A Religião e Sociedade – Radcliffe Brown

Religião e Sociedade

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Religião e Sociedade – Radcliffe Brown

Conferência do Royal Anthropological Institute sobre o papel da religião no desenvolvimento da sociedade humana.

- Maneira usual de encarar as religiões é considerá-las como esquemas de crenças errôneas e práticas ilusórias.

- R.B. concorda que a história das religiões tem sido em grande parte uma história de erro e ilusão.

- Em todas as épocas os homens acreditaram que mediante adequada prática de atos religiosos ou observância de prescrições obteriam certo benefício. (saúde; vida longa; filhos; bem-estar material; êxito na caça...)

- (por considerarem ilusórias) Os antropólogos têm dado maior atenção ao problema de como estas crenças vieram a ser formuladas e aceitas (origens). (Esse método não levará à verdadeira compreensão da natureza das religiões.)

- (abordagem) Qualquer religião é parte importante e mesmo essencial do maquinismo social, como o são a moralidade e a lei, parte de um sistema complexo pelo qual os seres humanos são capazes de viver em conjunto numa disposição organizada das relações sociais.

▪ Desta perspectiva tratamos não das origens, mas das funções sociais da religião, isto é, a contribuição que ela é capaz de dar para a formação e manutenção de uma ordem social.

[hipótese] é, portanto, de que o que consideramos falsas religiões (embora o cumprimento de ritos religiosos não produza de fato os efeitos esperados ou acreditados pelos que praticam ou tomam parte neles) têm outros efeitos, alguns dos quais podem ser valiosos do ponto de vista social.

(Procedimento para verificar essa hipótese): não pensar em termos de religião ou sociedade abstratamente.

- método experimental da antropologia social: devemos estudar à luz de nossa hipótese um número suficiente de determinadas religiões diferentes ou cultos religiosos em sua relação para com determinadas sociedades nas quais se encontrem.

(Sem entrar na discussão do conceito de religião).

- Admitirei que toda religião ou todo culto religioso implique normalmente certas noções ou crenças bem como certas prescrições. Estas prescrições, positivas e negativas, isto é, atos e abstenções mencionarei sob o nome de ritos.

- Religião (países europeus): questão de fé.

- (resultado) Costume de tratar a fé como premissa: os ritos são considerados resultados das crenças. (tentam então elucidar as crenças mediante hipóteses quanto à possibilidade de terem sido formadas e adotadas)

- Isso é produto de falsa psicologia.

...(Ex: afirma-se às vezes que rituais fúnebres e de luto são resultado de uma crença na alma sobrevivente à morte)

.... se é pra falar de causa e efeito (e isso não existe) afirmaria que a crença numa alma sobrevivente não é causa, mas efeito dos ritos.

...análise de causa-efeito é enganadora.

* ... o que acontece é que os ritos e as crenças justificadoras ou racionalizantes evoluem juntas como partes de um todo coerente. Mas nesta evolução é a atividade ou a necessidade de ação que controla ou determina a crença mais que qualquer coisa. As ações em si mesmas são expressão simbólica dos sentimentos.

- Para compreender uma religião devemos primeiro concentrar atenção mais nos ritos que nas crenças.

[Loisy] também (ritos são, em todas as religiões, o elemento mais estável e duradouro, e conseqüentemente aquilo no que podemos melhor descobrir o espírito dos cultos antigos)

[Robertson Smith] o hábito moderno é procurar um credo, e achar nele a chave para o ritual e prática. Mas as religiões antigas, na maioria não tinham credo algum: consistiam inteiramente em instituições e práticas.

- Em geral não se segue uma prática sem lhe atribuir significado; mas, via de regra, verificamos que embora a prática fosse rigorosamente estabelecida, o significado atribuído a ela era extremamente vago, e o mesmo rito era explicado por diferentes pessoas de modos diversos, sem suscitar qualquer questão de ortodoxia ou heterodoxia.

- Ex (Grécia antiga): certas coisas eram feitas no templo sem explicações sistemáticas e não suscitavam forte sentimento. O rito não estava relacionado com um dogma, mas com um mito. (surgimento por decreto ou ação de um deus). Razão era pratica seguida de teoria doutrinal e não primeiramente formulada como doutrina e depois expressa na prática. Os homens constituem normas gerais de conduta antes que comecem a exprimir princípios gerais em palavras.

(a existência da sociedade era razão suficiente pela qual o precedente, uma vez estabelecido, devia continuar a ser seguido)

- Ex2 (cristãs): relativa estabilidade de ritos e variabilidade de doutrinas. Batismo e comunhão, ritos essenciais. Cristãos se mataram por diferenças doutrinárias.

[Teoria geral da função social dos ritos e cerimônias] – Andaman

▪ Uma vida social organizada depende da presença, nos espíritos dos membros de certa sociedade, de determinados sentimentos que controlam a conduta do indivíduo em sua relação com os demais.

* Os ritos podem ser vistos como expressões simbólicas moderadas de certos sentimentos.

* Têm uma função social específica: têm por efeito refrear, manter e transmitir de uma geração a outra sentimentos dos quais a constituição da sociedade depende.

** Ousei sugerir como fórmula geral que a religião é em toda parte expressão, de uma forma ou de outra, de certo sentido de dependência para com uma força exterior a nós mesmos, força da qual podemos falar como espiritual ou moral.

[** Filósofos da China Antiga – fonte dessa tese do R.B.]

- Livro dos ritos, de Hsün Tzu. Li = ritual.

- Na China também pensavam que muitos ou todos os ritos religiosos fossem eficazes no sentido de evitar males e trazer bênçãos.

- MAS havia uma certa atitude racionalista e agnóstica (interpretada como):

...na maior parte a questão da eficácia dos ritos não era considerada. O que se julgava importante era a função social dos ritos, isto é, seus efeitos