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Vida e obra de Hume

Por:   •  28/8/2017  •  2.989 Palavras (12 Páginas)  •  616 Visualizações

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Em todas as composições geniais é, portanto, necessário que o autor tenha algum plano ou objeto; e embora possa ser desviado deste plano pela impetuosidade de seu pensamento, ou omiti-lo descuidadamente, deve aparecer algum fim ou intenção em sua primeira composição, senão na composição completa da obra. Uma obra sem um desígnio se assemelha mais a extravagância de um louco do que aos sóbrios esforços do gênio e do sábio. Conclui-se que nas composições narrativas os eventos ou atos que o escritor relata devem estar unidos uns aos outros na imaginação e formem uma espécie de unidade que possa situá-los em um único plano, em um único ponto de vista, e que possa ser o objeto e o fim do autor em seu primeiro empreendimento.

A espécie mais habitual de relação entre os diferentes eventos que fazem parte de uma composição narrativa é a de causa e efeito. Não é apenas numa determinada parcela de vida que as ações de um homem dependem umas das outras, mais durantes toda a sua existência, ou seja, do berço ao túmulo; é impossível quebrar um único elo, embora diminuto, desta cadeia regular sem afetar toda a série de eventos. A unidade de ação difere da poesia épica não em gênero, mas em grau. Na poesia épica, a conexão entre os eventos é mais próxima e mais sensível e busca satisfazer à curiosidade dos leitores, esta conduta conta com a situação particular da imaginação e das paixões. Tanto a imaginação do escritor como a do leitor é mais avivada, e as paixões são mais estimuladas do que na história, na biografia ou em todo tipo de narração confinada estritamente à verdade e à realidade.

Toda poesia que é uma espécie de pintura, nos coloca mais perto do objeto; servem vigorosamente para avivar as imagens e satisfazer à imaginação. Um poeta épico não deve descrever uma longa série de causas; numa composição correta todas as emoções estimuladas pelos diferentes eventos descritos e representados adicionam suas forças mutuamente. A forte conexão de eventos facilita, ao mesmo tempo, a passagem do pensamento ou da imaginação de um a outro e a transfusão das paixões, e mantém as emoções sempre no mesmo canal e na mesma direção.

O interesse do espectador não pode ser desviado por cenas desarticuladas e separadas das outras. A unidade de ação é comum à poesia dramática e à épica, na poesia épica ou narrativa, esta regra se estabelece sobre um outro fundamento que é a necessidade que se impõe a todo escritor, de ter um plano ou desígnio antes de principiar qualquer dissertação ou relato e de compreender seu tema sob um aspecto geral ou uma visão unificadora que possa ser o objeto constante de sua atenção.

Comparando novamente a história e a poesia épica, podemos concluir dos raciocínios precedentes que certa unidade é necessária em todas as produções. Na história, a conexão que une os diferentes eventos num só corpo é a relação de causa e efeito, a mesma que aparece na poesia épica; e que, nesta última composição, é preciso que esta conexão seja mais próxima e mais sensível em virtude da vivacidade da imaginação e da força das paixões que o poeta deve abarcar em sua narrativa. A diferença entre a história e a poesia épica consiste apenas nos graus de conexão que une entre si os vários eventos que compõem seu tema.

Os objetos da razão ou da investigação humanas dividem-se naturalmente em dois gêneros, a saber: relações de ideias e de fatos. Ao primeiro pertencem as ciências da geometria, da álgebra e da aritmética e, numa palavra, toda afirmação que é intuitivamente ou demonstrativamente certa. Podem descobrir-se pela simples operação do pensamento e não dependem de algo existente. O fatos, que são os segundos objetos da razão humana, jamais implicam uma contradição, o espírito o concebe com a mesma facilidade e distinção como se ele estivesse em completo acordo com a realidade, estabelece que o contrário de um fato qualquer é sempre possível.

A segurança acerca da realidade de uma existência e de um fato que não estão ao alcance do testemunho atual de nossos sentidos ou do registro de nossa memória, pode ser transmitida através da investigação da natureza desta evidência. Os raciocínios que se referem aos fatos parecem fundar-se na relação de causa e efeito, por meio desta relação ultrapassamos os dados de nossa memória e de nossos sentidos. Os nossos raciocínios sobre os fatos são da mesma natureza e constantemente supõe-se que há uma conexão entre o fato presente e aquele que é inferido dele. As causas e os efeitos não são descobertos pela razão, mas pela experiência.

O efeito é totalmente diferente da causa. A imaginação inicial ou invenção de um efeito particular é arbitrária se não consultamos a experiência, do mesmo modo, a conexão entre a causa e o efeito, o laço que une um ao outro, impossibilita que qualquer outro efeito possa resultar da operação da causa, pois todo efeito é um evento distinto de sua causa.

A natureza de todos os nossos raciocínios sobre os fatos é que eles se fundam na relação de causa e efeito, sendo o fundamento de todos os nossos raciocínios e conclusões sobre essa relação à experiência. A experiência passada dá somente uma informação direta e segura sobre determinados objetos em determinados períodos do tempo, dos quais ela teve conhecimento. Tem de ser entendida a tempos futuros e a outros objetos que, pelo que sabemos, unicamente são similares em aparência.

Os raciocínios podem ser divididos como raciocínios demonstrativos, que se referem às relações de ideias, e os raciocínios morais, que se referem às questões de fato e de existência. Se os argumentos nos levarem a confiar na experiência e fazê-la padrão de nosso juízo futuro, deveremos considera-los apenas prováveis, isto é, referentes às questões de fato e de existência real. Mas, se nossa explicação desta classe de raciocínio é considerada sólida e satisfatória, verificaremos que de fato não existe tal tipo de argumento.

Temos dito que todos os argumentos referentes à existência se fundam na relação de causa e efeito, que o conhecimento daquela relação provém inteiramente da experiência e que todas as nossas conclusões experimentais decorrem da suposição que o futuro estará em conformidade com o passado. Todas as inferências provenientes da experiência supõem, como seu fundamento, que o futuro se assemelhará ao passado, que poderes semelhantes estarão conjugados com qualidades sensíveis semelhantes.

A filosofia acadêmica ou cética é a corrente filosófica que não se liga a nenhuma paixão desordenada do espírito e nem se alia a qualquer

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