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TRABALHO DA DISCIPLINA DE PSICOLOGIA APLICADA AO TRABALHO

Por:   •  2/7/2018  •  1.660 Palavras (7 Páginas)  •  456 Visualizações

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Um outro barbeiro chamado João Pina começou a conspirar dizendo que Porfírio estava vendido ao Dr. Bacamarte e começa, então, um novo movimento golpista que culmina na derrubada do anterior. Nisto entrou na vila uma força mandada pelo vice-rei e restabeleceu a ordem. O alienista internou os dois barbeiros revoltosos e mais uns cinquenta e tantos indivíduos envolvidos. Internou também o único amigo que tinha, o boticário Crispim, que havia declarado apoio a Porfírio por medo do novo governo e imaginando que o Dr. Bacamarte seria preso. O médico argumentou ao amigo que o terror era o pai da loucura, e que o caso de Crispim Soares lhe parecia dos mais caracterizados. Daí pra frente tudo era loucura. O Dr. Bacamarte interna a própria esposa porque ela não conseguia se decidir entre um colar e outro que seria usado em um baile.

O assombro acontece quando o Dr. Bacamarte encaminha um ofício à Câmara anunciando que soltaria todos os pacientes da Casa Verde, pois, ao analisar as estatísticas e verificar que oitenta por cento da população de Itaguaí estava no manicômio, concluiu que, opostamente ao que pensava, o normal era o desequilíbrio das faculdades e o patológico seria todos os casos em que o equilíbrio fosse ininterrupto, passando estas pessoas a integrarem o manicômio a partir de então. Várias pessoas foram recolhidas à Casa Verde pela nova teoria, por se acharem em perfeito equilíbrio mental. Os alienados, agora, eram alojados por classes: os loucos em que predominava a perfeição moral, outra de tolerantes, outra de sinceros, outra de leais e assim por diante. Até o barbeiro Porfírio fora recolhido à Casa Verde porque, procurado por pessoas influentes da Corte que lhe ofereciam apoio e dinheiro, se recusou a liderar um outro movimento contra o Alienista dizendo que jamais utilizaria um recurso que viu falhar em suas mãos a troco de mortos e feridos que lhe causavam grande remorso. O médico ficou espantado com a coerência do discurso de Porfírio e achou que ele preenchia os novos critérios de loucura.

A terapêutica de Simão Bacamarte consistia em atacar de frente a qualidade predominante de cada alienado, aplicando-lhe a medicação que pudesse incutir-lhe o sentimento oposto. O vereador Galvão, por exemplo, afligido de moderação e eqüidade, recebeu uma herança de um tio cujo testamento ambíguo lhe possibilitou corromper os juízes e desfavorecer os demais herdeiros. Estava curado. No fim de cinco meses e meio a Casa Verde estava vazia. Todos estavam curados.

Mas o médico não ficou alegre, ficou preocupado, alguma coisa lhe dizia que havia uma nova teoria. Pensativo, Simão Bacamarte achou em si as características do equilíbrio mental e moral perfeitos, ou seja, todas as qualidades de um louco acabado. Para ter certeza, convocou um conselho de amigos para confirmar-lhe a opinião e, por unanimidade, concluiu: nenhum defeito. Ato contínuo, recolheu-se à Casa Verde, mesmo sob protesto da esposa e de amigos. Dizia que a questão era científica e entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo até a morte, pouco tempo depois.

Análise:

A obra é repleta de críticas ao comportamento humano, sendo muitas delas bastante atuais apesar do tempo decorrido. Embora o foco principal seja o conceito de normalidade e o tratamento dispensado aos loucos/alienados, é possível refletir sobre diversos outros temas.

Machado faz uma crítica ao cientificismo da época, pois na virada do século XIX havia uma confiança exacerbada nos poderes da ciência. Tudo era permitido em seu nome ou para a sua evolução, exemplo disso são os experimentos nazistas em busca de uma comprovação de superioridade racial. O Dr. Bacamarte também justificava a sua rigidez procedimental em nome da ciência e ninguém na cidade, nem mesmo as autoridades, lhe contestava já que a ciência não podia ser freada. O autor revela “...o médico era frio como um diagnóstico”.

Também são alvos da ironia machadiana as promiscuidades das relações de poder. O barbeiro Porfírio, por exemplo, mesmo encabeçando uma revolta contra o Alienista e pelo fim da Casa Verde, faz um acordo com o médico em troca de apoio político.

Mas a principal contribuição é a reflexão sobre o estigma da loucura e a psiquiatria tradicional que trata pacientes contra a vontade, excluindo-os do convívio social em verdadeiros cárceres privados.

O Hospício de Barbacena, fundado em 1903, era usado para abrigar, além de doentes mentais, pessoas socialmente indesejáveis, como mendigos, gays, prostitutas, etc. Segundo a pesquisa da jornalista Daniella Arbex, autora do livro “Holocausto Brasileiro”, a partir de 1930 os critérios médicos para diagnóstico desapareceram e de cada 10 pacientes internados, 7 não tinham nenhum perfil de doença mental. Com capacidade para 200 leitos, chegou a abrigar cerca de cinco mil pacientes com mais de 60.000 mortes registradas em função das condições desumanas do local. Em 1979, o psiquiatra italiano Franco Basaglia chegou a comparar o Hospício a um campo de concentração nazista. Na mesma época, o cineasta Helvécio Ratton, produziu o documentário “Em nome da Razão” mostrando o cotidiano dos pacientes, a precariedade de condições e o ócio absoluto dos internos.

De forma muitíssimo lúcida, “O Alienista” ironiza a loucura e revela o que foi a prática psiquiátrica brasileira em seu início, podendo ser considerado um marco para o Movimento de Luta Antimanicomial no Brasil.

Referência

- https://pt.wikipedia.org/wiki/Hospital_Col%C3%B4nia_de_Barbacena>.Acesso em: 07 de outubro de 2016.

- https://pt.wikipedia.org/wiki/Em_Nome_da_Raz%C3%A3o>.Acesso em: 07 de outubro de 2016.

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