele pode ser forjado nos esquemas de marketing que visam moldar o gosto do público e agendar seus debates. É o caso, por exemplo, das celebridades instantâneas. (Pág. 29)
Mais do que se identificar, o espectador se reconhece na figura da estrela instantânea. A mídia cria um sentido de auto-semelhança. (Pág. 30)
Da mesma forma, o modo de apropriação do conteúdo midiático também é socializado. A audiência da TV é coletiva. O aparelho é colocado na sala, de frente para a porta, e os vizinhos têm livre acesso ao sofá. (Pág. 31)
A mudança estrutural da esfera pública é, ao mesmo tempo, causa e consequência da evolução da imprensa. Claro que é preciso separar os conceitos de mídia e imprensa. Mas como a imprensa está no interior da mídia, sendo também uma de suas manifestações, as influências são mútuas. O jornalista não pode ignorar esses conceitos. O homem comum não se informa mais pelos relatos da praça, mas sim pelo que os mediadores do novo espaço público trazem até ele. Daí a nossa responsabilidade. (Pág. 31)
Na história da imprensa, os críticos costumam fazer uma divisão cronológica em modelos explicativos, que refletem as transformações do espaço público. (Pág. 32)
O desenvolvimento dos canais de informação está sempre atrelado a interesses econômicos ou políticos. Na maioria das vezes, os dois juntos. Como quase tudo na sociedade ocidental. (Pág. 33)
Se, a natureza do jornalismo está no medo, sua origem como veículo periódico está no lucro. (Pág. 33)
Na árvore genealógica dos jornais estão as gazetas, que vêm do italiano gazzette, a moeda utilizada em Veneza no século XVI. Elas eram manuscritas, periódicas e apresentadas em quatro páginas em frente e verso, dobradas ao meio, como um pequeno fólio, de vinte centímetros de altura e quinze de largura. Custavam uma moeda, ou seja, uma gazeta. As notícias eram vinculadas ao interesse mercantil, com informes sobre colheitas, chegada de navios, cotações de produtos e relatos de guerras. (Pág. 34)
Só o governo podia autorizar as gazetas e, sobre elas, deveria ter total domínio. Tanto que o primeiro direito de publicação foi dado em 1611 ao Mercure Français, que tinha periodicidade anual e era dirigido por aliados do regime. (Pág. 35)
O governo foi o principal agente do desenvolvimento da imprensa. Também é preciso registrar que o desenvolvimento da difusão de informação pública a partir da Europa do século XVI deve-se não somente ao crescimento do comércio, mas à consolidação de um modelo de vida urbana e à constituição de um público leitor. Os acontecimentos históricos são o pano de fundo que condicionam o aparecimento da imprensa. Entretanto, é a noção de tempo que vai efetivar a constituição dos primeiros jornais. Estes serão caracterizados por trazerem notícias de todos os gêneros e por terem atualidade e periodicidade. (Pág. 36)
Alguns teóricos argumentam que é a atualidade e não a periodicidade que caracteriza uma publicação jornalística. Felipe Pena considera ambos, além da universalidade de assuntos e da publicidade, e por isso trata-os separadamente. Se considerarmos que a periodicidade é a característica vital do fenômeno jornalístico, então temos que incluir os almanaques e calendários manuscritos anteriores a Gutemberg. Entretanto, eles não trazem notícias, apenas informações para consultas sobre assuntos diversos. Há de tudo, desde posições dos astros até previsões gnósticas e dicas de Medicina. (Pág. 37)
Como a opção do autor é considerar a periodicidade junto com a atualidade, então as primeiras publicações jornalísticas surgem no começo do século XVII, na Alemanha, nos Países Baixos e na Inglaterra, e são herdeiras das gazetas venezianas. (Pág. 37)
A experiência da temporalidade está diretamente ligada à evolução histórica e tecnológica, influenciando diretamente a transformação da imprensa até seu estabelecimento como veículo diário. Então, para entender a importância da periodicidade no fenômeno jornalístico, é preciso estudar a complexidade teórica daquilo que costumamos chamar de tempo. (Pág. 37)
Vivemos a ilusão do tempo como objeto mensurável, como ensina o filósofo Norbert Elias. (Pág. 38)
O tempo é regulado socialmente. Nossos ritmos biológicos são ordenados em função da organização social, que obriga os homens a se disciplinarem. E, a longo prazo, o calendário regula nossas relações sociais, padronizadas em efemérides e datas comemorativas. Como o tempo não é visível, tangível ou mensurável, Elias sugere que a regulação social privilegia a sincronia e não a diacronia, encurralando o indivíduo na infinita repetição do presente. (Pág. 38)
Enfim, como diria Cazuza, “um museu de grandes novidades”. (Pág. 38)
A publicidade e a universalidade de temas juntam-se à periodicidade e à atualidade como as quatro características dos jornais modernos. Mas esta última parece causar um pouco de confusão nas análises teóricas. Para Michael Kunczick, em seu clássico livro Conceitos de jornalismo, ela significa que “a informação se relaciona com o presente e o influencia”. Ricardo Kotscho em seu livro A prática da reportagem, ao falar sobre pautas, diz que “qualquer assunto serve se pudermos, por meio dele, mostrar algo novo que está acontecendo, ainda que o tema seja batido”. (Pág. 39)
Ambos os autores, então, abordam atualidade e novidade como conceitos relacionados à temporalidade. Ora, evidentemente, o que está próximo no tempo e influencia o presente só pode ser uma novidade. (Pág. 39)
A temporalidade não se refere ao fato, mas à forma
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