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O MERCADO DO LIVRO DIGITAL E SEU DESENVOLVIMENTO NO BRASIL

Por:   •  19/9/2018  •  4.999 Palavras (20 Páginas)  •  420 Visualizações

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as maneiras singulares pelas quais leitores, espectadores e ouvintes atribuem sentido aos textos e deles se apropriam. Isso depende de diversos fatores, como os suportes físicos de veiculação dos textos, os mecanismos de circulação, as competências e as categorias socioculturais acionadas pelo público durante a leitura (Observatório Itaú Cultural, 2014, p. 19)

O livro digital mostra-se um novo “suporte físico de veiculação de textos”. Entretanto, nessa transição de algo material para algo digital, há questionamentos acerca da “legitimidade” do livro e suas novas plataformas.

Chartier contextualiza esse processo, e auxilia em sua desmistificação

o aparecimento do codex impõe uma nova forma de livro e novas relações com a escrita, mas sem alterar a técnica de reprodução dos textos, que continuou a ser a da cópia manuscrita; a invenção da imprensa revolucionou essa técnica mas permaneceu fiel à forma do livro, o codex, que lhe era muito anterior; por fim, a “revolução da leitura” do século XVIII provocou uma profunda transformação das práticas, sem modificar as condições fundamentais que regiam a produção do livro. Hoje, os três registros de mutações (técnica, morfológica, cultural) encontram-se estreitamente ligados. (CHARTIER apud FURTADO,2006, p. 23)

A sociedade se encontra no epicentro dessas mudanças, que a forçam a rever suas definições de autor, leitor e as relações entre si, além reformular as maneiras como leem e escrevem.

No âmbito digital, Lúcia Reis, Coordenadora de Livros Digitais da editora Rocco, afirma que

o digital (...) tem uma função muito bem definida. O livro digital surge para criar novas possibilidades de experiências de leitura, para tornar mais acessível, em alguns casos, e para inserir a tecnologia nesse prática tão antiga, definidora de nossa sociedade, chamada leitura.(REIS, 2014)

Segundo Christine Borgman, é importante olhar para além da tecnologia e salientar que

os debates sobre publicação eletrônica envolvem a interação de fatores tecnológicos, psicológicos, sociólogos, econômicos, políticos e culturais que influenciam o modo como as pessoas criam, usam, procuram e adquirem informação. (BORGMAN, apud FURTADO, 2006, p. 31)

O entendimento do público do livro digital, juntamente com a compreensão do modo como ele se relaciona com as novas plataformas digitais, mostra-se como um assunto atual e em ascensão. Esta nova tecnologia encontra-se em processo de crescimento no Brasil, enfrentando certas dificuldades, como, por exemplo, a falta de incentivo à leitura (resultado de um contexto histórico e político) e o receio do leitor e sua interação ao livro digital.

Com o objetivo de traçar o perfil do público do leitor digital e diagnosticar sua interação com as tecnologias emergentes e tendo como guia José Afonso Furtado, em seu livro O papel e o pixel – do impresso ao digital: continuidades e transformações, serão utilizados sua extensa referência bibliográfica e seus pertinentes comentários no livro a respeito de grandes historiadores e pensadores, como Fernando de La Flor, Christine Borgman e o próprio Roger Chartier, anteriormente citado; juntamente com outras fontes bibliográficas.

Essas informações serão estruturadas a partir de uma “linha do tempo” em que será abordada a história do livro, partindo de uma breve contextualização do livro impresso e do digital, sua transição, as especificidades do livro digital e seu mercado, tendo no público leitor o elo entre tais assuntos.

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1. História do Livro

A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) definiu, em 1964, um livro como sendo um impresso não periódico de quarento e oito páginas ou mais, excluindo as capas, publicado no país e acessível ao público. Esta definição refere-se ao livro como o conhecemos, em formato de códice (ou códex).

Entretanto, o códice não foi o primeiro formato de livro inventado. Renata Costa, que escreve para a revista Nova Escola, diz que, por volta de 3200 a.C., na Mesopotâmia, os sumérios escreviam em placas de argila, utilizando-as principalmente para registrar leis e tratar de assuntos administrativos e religiosos. Com o passar do tempo, foi preciso fazer do livro algo mais leve, a fim de facilitar sua portabilidade. Para tal fim, foram descobertos outros materiais: o papiro e o pergaminho. O papiro era obtido através de partes de uma planta e transportados em formas de cilindros; ficou conhecido como karthés ou volumen (pelos romanos). Aos poucos, foi sendo substituído pelo pergaminho, feito através de couros de animais tratados.

Os chineses foram os responsáveis pela invenção do papel, que logo substituiu o pergaminho, mas foram os árabes que levaram essa invenção para a Europa, onde foi aperfeiçoada para se tornar mais barata e mais rapidamente produzida.

Na Idade Média, os monges copistas encarregavam-se de, em tempo integral, reproduzir obras religiosas – esta ocupação era considerada um exercício espiritual e o livro era visto como objeto de salvação.

O grande avanço tecnológico, porém, foi a criação da prensa de tipos móveis, inventada em meados do século XV, na Alemanha, por Johannes Gutemberg e com base nas prensas de vinhos. A invenção consistia em tipos móveis (pequenos blocos metálicos com letras esculpidas em relevo) organizados em placas, que seria prensada contra folhas, gerando páginas, sendo que a prensa era operada manualmente. O primeiro livro impresso foi a Bíblia. Com a nova técnica, as obras passaram a ser produzidas com maior facilidade e rapidez e o conhecimento foi difundido para toda a Europa e, a partir daí, para outros lugares do mundo, assim como a própria prensa, que foi adaptada com a finalidade de atender a demanda de obras. Mais tarde, a substituição da técnica manual pela prensa rotativa, inicialmente movida à vapor, permitiu que a impressão tomasse escala industrial.

Conforme o tempo passava, na Idade Moderna, livros cada vez mais portáteis foram surgindo, inclusive os livros de bolso ou edições pocket. Com isso, surgiram novos gêneros, como almanaques, novelas e romances. Na Idade Contemporânea, o livro sofreu mais algumas mudanças, tornando-se cada vez mais um meio de disseminação de informações, juntamente à fotografia e ao cinema.

No fim do século XX, deu-se uma revolução

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