A Promessa, Saúde Mental e Eficácia Simbólica
Por: Rodrigo.Claudino • 22/11/2018 • 2.614 Palavras (11 Páginas) • 336 Visualizações
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Vemos atualmente uma desqualificação de atos promissivos e de ritos que contém implicitamente uma promessa, levando a uma falta de esperança, que gera um ciclo vicioso/sintomático, entre o tédio ou gozo, custe o que custar, podendo levar a reações psicopatológicas graves.
Sabemos que aquilo que se promete tem íntima relação com aquilo que idealizamos. Entender sobre promessa em psicoterapia nos ajuda a entender sobre o ideal dos sujeitos envolvidos. Aqueles que estão com o ideal suprimido pela falta de esperança ou por sintomatologias que os impedem de continuar o caminho da vida, têm dificuldades para prometer e, consequentemente, dificuldades em dar seguimento à psicoterapia.
Padres, pastores e líderes religiosos cristãos, respaldados por uma crença, prometem a vida eterna, potencializando assim a esperança em vida. Mas, a nós terapeutas, não nos cabe tal promessa. Promessas em demasia e sem ideal beiram as práticas charlatanistas. Então como qualificar e potencializar a esperança na clínica? Devemos prometer alguma coisa no início do tratamento? O contrato terapêutico deve conter uma promessa? Se sim, o que podemos prometer?
Na tentativa de contemplar os questionamentos acima, procedemos com um estudo acerca da promessa em sua íntima relação com a desistência em início de psicoterapia com adolescentes. No intuito de investigar se os adolescentes prometiam, acabamos descobrindo que os terapeutas – que eram neófitos e, provavelmente, ainda inseguros – além de não prometerem, acabavam não conseguindo estabelecer o vínculo com os adolescentes que consequentemente abandonavam a terapia, antes que o compromisso pudesse ser estabelecido. (VALE, 2015)
Deste modo, observou-se que a maioria dos terapeutas não conseguiram prometer, e consequentemente seus respectivos pacientes também não. Somente um terapeuta estabelece o ato compromissivo com seu cliente, o que possibilitou a continuidade do processo. Esta constatação nos permitiu concluir que é de extrema importância, para o desenrolar do processo no “a posteriori”, prestar atenção nas prioridades a serem seguidas em todo início.
Somente quem entende o que significa uma promessa é capaz de prometer e se comprometer com atos futuros. Nosso limitado estudo sobre a promessa, nos faz compreender que, por vezes, os estudiosos da literatura entendem melhor do que os clínicos, a respeito da promessa. Não que a literatura antecipe tudo, mas não podemos deixar de reconhecer que antecipa muita coisa. Rubem Alves (2008), observa que o sustento das relações amorosas se dá pela promessa, já que não podemos prever os sentimentos. Ensina-nos assim:
Somos donos dos nossos atos, mas não donos dos nossos sentimentos. Somos culpados pelo que fazemos, mas não pelo que sentimos. Podemos prometer atos, mas não podemos prometer sentimentos. (ALVES, 2008).
De acordo com Rubem Alves, não podemos prometer amor eterno a ninguém. Cabe aqui perguntar, será que não podemos? Não obstante, podemos prometer até onde seguiremos com o outro, pelo outro ou ao lado do outro. E são essas promessas que sustentam não só os casamentos, mas os laços sociais, o viver em sociedade e a relação terapêutica.
Apresentamos essas conclusões procurando produzir uma reflexão acerca da importância das entrevistas de início, do contrato psicoterápico e das questões promissivas inerentes a todo começo de um processo terapêutico.
Palavras-chave: Promessa; Eficácia Simbólica; Promessa e Saúde Mental.
REFERÊNCIAS
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FREUD, Sigmund (1923-1925); SOUZA, Paulo César de (Org.). O Eu e o Id, autobiografia e outros textos. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. (Obras Completas, Volume 16).
FREUD, S. (1938[1940]). Esboço de Psicanálise. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v. 23. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 96.
_________ (1909) Notas sobre um caso de neurose obsessiva. Edição Standard
Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. X. Rio de Janeiro:
Imago, 1996.
MIRANDA, Fábio J. Atos de fala e Psicanálise: Estudo Teórico-Clínico sobre a Direção do Tratamento Psicanalítico em Freud. 2001. 315 f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Universidade de Brasília, Brasília, 2001.
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral – uma polêmica. São Paulo: Companhia as letras, 2002.
STRAUSS, Lévi (1982). Estruturas elementares do parentesco. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1908.
VALE, Hellen Fonseca de Sousa da Costa. Promessa e terapia com adolescente: Estudo exploratório acerca da desistência no início de psicoterapia. 2015. 121 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2015.
ABSTRACT
Promise, Mental Health, and Symbolic Efficacy
Promises have been part of the human universe since ancient times. The Holy Bible, one of the oldest books in the world and still studied today, reports that the promise made by God to the people of Israel sustained the fate of this people for about 430 years. Thus, God raised up Moses as the leader who would free people from the bondage of Egypt and lead them for forty years of suffering from desert to the promised land (BIBLE, Exodus, 12: 40-41).
From a macro to a micro level, the promise is part of our life and our belonging to civilization, just as it is part of our most intimate and everyday relationships. We understand with Strauss (1908), Freud (1923) and Nietzsche (2002) that the promise is in the base of cultures, human ideals, religions and it pervades our daily relationships from birth. It is in close connection with biblical writings, as it is particularly present in the road of each person. In addition, like Freud, we believe that promise is a condition sine qua non for the establishment of a successful therapeutic alliance.
We believe that promises are inside culture and supports the social contract, since they are larger than prohibitions, as Strauss (1908) tells us. Therefore, our purpose is to emphasize the importance that promise has for
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