O Cenário de Transformações e a Mudança Organizacional
Por: Hugo.bassi • 25/2/2018 • 12.966 Palavras (52 Páginas) • 267 Visualizações
...
Ao longo dos últimos 10 anos, cerca de 3,5 bilhões de pessoas ingressaram paulatinamente no mercado, trazendo uma quantidade imensa de novas oportunidades. Sem falar que as mudanças na tecnologia e nos mercados estão criando oportunidades tanto para as empresas grandes quanto para as pequenas, sendo imperativo, para a sua sobrevivência, aproveitar essas oportunidades (PRAHALAD, 2006). Como já foi constatado por Nadler, Shaw e Walton (1994, p.15 apud NEIVA, 2004), “as companhias que sobreviveram nas últimas décadas foram aquelas hábeis em responder rápida e efetivamente às condições de mudança ambiental”.
Gestores e presidentes de empresas, ansiando pelo aumento da lucratividade, eventualmente recorrem a mudanças na estrutura, na hierarquia, nos sistemas de remuneração e nos recursos tecnológicos para manter a competitividade no mercado (FNQ, 2008). Dessa maneira, requeridas pelo ambiente de negócios e chanceladas pelos gestores e presidentes das empresas, as mudanças organizacionais encontram legitimidade e suporte por parte dos agentes envolvidos para serem realizadas. Tais mudanças são apontadas por Neiva como:
[...] qualquer alteração, planejada ou não, em componentes que caracterizam a organização como um todo – finalidade básica, pessoas, trabalho, estrutura formal, cultura, relação da organização com o ambiente –, decorrente de fatores internos e/ou externos à organização, que traz alguma conseqüência, positiva ou negativa, para os resultados organizacionais ou para sua sobrevivência (NEIVA, 2004, p. 23).2
Amenakis e Bedeain (1999), no trabalho intitulado Organizational change: a review of theory and research in the 1990s, realizaram uma revisão da literatura sobre mudança organizacional no decorrer de 10 anos e elencaram os 4 temas de pesquisa mais comuns, a saber: (a) questões de conteúdo, que largamente focam a substância da mudança organizacional contemporânea; (b) questões de contexto, que principalmente abordam as forças ou condições existentes no ambiente interno e externo da organização; (c) questões de[pic 3]
2 NEIVA, E. R. Percepção de mudança organizacional: o papel das atitudes e das características organizacionais. 2004. 239 f. Tese (Doutorado em Psicologia), Universidade de Brasília, Brasília.
processo, que dizem respeito às ações tomadas durante a intenção decretada de mudar; (d) questões de critério, que lidam com os resultados comumente avaliados nos esforços de mudança (ARMENAKIS; BEDEIAN, 1999). Conforme abordado em Neiva (2004), “nos anos de 1970/80, os autores preconizavam técnicas de Desenvolvimento Organizacional (D.O.), que objetivavam provocar mudanças nas organizações de trabalho por meio de mudanças nos comportamentos individuais”, o que demonstra que a mudança organizacional não é um tema tão recente nos estudos.
As organizações devem mudar de forma a adaptarem-se ao ambiente, permanecendo competitivas. Não obstante desejem mudar, como muitas vezes o fazem, os agentes responsáveis pela mudança frequentemente apontam a resistência por parte dos funcionários (LIU e PERREWÉ, 2005). Alguns estudos sobre a resistência à mudança têm sugerido que os sentimentos negativos são um indicador da falta de vontade de um indivíduo para suportar mudanças (APPLEBAUM; BATT, 1993; JUDSON, 1991, apud DEVOS; BUELENS;
BOUCKENOOGHE, 2007). Após realizarem estudo, Clegg e Walsh (2004, apud DEVOS; BUELENS; BOUCKENOOGHE, 2007) reportaram 12 fracassos em iniciativas de desenvolvimento organizacional verificadas em 898 companhias de manufatura espalhadas em 4 países. De acordo com os autores, uma razão pela qual as tentativas de mudança podem falhar é que as mudanças, não raro, levam ao aumento de sensações de ansiedade, emoções negativas, incerteza e ambiguidade entre os trabalhadores (BORDIA; HOBMAN; JONES; GALLOIS; CALLAN, 2004; KIEFER, 2005, apud DEVOS; BUELENS;
BOUCKENOOGHE, 2007). De acordo Bortolotti, Junior e Andrade (2009, p. 2), “do ponto de vista individual, a mudança pode originar emoções e reações que variam do otimismo ao medo, podendo incluir ansiedade, resistência, desafio, energia, ambiguidade, entusiasmo, incapacidade, receio, motivação e pessimismo”. Ainda segundo Lines (2005), os indivíduos também podem reagir emocionalmente a seus primeiros encontros com uma mudança, bem como as informações sobre a mudança podem provocar emoções como a frustração, o entusiasmo ou o medo. A formação de atitudes frente à mudança é um evento crucial no processo de mudança (LINES, 2005). Essas atitudes são consideradas por Rodrigues, Assnar e Jablonsky (1999, apud NEIVA, 2004, p. 36) como “uma organização duradoura de crenças e cognições em geral, dotada de carga afetiva pró ou contra um objeto social definido, que predispõe a uma ação coerente com as cognições e afetos relativos a este objeto”.
Citadas por alguns autores como facilitadores de mudança, as atitudes dos indivíduos frente à mudança organizacional adquirem importância fundamental quando constatado seu
papel de sucesso nos processos de mudança organizacional (NEIVA, 2004). Nesse sentido, Damanpour (1991, apud NEIVA; ROS; PAZ, 2004), aponta que as atitudes dos gerentes frente à mudança determinam a participação do empregado e o sucesso no desenvolvimento de programas de mudança, sugerindo que o processo cognitivo dos indivíduos constitui um fator determinante no processo de mudança organizacional.
Neste trabalho, serão descritas e analisadas as atitudes dos indivíduos diante da mudança organizacional em duas empresas de Brasília – DF, assim como o contexto de mudança. Para tanto, serão utilizados dois instrumentos: um que medirá o contexto de mudança – ainda em fase de validação - e outro que medirá as atitudes dos indivíduos frente à mudança. Este foi validado por Neiva, Ros e Paz (2004) e apresenta 3 fatores, quais sejam: Atitude de Cinismo para Mudar, Temores e Atitude Favorável à Mudança. Segundo essas autoras,
Os três fatores apresentados refletem alguns fenômenos associados com a mudança organizacional, conforme descrito na literatura (Bovey & Hede, 2001; George & Jones, 2001; Vale & Thompson, 1998; Schiemann, 1995). O primeiro fator, Atitude de Cinismo para Mudar, claramente reflete oposição e cinismo; o segundo, Temores, também descreve uma atitude negativa para mudar; e o terceiro, a Atitude Favorável à Mudança, abrange crenças e comportamentos positivos em relação às mudanças organizacionais (NEIVA, ROS e PAZ, 2005, p. 81 - tradução nossa).3
Dessa forma, o presente trabalho se insere no campo de estudo que envolve o contexto, uma vez que se trata
...