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Justificação por Graça e Fé: um Novo Espaço Para a Vida

Por:   •  7/10/2018  •  9.191 Palavras (37 Páginas)  •  270 Visualizações

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Não estaria esse fato revelando a cruel realidade de que as pessoas estão correndo na direção errada, procurando a vida, onde ela não se encontra?

Muito cedo, as crianças são estimuladas para a corrida, por exemplo, através das boas notas no colégio; os jovens são levados à luta, pela conquista do seu destaque, através da moda que vestem, da joia que ostentam, do veículo que dirigem, do talento que revelam; os adultos entram na corrida, pela conquista do dinheiro, que compra a casa luxuosa, os móveis distintos, o carro reluzente, enfim o destaque, que traz admiração e que deverá dar-lhes a desejada aceitação, o ansiado espaço para a vida.

É preciso perguntar-se seriamente, se a vida pode ser encontrada pela competição, pela concorrência, pelo destaque que se conquista; é preciso perguntar-se, se podemos encontrar a vida pela corrida na direção da grandeza, da força, do brilho, da influência sobre os outros.

Não estaria - quem assim corre - passando de largo pelo tesouro oculto, por não encontrar tempo, nem tranquilidade para parar e descobri-lo? Não estaria - quem assim corre – correndo de poça em poça, bebendo água estagnada, sem encontrar a fonte de água viva? Não estaria quem assim corre em busca da vida - paradoxalmente, correndo na direção da morte?

B - A ansiedade peia vida numa sociedade capitalista.

Na nossa sociedade capitalista e de consumo, as pessoas são avaliadas basicamente pelo que produzem, possuem e podem consumir. Max Weber cita algumas expressões populares, geradas por essa mentalidade, tais como: "Tempo é dinheiro, crédito é dinheiro, dinheiro gera dinheiro, o bom pagador é o dono da bolsa alheia”. Essas máximas do mundo capitalista diz Weber - “constituem, não apenas uma técnica de vida, mas uma ética peculiar, cuja infração não é tratada como uma tolice, mas como o esquecimento de um dever" (2). São as realizações, as posses e o consumo que justificam a existência das pessoas, que compram aceitação, na tentativa de assim abrir espaços para viver. A posse do capital é a alavanca para tudo isso, pois concede poder, influência e prestígio; concede possibilidade de comprar, ostentar e consumir; concede admiração e status. Isso tudo acelera mais ainda a corrida, na busca desenfreada do capital e do lucro. E nessa corrida, mais do que nunca, os fortes vencem e os fracos tropeçam, veem-se pisados e jogados na sarjeta. A sociedade edificada sobre esses valores premia os dotados, os fortes e capazes e esmaga os pequenos.

Assim sendo, essa sociedade se revela basicamente violenta e estranguladora dos espaços de vida. E a violência aumenta ainda mais, quando se supervaloriza determinados dons e talentos e se desvaloriza outros. "O capitalismo - diz Max Weber - baseado na produção e no lucro, escolhe os mais aptos para os seus empreendimentos.

Os mais aptos são os que têm maior resistência física, maior habilidade, maior força a investir. Ainda que a procura do lucro inescrupuloso sempre existisse, o capitalismo o sistematizou ao estremo, envolvendo o indivíduo e obrigando-o a conformar-se com as suas regras, sob o risco de ficar à margem" (3).

É conhecida a afirmação de Keynes, quando afirma que “ o progresso econômico só é alcançável, se empregarmos aqueles poderosos impulsos humanos do egoísmo, a que a religião e a sabedoria tradicional universalmente nos convidam a resistir” . Claro está que o conhecido economista fala de um progresso econômico como ele o concebe e dentro do qual, como ele mesmo afirma, “o injusto é útil e o justo não o é” (4).

Schumacher constata que a sociedade capitalista de consumo, incentivando sem parar os vícios da inveja, da cobiça e da vaidade, na ilusão de assim preencher a vida, na verdade a destrói, por desconhecer os seus verdadeiros valores. "Se sociedades inteiras forem contaminadas por tais vícios, elas poderão, de fato, realizar coisas espantosas, mas tornam-se cada vez mais incapazes de solucionar os mais elementares problemas da existência cotidiana" (5).

Uma pesquisa realizada em 1977, na Comunidade Evangélica de São Leopoldo, (6) provavelmente representativa para outras comunidades da IECLB e também para a sociedade em geral, apresenta um quadro muito ilustrativo dessa realidade de competição e eliminação. Em sua origem, criada para acolher em comunhão, fraternidade e aceitação mútua todos os evangélicos da cidade, desenvolveu, contraditoriamente, uma história terrivelmente elitizante, a ponto de contar hoje com apenas 15% de operários especializados e não especializados, pertencendo os demais 85% dos membros às classes média e alta. Revela-nos essa pesquisa que todas as famílias evangélicas mais fracas e não suficientemente preparadas para acompanhar a corrida, viram-se forçadas a buscar acolhida em outros meios. Além disso, a comunidade não conseguiu ou não procurou integrar famílias não evangélicas das classes menos favorecidas. A opinião dos entrevistados reforça bem os valores da sociedade competitiva, quando 70% deles expressa a opinião de que "com boa educação e esforço todos vencem na vida" (7). Valoriza, pois, antes de tudo, o esforço, a capacidade e o talento individuais. Como causa da marginalização, em consequência, aponta a culpa própria, por falta de empenho, capricho, esforço, capacidade, talento. Um posicionamento que premia com consideração, acolhida e aceitação, enfim, que justifica o forte, concedendo-lhe espaço para a vida, estrangulando o espaço para o fraco. O fraco marginalizado pode, no máximo, merecer uma ajuda assistencialista, mas continua sendo visto como não merecedor da acolhida, como não merecedor de aceitação e como estando onde, por culpa própria, deve estar. Estaria essa pesquisa, em suas respostas, dando razão a Schurmann, quando ele diz que “a história do cristianismo na América Latina poderia ser descrita sob o ponto de vista da confirmação religiosa da alienação já existente”? (8)

Iludidas com a idéia de que a vida se conquista com a posse de bens materiais, com o consumo abundante ou exagerado e com o brilho que causa admiração, as pessoas vivem a constante tentação de investir todas as suas energias e atenções nestes valores e deixar-se absorver totalmente por esse objetivo. A sociedade de consumo cria um número infinito de necessidades e leva todos a correrem atrás delas, sem que a maioria possa alcançá-las, criando assim uma constante frustração e criando, nos poucos ricos, uma acumulação e um desperdício selvagens. E as pessoas entram assim, fatalmente, na concorrência e na competição ferrenhas de uns contra os outros,

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