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PROSTITUIÇÃO MASCULINA E DA HOMOSSEXUALIDADE NAS MEMÓRIAS BLOGUEIRAS

Por:   •  8/7/2018  •  5.768 Palavras (24 Páginas)  •  363 Visualizações

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um viés jornalístico, e que pode ser estudado dentro da semiologia histórica, como constituição de um discurso.

Sendo assim, o objetivo principal é compreender a constituição do sujeito Tony Maya e o movimento discursivo em sua escrita que apresenta um hibridismo dos gêneros discursivos e textuais “confissão” e “conto erótico”. A análise foi feita tomando as imagens que acompanham os diversos posts que apresentam, conforme define Courtine (2013), uma semiologia do olhar, bem como alguns enunciados que acompanham tais imagens. A tentativa foi de descrever e interpretar discursivamente e semiologicamente um corpo que escreve e se inscreve numa ordem discursiva de um sujeito que se marca. O referencial teórico principal é a Análise de Discurso, utilizando as reflexões de Michel Foucault, o qual toma o discurso da sexualidade e do corpo como mecanismo de poder e saber, e versam, sobretudo, acerca do sujeito. Ainda são trazidos os estudos do corpo e da imagem, dentro da semiologia histórica praticada por Jean-Jacques Courtine. Em um momento das análises foi preciso questionar qual a tônica dos textos de Tony Maya: um viés pornográfico, trata-se de um site erótico? Qual a diferença entre erotismo e pornografia? E para promover uma segurança maior em torno do que se propunha fazer em termos de estudos, buscou-se uma consideração acerca da leitura pornográfica em uma trajetória histórica traçada por Jean-Marie Goulemot.

A partir desse referencial teórico e bibliográfico, surgiram diversas indagações para a constituição da problemática do estudo: que poder tem a imagem ao dar voz a um sujeito em sua mais ampla intimidade e que expõe e veicula suas memórias em público na internet? Como o corpo tomado como discurso é o elemento pelo qual o sujeito se inscreve na ordem discursiva? Que imagem da prostituição (e no caso da prostituição masculina) está na memória discursiva da sociedade e quais efeitos tal memória pode gerar nos sujeitos, tanto no autor quanto nos leitores?

A partir de agora, será definido o que é discurso, a semiologia histórica, a ordem do olhar, tentando conceituar o corpo como objeto discursivo. Em seguida, buscou-se mostrar a constituição do sujeito e a circulação de seu discurso por meio de um dispositivo da sexualidade que marca a confissão e ao mesmo tempo a erotização por meio da internet, ou seja, a atualização de um discurso antigo por meio de práticas ressignificadas na modernidade.

Dispositivo, corpo e ordem do olhar

A Análise do Discurso se inscreve dentro das ciências humanas e também dentro da Linguística, mas não é uma disciplina que trata puramente da língua. O discurso é algo exterior à língua, mas que se manifesta por meio dela. A sistematização da Linguística como ciência se dá em Saussure, que ao destacar o estudo da língua no interior de um sistema, do qual é o principal, o mestre genebrino começa a pensar no que seria esse sistema maior, a Semiologia, ciência que estuda a vida dos signos no seio da vida social. Mas Saussure, preocupado com a sistematização da língua, não conseguiu ir mais a fundo na Semiologia, pelo menos no que mostram as publicações a que se tem acesso, ao contrário do que parece ser nos manuscritos encontrados posteriormente a sua morte. Há um apagamento da Semiologia até 1980 e algumas fontes insistem no caráter aleatório da atribuição da Linguística como o sistema geral, o que é preciso olhar com cuidado, pois a semiologia abarca outros objetos, indo além do linguístico. Fernandes (2012), define a noção de discurso e confirma que não se trata apenas do verbal ou só o linguístico, mas que vai além:

A Análise do Discurso, tendo o discurso como objeto de investigação, trabalha com a linguagem sob suas diferentes possibilidades de existência, e a considera em uma relação direta com a história – esta como o que determina as possibilidades de realização daquela – e com os sujeitos. O discurso é exterior à língua, mas depende dela para sua possibilidade de existência material, ou seja, o discurso materializa-se em forma de texto, de imagens, sob determinações históricas (p.16).

A possibilidade de se trabalhar a Semiologia, surge da necessidade de analisar os enunciados e não só os enunciados linguísticos. Para os analistas do discurso, diante da expansão dos corpora surge a indagação se é necessário inserir uma perspectiva semiológica na Análise do Discurso (AD) e, diante desse questionamento, refletir ainda qual conceito de Semiologia pode ser tomado. O que sabemos é que na definição e na abordagem de Saussure no Curso de Linguística Geral, o conceito não oferece possibilidades maiores para a AD.

Tratada no viés da AD, a abordagem semiológica pode ser vista como uma metodologia para uma teoria das ideologias. Para a semiologia histórica empreendida por Jean-Jacques Courtine, o sentido está posto através da historicidade e, retomando Foucault, trabalha-se o discurso na sua relação com o enunciado e enunciação, na certeza da necessidade de trabalhar não apenas o enunciado linguístico.

Pensando melhor, no entanto, existe uma outra maneira, paradoxal, mas talvez mais justa, de compreender a formulação foucaultiana [“O enunciado não é nem a frase...]: ela corresponderia à afirmação de que o discurso é um objeto linguístico que não é linguístico. O enunciado pode ser dotado de propriedades linguísticas, sintáxicas, semânticas, textuais, mas isso não lhe confere absolutamente uma unidade de discurso, “esta forma indefinidamente iterável e que pode dar lugar às enunciações as mais disseminadas”. (COURTINE, 2013, p.22)

Courtine trabalha com os enunciados no sentido de que eles deixam pistas, indícios, na historicidade – que não é aquela história cronológica, sequencial, mas a história das singularidades – e estes devem ser buscados, “caçados”, assim como faz um detetive, pelo analista do discurso que faz uso de uma visão semiológica. Neste aspecto, é preciso pensar também na memória discursiva, pois não há discurso que não remeta a outros discursos, a outros ditos e não-ditos. É certo que para Courtine e diversos estudiosos do discurso numa abordagem foucaultina, o filósofo francês, trouxe o corpo para dentro do discurso, tratado como objeto já que é um dispositivo do sujeito, corpo este no qual ele se marca e no qual ele se inscreve na ordem discursiva. Retomando o objeto de estudo em questão, – o garoto de programa Tony Maya –, é a sua escrita e suas imagens (que não são suas, mas as do imaginário e as da memória sobre a sexualidade) que aparecem no blog e é pelo corpo que ele se marca e se constitui como sujeito. Assim, para Courtine: “O discurso deve ser compreendido

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