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Por que refletir sobre as próprias memórias de escolarização é importante para os professores?

Por:   •  16/3/2018  •  1.394 Palavras (6 Páginas)  •  327 Visualizações

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A identidade que constitui o docente vem, muitas vezes, de conceitos que se enraizaram desde os primórdios de sua vida escolar, a história do sujeito, antes, aluno e hoje, professor. Quando se passa por alguma situação adversa, o primeiro instinto é o de fazer dentro de si a busca de uma circunstância semelhante, um modo de agir que possa auxiliar para a resolução do fato.

Denice Catani, Belmira Bueno e Cynthia Sousa (2000) nos mostram em seu texto a complexidade da formação do eu:

O que existe é uma variedade de eus que emergem pela rememoração produtiva e sua interação (também produtiva) que têm lugar na vida cotidiana. Tais eus lembrados são, desse modo, “parte de nossa experiência fenomênica como indivíduos, formada e compartilhada nas relações interpessoais“ (I994, p. 55). É dentro de tais contextos, e especialmente pela narração, que os eus lembrados são construídos e reconstruídos. É no âmbito dessas discussões que Barclay ressalta o cará– ter adaptativo das memórias autobiográficas, ponderando que as memórias pessoalmente significantes são aquelas que carregam significados adquiridos em seus usos adaptativos, na maior parte das vezes, nas relações com os outros. Os outros são, dessa forma, referências imprescindíveis das nossas lembranças. Mas não apenas isso. Ao atuarem como espelhos, suas lembranças são por nós apropriadas, tornando–se elementos integrantes e inseparáveis de nossas próprias memórias. (CATANI; BELMIRA; SOUSA, 2000, p.168)

Escrever sobre nossas memórias pode agregar valor à subjetividade. Carrega a importância de se enaltecer a história que formou do aluno ao profissional, fazendo que este ao refazer toda uma trajetória tenha conhecimento de si e subsidio profissional quanto às suas influências ao longo do caminho. De forma que este possa aproximar-se do discente ao recordar as situações e sensações características do papel de aluno e poder colocar-se no lugar, ter uma ideia acerca do que possa estar se passando e de que forma em seu papel de professor, pode haver uma postura mais adequada para as necessidades dos alunos. Como o texto de Cynthia, Denice, Maria Cecília e Belmira (1996) nos apontam a profunda relação entre afetividade e identificação:

Essas lembranças de mulheres permitem observar que os sentimentos de afeto e desafeto desencadeados a partir da relação com as primeiras mestras não dizem respeito apenas às pessoas, mas também às coisas, aos objetos e aos valores que circulam no universo escolar. São sentimentos que emergem enovelados uns nos outros e por vezes ambíguos. De qualquer modo, permitem supor que são igualmente decisivos quanto ao tipo de relação que se estabelece ao longo da vida escolar, por exemplo, com os cadernos e a escrita, com os livros e a leitura, com o conhecimento e com cada disciplina. (SOUSA; CATANI; SOUZA; BUENO, 1996, p.73)

Refletir sobre as memórias de escolarização é um trabalho que exige esforço e é recompensatório pela importância e satisfação ao perceber-se que engloba o campo de conhecer a si mesmo, de sua formação escolar, pessoal, da importância de suas vivências e o contexto como sendo uma circunstância marcante. Daí a reflexão disso na sua vida profissional, sobre os “porquês” para a escolha da profissão docente, na forma como ensina, as característica que lhe são atribuídas, a maneira de ver e entender o aluno, a capacidade de valorizar o eu e suas questões, confirmando hipóteses ou não, significando e ressignificando conceitos, construindo e reconstruindo sentidos. Além de revelar a influência das relações sociais, e desenvolver uma visão critica, além da possibilidade de uma nova postura frente às questões postas.

Referências bibliográficas

CATANI, Denice B.; BUENO, Belmira A. O.; SOUSA, Cynthia P. de. “O amor dos começos”:Por uma história das relações com a escola. Cadernos de Pesquisa, nº 111, dezembro/2000.

SOUSA, Cynthia P. de; CATANI, Denice B.; SOUZA, Maria Cecília C. C. de; BUENO Belmira O. Memória e autobiografia: Formação de mulheres e formação de professoras. Revista Brasileira de Educação, nº 2, Mai/Jun/Jul/Ago 1996.

BRANDÃO, Vera M. A. T. Memória (auto) biográfica como prática de formação. Revista @mbienteeducação, volume 1, número 1, Jan/Julho 2008.

CUNHA, Maria C.; PORTELA, Regina L. Memória e formação: Fortalecimento e reconstrução da identidade de professores regentes da educação básica em um curso de pedagogia. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação. In: IV Congresso Ibero-Americano de Política e Administração da Educação, Eixo 4 - Formação dos docentes e dirigentes

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