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Sociedade Contra o Estado

Por:   •  16/3/2018  •  1.088 Palavras (5 Páginas)  •  424 Visualizações

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O termo “adaptação criativa” é utilizado por Albert (1993) para sugerir uma reversão ao discurso de dominação colonial. Os guarani tem consciência do valor de sua imagem e se utilizam disso para os fins que desejam. Sendo possível articular discursos extremamente coerentes em que é visado tanto o resgate da própria cultura, mas também a obtenção de melhorias materiais para as comunidades. Seja através de doações em troca das apresentações, seja por dinheiro arrecadado com a venda de CDs.

Felipe Velden (2011), após passar a primeira temporada de campo entre os integrantes da aldeia Kyõwã, localizada quase no centro da Terra Indígena Karitiana, que confeccionam objetos para comercialização em cidades ocidentalizadas, pede, para um dos integrantes um arco para levar de recordação. O autor, porém, não quer um daqueles arcos confeccionados para venda, mas sim arcos como os utilizados para caçar. Delgado, que estava providenciando a encomenda, então questiona para que Velden iria querer um arco daqueles se certamente não iria caçar.

Claramente os objetos confeccionados possuem significados diferentes nos diferentes contextos que são apresentados. Os arcos utilizados no dia a dia, utilizados para caça, são reinventados e pensados de forma estratégica, adequados às demandas, para fins de comércio. Assim como a música que, entre os Guarani, cantada e performatizada de certa maneira em sua tribo é habilmente reinventada para ser produzida.

Ao mesmo tempo em que essa adaptação é “condenada” pelo homem branco quando esta acontece com povos indígenas, parece não se dar conta ou perturbar quando isto ocorre com ele mesmo ao tomar banho todos os dias, comer comida chinesa, etc.

O uso e livre apropriação, já comentados, de instrumentos da “música ocidental”, não implica, entretanto, na dissolução de fronteiras entre os guarani e juruá. Em exemplo Coelho comenta sobre o disco Mehinakú: Message from Amazon que oferece ao publico justamente um “índio intocado”. Contem dois CDs: “ethinic” e “fusion”. O primeiro com trechos de performances musicais dos próprios mehináku. Já o segundo, como o nome sugere, tem a proposta de “fundir culturas”, no qual performances de músicos “ocidentais” são acrescentados a posteriori, no qual foi necessário que fosse feito um “enquadramento da música mehináku pelas gravações de músicos ocidentais que lhe são sobrepostas” que “se dá fundamentalmente pela imposição de padrões rítmicos e tonais estranhos ao código musical mehináku” (p. 09).

Este movimento parece tocar numa antiga ferida, aponta para um ruído, uma falta de sintonia que tem caracterizado aspectos das relações entre índios e jurua. Que, no entanto, chamam o juruá para conversar ao passo que suas cidades estão sistematicamente sendo incluídas, como alvo de mensagens musicais específicas em forma de CDs e shows.

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