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Um estudo sobre o bullying como forma de reprodução social da violência

Por:   •  14/11/2018  •  4.418 Palavras (18 Páginas)  •  365 Visualizações

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Dentre as diversas formas de violência que se manifestam no ambiente escolar, embora não se restrinjam a este espaço, destaca-se o bullying, comportamento violento, sem motivação aparente, repetitivo, intencional e caracterizado pelo desequilíbrio de poder entre os envolvidos (OLWEUS, 1993).

O bullying pode ocorrer de duas maneiras: direta, “que inclui agressões físicas (bater, chutar, tomar pertences), e verbais, (apelidar de maneira pejorativa e discriminatória, insultar, constranger)”; e indireta, “através da disseminação de rumores desagradáveis e desqualificadores, visando à discriminação e exclusão da vítima de seu grupo social” (FANTE, 2005).

Ganha também destaque o Cyberbullying que por definição, compreende o uso de ferramentas tecnológicas para assediar, ameaçar, constranger ou humilhar outra pessoa, simular ou tentar violar senhas das vítimas (JUVONEN; GROSS (2008) apud WENDT; LISBOA, 2013).

Identificam-se entre os envolvidos nas ocorrências de bullying os perfis de vítima, vítima-agressora, agressores e espectadores. As vítimas são geralmente crianças que apresentam características diferentes das demais, estigmas e/ou atributos considerados negativos, já a vítima-agressora é aquela que reproduz os maus-tratos sofridos. Quanto ao agressor ou bully, este sente uma necessidade imperiosa de dominar e subjugar os outros, de se impor mediante o poder e a ameaça de conseguir aquilo a que se propõe. Os espectadores definem-se como aqueles que presenciam o bullying, porém não o sofrem nem o praticam. Independente dos papéis assumidos nas ocorrências de bullying, os prejuízos acarretados a todos os envolvidos são significativos e na maioria das vezes duradouros (FANTE, 2005).

Embora necessária, a simples identificação dos envolvidos e a atribuição de perfis aos mesmos a partir de suas características individuais, compreendidas por muitos pesquisadores como causa aparente do fenômeno, desconsidera o fato de que estes vivenciam relações sociais que contribuem para produção e reprodução da violência. Esse reducionismo ocasiona o empobrecimento do fenômeno, impossibilitando assim uma visão mais ampliada a luz do conceito de violência e do contexto social e histórico no qual se insere.

Ressalta-se ainda que os adolescentes atuam nas mais diversas situações sociais, orientados por seu habitus, pela forma como foram socialmente ensinados a agir e pensar o mundo. Essa construção se dá no processo de socialização do sujeito, de acordo com o meio ou campo social ao qual pertence e da posição hierárquica que ocupa nas estruturas sociais (BOURDIEU apud NOGUEIRA, 2014).

Do encontro dos diferentes hábitos, das hierarquias sociais hegemônica e culturalmente construídas, da necessidade de convivência com o “diferente” emergem questões como preconceito, exclusão e demais atos violentos (TRINDADE, 2009).

Isso posto, o presente artigo objetiva problematizar as ocorrências de bullying para além dos aspectos individuais dos envolvidos, considerar aspectos sociodemográficos, correlacionar a existência do fenômeno à violência doméstica e social evidenciando-o como uma manifestação eminentemente humana e socialmente construída.

2 - MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal, realizado na cidade de Betim, localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, entre os meses de julho e novembro de 2014, com referência nos 12 meses anteriores.

Os dados primários originaram-se da pesquisa “Saúde e Violência: Subsídios para Formulação de Políticas Públicas de Promoção de Saúde e Prevenção da Violência– SAUVI”, da qual o estudo em questão é parte integrante.

Considerou como população alvo todas as pessoas com 20 ou mais anos de idade residentes nos 1280 domicílios particulares permanentes e localizados em setores censitários urbanos do município de Betim (espaço amostral com grau de confiança de 95% e uma margem de erro de no máximo 1,9%).

Os respondentes foram selecionados através do método de amostragem estratificada por conglomerados de acordo com os seguintes estágios: setores censitários, domicílios, respondente. Para a seleção do respondente no domicílio foram utilizadas as tabelas de Kish, com vistas a garantir a homogeneidade entre sexo e idade de acordo com a amostra.

Para além da pessoa selecionada no domicílio, foram também identificados como respondentes os idosos e adolescentes que integravam o grupo familiar.

No que tange ao público adolescente fora elaborado questionário específico, composto de cento e cinquenta e duas (152) questões organizadas em dez (10) blocos temáticos, a saber: religião, escola, sobre você, família, trabalho, transito, sexualidade, violência, drogas e temáticas.

Ressalta-se que o referido questionário é autoaplicável, sendo preenchido pelo próprio adolescente após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE por seu responsável.

Conforme definição da Organização Mundial de Saúde – OMS (2001), este estudo considerou adolescente, a pessoa com idade entre 10 e 19 anos.

A partir das variáveis qualitativas ordinais, construiu-se sete indicadores para identificar o envolvimento dos adolescentes em situações de bullying, a saber: envolvimento com bullying, perfil de vítima, perfil de agressor, perfil de vítima-agressora, perfil de espectador, violência doméstica e violência social. As categorias (ou níveis) destas variáveis foram codificadas de forma a ponderar mais as respostas positivas e menos as respostas negativas ao bullying. Essa codificação para as variáveis com 5 categorias seguiu o presente padrão: -2, -1, 0, 1 e 2. Cada indicador foi padronizado para que assumisse valores numa escala entre 0 e 1.

A análise estatística foi baseada em medidas descritivas, tabelas de frequências simples e cruzadas, gráficos do tipo boxplot, correlação de Pearson, Correlograma e teste qui-quadrado de homogeneidade.

Analisou-se também variáveis indicativas dos aspectos sociodemográficos, como idade, sexo, raça/cor, escolaridade dos pais, renda per capita e tipo de configuração familiar. As formas e locais de ocorrência do bullying também foram analisados.

As analises foram realizadas no software Statistical Package for Social Ciences – SPSS versão 2.1 e no software R for Windows versão 3.2.3. Considerou-se um nível de significância de 5%.

A pesquisa SAUVI, bem como o TCLE foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de

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