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Psico-Higiene e Psicologia Institucional – Bleger

Por:   •  30/5/2018  •  14.634 Palavras (59 Páginas)  •  1.094 Visualizações

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O psicólogo clínico deve ocupar um lugar em toda equipe de saúde pública, em qualquer e em todos os objetivos da higiene mental, nos quais tem funções específicas para cumprir (as da psico-higiene).

Extremos em higiene mental

Existem algumas atitudes e preconceitos que devemos estudar e nos prevenir, frente a higiene mental. Um dos primeiro preconceitos refere-se aos dos pólos idealização-menosprezo das possibilidades da higiene mental: ou se espera desta última soluções milagrosas ou se desvalorizam todas as suas possibilidade e realizações. Estas atitudes extremas dificultam ou impossibilitam o necessário sentido de realidade e, como em todas as atitudes extremas, uma vez embarcados em uma delas, com facilidade gira-se à inversa. Com isso, corre-se paralelamente o risco de flutuar entre a impotência e a onipotência, com todos os prejuízos e danos de ambas.

Indagação e ação

O psicólogo clínico deve, no campo da higiene mental, aplicar o princípio de que a indagação e a ação são inseparáveis e que ambas enriquecem reciprocamente no processo de uma práxis. A ação deve ser precedida de uma investigação; mas a investigação mesmo já é uma atuação sobre o objeto de se indaga. Todos os fatores que compreendem a investigação e a ação devem ser incluídos como variáveis do fenômeno mesmo que se estuda e que se vai modificando enquanto se estuda.

Saúde pública e higiene mental

A higiene mental é um ramo da saúde pública e deve ser encarada em concordância com a organização e o nível que esta última tenha alcançado em cada lugar, de tal maneira que não podem se desvincular entre si. A higiene compreende o conjunto de conhecimento, métodos e técnicas para conservar e desenvolver saúde. Higiene mental: Consiste nas atividades e técnicas que promovem e mantêm a saúde mental. Dentro da higiene mental pode-se contar com um ramo especial, que interessa particularmente o psicólogo clínico: é o campo da psico-higiene. Assim se o denomina não porque se busque a saúde psíquica (o que seria um absurdo), mas sim porque se age fundamentalmente sobre o nível psicológico dos fenômenos humanos, com métodos e técnicas procedentes do campo da psicologia e da psicologia social.

A higiene mental, como já dissemos, é parte integrante da saúde pública, mas cremos que a psico-higiene ultrapassa os limites da medicina, tanto como ultrapassa as possibilidades de ação do médico. Quando alguns situam o psicólogo clínico como auxiliar da medicina é porque não se entendeu a função e extensão da psico-higiene, reduzindo-a à terapia das neuroses e psicoses. Tudo o que é relativo à saúde pública tem estreita conexão com a organização estatal e disto deriva, com muita frequência, uma atitude de expectativa ou dependência, na qual espera-se tudo dos poderes públicos. Certamente que deles dependem, em grande medida, a planificação racional e a possibilidade de levar a cabo os projetos na escala necessária, mas não é menos certo que também nós somos um "poder público" e que muitos projetos e ações devem e têm que partir dos próprios profissionais, no caráter de tais. A psico-higiene, que é a tarefa de gravitação que corresponde especificamente ao psicólogo clínico, tem também, e em grande medida, que confiar e se basear em esforços profissionais não totalmente estatais.

Com a psico-higiene, onde intervir? Sobre quem ou o quê? Como? Com quê?

O psicólogo clínico deve sair em busca de seu "cliente": a pessoa no curso de seu trabalho cotidiano/o grande passo em psico-higiene consiste nisto: não esperar que a pessoa doente venha consultar e sim sair a tratar e a intervir nos processos psicológicos que gravitam e afetam a estrutura da personalidade e — portanto — as relações entre os seres humanos, motivando com isto o público para que possa concorrer a solicitar seus serviços em condições que não impliquem em doença.

Âmbitos de atuação

Uma instituição não é só um lugar onde o psicólogo pode trabalhar; é um nível de sua tarefa. Quando ingressa para trabalharem uma instituição (escola, hospital, fábrica, clube, etc.), o primeiro que deve fazer é não abrir um gabinete, nem laboratório, nem consultório em atenção aos indivíduos doentes que integram a instituição. Sua primeira tarefa é investigar e tratar a própria instituição; este é o seu primeiro "cliente", o mais importante. Não se deve criar outra instituição dentro da primeira, à maneira de uma superestrutura, porque a psico-higiene não é uma super- estrutura que tem que ser manejada à parte ou acrescentada à vida e às instituições, mas sim dentro das mesmas. Deve-se examinar a instituição a partir do ponto de vista psicológico: seus objetivos, funções, meios, tarefas, etc.; as lideranças formais e informais, a comunicação entre os status (vertical) e os intrastatus (horizontal), etc. O psicólogo é, em uma instituição, um colaborador e de nenhuma maneira deve se converter em centro da mesma; suas funções devem se exercer através dos integrantes regulares da mesma. Nesta ordem de coisas, o psicólogo é um especialista em tensões da relação ou comunicação humana e este é o campo específico sobre o qual deve atuar. A psico-higiene em uma instituição deve funcionar engrenada ou incluída no processo regular ou habitual da mesma e não se transformar em uma superestrutura sobreposta. Os que o consultam e os acontecimentos que deve atender não devem ser encarados em função da problemática individual e sim institucional.

Um segundo nível, muito relacionado com o anterior, é o da atuação sobre os grupos humanos. E muito variada a composição dos grupos e o psicólogo deve tender a atuar sobre os que configuram "unidades naturais", quer dizer, grupos pré-formados, aqueles que já têm dinamicamente configurada a sua função dentro de determinada instituição social: o grupo familiar, o fabril, o educacional, a equipe de trabalho, etc. Outra de suas modalidades é a dos grupos artificiais, que podem ser homogêneos ou heterogêneos, em idade, sexo, problemática, grau de saúde ou de doença, etc. As técnicas grupais a utilizar devem ser escolhidas, segundo o caso, entre as disponíveis: terapêuticas, de discussão, operativas, de tarefa, etc.

Os tipos de situação ou de problemática nos quais o psicólogo deve intervir podem se agrupar da seguinte maneira: 1 — Momentos ou períodos do desenvolvimento ou da evolução normal: gravidez, parto, lactância,

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